quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Lepidosiren paradoxa

A hibernação é um estado letárgico pelo qual muitos animais endotérmicos, em grande maioria de pequeno porte, passam durante o inverno, principalmente em regiões temperadas e árticas. Quando as condições ambientais ficam adversas, os animais mergulham num estado de sonolência e inactividade, em que as funções vitais do organismo são reduzidas ao absolutamente necessário à sobrevivência. A respiração quase cessa, o número de batimentos cardíacos diminui, o metabolismo, ou seja, todo o conjunto de processos bioquímicos que ocorrem no organismo, restringe-se ao mínimo. Eclipsam-se. Fazem-se de mortos. Pode-se dizer que qualquer animal que permanece inativo durante muitas semanas, com temperatura corporal inferior à normal, está em hibernação, embora as mudanças fisiológicas que acontecem durante o letargo sejam muito diferentes, de acordo com as diferentes espécies.
Dos animais que hibernam, sem dúvida que a Pirambóia (Lepidosiren paradoxa) é um dos mais fascinantes. Este peixe colorido e achatado que mais parece uma lombriga ou outro qualquer verme, hiberna enterrando-se na lama, aguardando aí por melhores dias para voltar à vida. Pode passar longas temporadas atolado no lodo, despercebido, aparentemente morto e – surpresa! – assim que as condições estejam mais favoráveis para lombrigar, lá põe a criatura sua cabecinha de fora.

Nas últimas semanas tenho constatado que este nosso país está a ser atacado por uma praga de Pirambóias. Pessoas que nos últimos anos não viam futebol, não liam futebol e não falavam de futebol, saíram da lama. Libertaram-se de anos e anos enterradas no mais fedorento e sufocante dos lodaçais e ei-los agora verdadeiros entendidos da bola. É vê-los ufanos em conversas de café, a teclar sms’s jocosos, e a disseminar graçolas por e-mail. Deve ser certamente deste Verão que teima em não acabar. Um defeso sem fim.

Ah Pirambóias...da lama saíram, para a lama hão-de voltar.



segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A vacina

E pronto, começou hoje a administração das doses iniciais da vacina contra a Gripe A. Nesta primeira fase serão vacinados apenas aqueles que desempenhem funções essenciais ao bom funcionamento do país. Seguindo este critério, estão excluídos à partida o Primeiro Ministro, os membros do Governo hoje empossado e toda a oposição. Como sabemos, deles não depende o tal "bom funcionamento do país".
Quem esteja minimamente atento ao que vai escrevendo a nossa imprensa, transmitindo as nossas televisões e difundindo as nossas rádios, sabe bem que as primeiras doses da preciosíssima vacina estão reservadas para Jorge Jesus, Oscar Cardozo, Pablo Aimar, Javier Saviola e Angel Di Maria. Porque enquanto o Benfica for goleando não há desemprego, défice, lay-off, corrupção, Isaltino Morais, analfabetismo ou reumatismo que atinja este nosso Portugal.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Carta aberta a Jorge Jesus

Mister (posso tratá-lo assim? Tenho alguma dificuldade em escrever directamente para Jesus), eu sou um dos muitos adeptos que não ficaram nada felizes no final da época passada quando a imprensa o indicou como possível substituto de Quique Flores. Confesso que não acreditava no Mister (aqui funcionava melhor “Jesus”). Confesso que não lhe reconhecia qualidades suficientes para colocar as nossas papoilas saltitantes a praticar um futebol atractivo e com resultados. Hoje, depois de vários meses de trabalho, de uma dúzia de jogos e outra dúzia de goleadas afirmo que estou novamente insatisfeito. Ainda ontem, metade por culpa da hora do jogo, metade por culpa do trânsito, cheguei ligeiramente atrasado ao jogo e já não vi o primeiro golo. Tive que ir para casa correr os canais de televisão à procura do resumo. Felizmente, a festa do golo repetiu-se mais umas quantas vezes. Mas é aqui que reside o busílis da questão. Não sei se o mister está familiarizado com a Playstation, mas nesta consola é possível jogar on-line e quando uma das equipas começa a golear a outra, o normal é que o jogador que está a perder desligue a sua Playstation e mande o jogo a baixo. Assim, a forma mais prudente de jogar é carregar o adversário no máximo dos máximos até aos 3-0. Nada mais que isto. Pode parecer estranho, mas será que dá para ter uma conversa de pé de orelha com o Saviola e com o Cardozo? É que já se ouve nos corredores da Europa que o Benfica joga muito e não me admira nada que o Inter de Milão queira fazer uma permuta: o 11 inicial deles pelo nosso, coisa que só iria deixar felizes os adeptos do Sporting. Por isso lhe peço encarecidamente que coloque o Benfica a jogar um bocadinho menos. É só até ao Natal. E se os miúdos insistirem em marcar golos em barda, coloque-os de castigo. Se não, levam-nos os jogadores que é como quem diz, mandam-nos o jogo a baixo.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

5 Minutos

Não sei se isto também vos acontece, mas há programas de televisão que não consigo assistir mais do que 5 minutos. É a vergonha alheia que me faz mudar de canal. Estou a falar dos reality shows e afins que invadem a programação. Programas como os Ídolos, onde rapazes e raparigas tentam cantar, ou programas como Parental Control onde pais da 5ª Avenida enviam os seus filhos mimados para Marrocos durante uma semana apanhar excrementos de camelo para tentar que eles percebam o que custa a vida ou ainda jogos do Sporting, onde uma equipa tenta jogar futebol. A realidade deste tipo de programas consegue ser muito cruel. O pior é quando alguém tem a proeza de juntar dois destes universos num só programa. Parece-me claro que ver jogadores do Sporting em Marrocos até podia ser divertido, mas ver um adepto leonino nos Ídolos a tentar entoar um cântico da Juve faz a minha mão deslizar logo para o comando da TV.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Perdoa-os Senhor, pois não sabem o que dizem



Uns acreditam n'Ele, outros não. No entanto, a sua aura divina é inegável e não foram poucos os milagres devidamente comprovados. Diego Armando Maradona - D10S - apurou ontem a Argentina para o Mundial. No final, polémico como sempre, exortou os seus detractores - esses filisteus - a efectuaram-lhe uma série de práticas sexuais contra-natura. Agora chamam-lhe Diego Mamando Maradona.
Só Ele. Ele, a quem nós - comuns mortais - perdoamos tudo.


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Já não é o que era

Quando à sexta-feira o relógio marca 12:50, não é preciso dizer nada para ver a homenzarrada do serviço levantar-se dos seus lugares em direcção ao restaurante onde a mesa do canto reservada à temporada nos espera para “O” almoço. Um repasto onde só se aceitam doses individuais com mais de 2000 calorias bem regado com um ou mais Green Sands por cabeça e finalizado com um balão dilatador de artérias. Durante esta hora de almoço de duas horas e meia cumpre-se quase sempre a mesma agenda: fala-se de bola e de mulheres entre variadíssimos refluxos gástricos.
Esta sexta-feira tudo mudou. Ao fim da refeição reparei que se tinha apenas abordado temas secundários como política, crise e trabalho. Quando recuperei a minha sobriedade, por volta das seis da tarde de Sábado decidi analisar o sucedido. Foi então que constatei que para além de um adepto do Belenenses e um do Benfica (eu) , todos os restantes participantes eram adeptos do Sporting. Cá para mim, estes rapazes andam a desviar a conversa.

Eu cá não misturo política com futebol

O futebolista do Sporting Marco Caneira foi derrotado por 32 votos nas eleições para a Junta de Freguesia de Almargem do Bispo, no concelho de Sintra.
Se há coisa que me enoja é a promiscuidade tantas vezes observada entre políticos e agentes desportivos, fenómeno que repudio veementemente. Por isso, não vou aqui fazer qualquer tipo de especulação ou relação entre o cidadão aspirante a político local Marco Caneira e o futebolista Caneira. Da mesma forma, da minha pena jamais sairá qualquer teoria da conspiração acusando quem quer que seja pela derrota política do jogador.
Aqui fica a análise fria, objectiva e racional dos resultados eleitorais nesta freguesia:

Sporting: 39,41%
Benfica: 40,17%

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Valha-me Santiago

Lembro-me de em miúdo estar sentado à lareira com a senhora minha avó, comendo scones e bebericando Mariage Frères Jasmine Chung Feng (benfiquistas escusam de ir ao Google: é chá) fervido não mais de 30 segundos, enquanto discutíamos a nossa espiritualidade e eventual religiosidade. A minha avó era fortemente católica, praticante temente a Deus, que desde sempre me tentou juntar ao rebanho. Com grande pena dela, assim que a testosterona começou a circular nas minhas veias rapidamente se apercebeu que eu estava mais para lobo do que para cordeiro.
Dizia-me ela que eu era demasiado novo para perceber o papel determinante do Divino na minha pecaminosa existência. E jurava pela Nossa Senhora da Conceição que um dia eu ainda haveria de rogar ao Senhor por algo mais do que o roliço traseiro da Nela, filha da porteira do prédio do João Rui.
"Infelizmente, meu filho, só te vais lembrar de Deus no dia em que verdadeiramente precisares d'Ele. Só espero que não seja tarde."
Depois, fechávamos os olhos. Ela rezava uma Avé Maria e eu rezava para que os pais da Maria do 4º esquerdo nunca viessem mais cedo do trabalho.

Os anos passaram. A minha avó juntou-se ao criador e eu comprei um lugar por vinte anos no Estádio de Alvalade. Continuei a ignorar a minha espiritualidade e a renegar qualquer divindade para além da santíssima trindade Acosta, Jardel e Liedson. E a profecia da sábia geronte cumpriu-se.
Acabaram-se os milagres de São Liedson e esgotaram-se as aparições de auto-golos no último minuto. O povo sportinguista faz agora a sua travessia do deserto, às mãos do implacavel Bento que teima em lavar as mãos de qualquer responsabilidade, condenando-nos ao inferno que é assistir aquele futebol. E eu, desesperado, não encontrei outra saída senão apelar a Deus.
No estado em que a coisa se apresenta já nem uma ida a Fátima resolvia. Assim sendo fiz-me à estrada e apontei a Santiago de Compostela, a Liga dos Campeões da fé ibérica. Aí chegando, tomei conhecimento da tradição praticada pela população estudantil ao longo dos séculos. Segundo eles, quem for à Catedral e der uma ligeira cabeçada na base da imagem de Santiago terá protecção garantida para o ano lectivo.
Ninguém me soube dizer se a protecção se aplicava a uma época futebolística, mas não hesitei: entrei Catedral adentro, saltei com quantas forças tinha e cabeceei os pés do santo de cima para baixo como mandam as regras.
Apresento-me neste momento com dez pontos (de atraso) na testa, pespegado em frente à TV, esperando a aparição de Bettencourt a anunciar o milagre: Bento vai embora.
E como dizia a senhora minha avó "Só espero que não seja tarde".

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Vaticínio

Diz quem trabalha com Jorge Jesus e até mesmo quem já ouviu falar ou acha que pelo apelido deve conhecer alguém da família que o mister é um estudioso de bola. Ele sabe tudo sobre os adversários, as tácticas, os movimentos atacantes, os pontos fortes e fracos e até o tamanho das chuteiras dos jogadores. E a verdade é que ele provou isso mesmo dois dias antes do jogo com AEK, ao vaticinar o que iria acontecer na Grécia. De futuro vou prestar mais atenção às conferências de imprensa nas vésperas dos jogos.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Pergunta do dia

- 7 Maldito, porque é que não vais a Alvalade ver os jogos da Ligóropa?

- Sabes que quando nos habituamos durante uns anos ao sabor do lombo, dificilmente voltamos a comer pojadouro. Mas enfim, são hábitos e gostos, que como sabes não se discutem. Mas há quem só conheça o sabor do pojadouro e goste muito. Na zona de Carnide sai muito bem.