terça-feira, 30 de outubro de 2007

Crónicas do Sahara - Parte I

Inicio agora as crónicas que relatam a minha viagem à Líbia para vender este blogue, e todas as peripécias que a envolveram. Das negociações propriamente ditas às práticas ditatoriais do Coronel Kadhaffi, passando pela presença do futebol português além-fronteiras, teremos de tudo. Com a chancela de rigor, isenção e qualidade duvidosa a que o Impróprio para Cardíacos já habituou os seus 16 leitores, claro.



Cheguei a Tripoli e à minha espera no aeroporto estava um mar de populares e dezenas de jornalistas. Tanta euforia e tanta gente de bigode junta a urrar de alegria fez-me lembrar a chegada à Portela do ponta-de-lança norueguês Karadas. Procurei em vão pelo Barbas e Jorge Máximo.
Pela recepção, acreditei que a venda do Impróprio aos magnatas líbios do petróleo estava no bom caminho e não deixei de ficar surpreendido com o facto de um simples blogue sobre o futebol lusitano ter-se tornado num assunto de dimensão nacional naquela ex-colónia italiana.
Com a protecção dos agentes da autoridade entrei para o banco traseiro de uma vetusta limusine soviética, contemporânea de Nikita Krutschev (não, não era central do Lokomotiv de Moscovo…) que arrancou a fundo até um dos poucos hoteis de cinco estrelas da cidade. Escassos minutos depois estava sentado numa enorme sala de reuniões com mais de quinze pares de olhos ameaçadoramente apontados para mim. O gorduroso empresário arménio que intermediava o negócio ia traduzindo o que se dizia, segredando-me ao ouvido que tudo estava bem encaminhado e só faltava pôr o preto no branco. Daí a minutos estaria arabescamente rico, garantia-me.
Assinei onde me mandaram.
Depois, os acontecimentos precipitaram-se. Forçaram-me a vestir uma camisola de um clube que nunca tinha visto, com o número 7 nas costas. Logo a seguir abriram-se as portas da sala e irromperam os fotógrafos que durante largos minutos me fuzilaram com os seus flashes. O empresário escapuliu-se no meio da confusão. Voltaram a sentar-me na limusine e conduziram-me em alta velocidade até um enorme estádio, cinzento e de aspecto inacabado como um que existe na freguesia de São Domingos de Benfica. Corri por túneis e escadas até que cheguei a um balneário onde um treinador bigodudo me apresentou a um plantel igualmente bigodudo. Os Chalanas, Álvaros, Velosos e Pietras do magrebe receberam-me com desconfiança. Cada vez mais baralhado e assustado, subi com a equipa as escadas de acesso ao relvado. Uma multidão de 80.000 pessoas explodiu de alegria, gritando a plenos pulmões “Maldito! Maldito!”.
Já não havia margem para dúvidas. Confirmavam-se os meus piores receios. Fora vítima de um empresário trapaceiro, tal como os gestores da SAD benfiquista costumam ser. O bloguista lusitano tinha sido vendido como futebolista a um clube de futebol líbio, como são vendidas engenheiras electrotécnicas ucranianas a casas de passe portuenses.
O treinador bigodudo apontou lá para a frente, indicando-me a posição de ponta de lança. Não tive outro remédio senão acatar as ordens e posicionar-me onde me mandou. O resto, para quem já me viu a jogar futebol, não é novidade. Em apenas 15 minutos consegui bater o record até então na posse de Kikin Fonseca (e perseguido estoicamente por Djaló) de remates em rosca, falhanços de baliza aberta, cabeçadas ao lado e tropeções na bola.
Ao contrário do público lusitano, os líbios fervem em pouca água. Por isso, rapidamente teve início um ensurdecedor coro de assobios, que num ápice resvalou para um concurso de arremesso de toda a sorte de imundícies: cuspo, excrementos, aves mortas, cromos do Luís Filipe e títulos da Operação Coração. Mas o pior ainda estava para vir. Enquanto me encaminhava para a linha lateral agradecendo a Alá, Deus, Buda e ao Mago Alexandrino a substituição, 80.000 gargantas começaram a urrar em coro o pior insulto conhecido na língua árabe:

“Nuno Gomes! Nuno Gomes! Nuno Gomes!”

Que gozem com as minhas qualidades futebolísticas ainda vai, que me atinjam com lixo tudo bem, agora pôr em causa a minha masculinidade é que já me parece demais. Enganado, sem um dinar no bolso e perseguido pelo público enfurecido, escapei-me para o deserto.

(continua)

Redundemos

“Insultos ao presidente Luís Filipe Vieira e ameaças a jornalistas marcaram de forma negativa a Assembleia Geral Ordinária do Benfica”, diz a imprensa desta manhã.
Ora aqui está o exemplo cabal de mais um mau trabalho jornalístico tão característico dos nossos desportivos. Os anos já nos ensinaram que ao juntar 2 ou 3 mil sócios encarnados num pavilhão acontece tudo menos o Baile da Gala Anual da Cruz Vermelha de Monte Carlo. Acontecem agressões, acontecem insultos, acontecem rupturas de stock nos bares do estádio, acontecem fartas libertações de gases e acontecem cortes da 2ª Circular. Por isso, chamar Ordinária a uma Assembleia Geral do SLB não passa de uma mera redundância. Os nossos jornalistas podem e devem fazer melhor.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Só eu sei...

Quando o Sabry marcou aquele livre, eu estava na Costa Rica.
Quando o Manú deu a vitória ao Estrela da Amadora em Alvalade, eu estava na Tailândia.
Quando a Académica foi ganhar a Alvalade com um golo do Marcel eu estava na Jordânia.
Quando no ano passado o Aves empatou a zero em Alvalade, eu estava na Guiné-Bissau.

Hoje, ao chegar de duas semanas de viagem pela Líbia, assumo perante todos os sportinguistas as minhas responsabilidades pelos trágicos acontecimentos da última quinzena. Não é que eu seja supersticioso, mas parece-me evidente que contra factos não há argumentos. Prometo-vos caros consócios e simpatizantes, nunca mais me ausentar do país enquanto a época decorrer. Nem para ir atestar o meu Renault 12 a Huelva.
Assim sendo, hoje ao chegar ao Aeroporto da Portela, entreguei imediatamente às autoridades o passaporte nº G328781 que gentilmente me tinham emitido no dia 12/03/2002. Numa cerimónia simples reservada apenas aos mais próximos, o documento foi incinerado enquanto eu entoava a meia voz o "Só eu sei porque não fico em casa".

PROCURA-SE

Alerta-se a população para o desaparecimento de sua casa, deste blogue e de toda a blogosfera, de um lagarto verde. A última vez que foi visto foi na noite de sábado e apresentava um enorme melão no local da cabeça. Teme-se que após o resultado e exibição do Benfica, a cabeça tenha aumentado ainda mais de dimensão, atingindo já o tamanho encefálico do antigo futebolista Drulovic. O lagarto, vestia calções da melhor Lycra italiana, mais concretamente de Roma, umas meias de liga feitas numa pequena fábrica de indústria têxtil em Fátima e camisolas de angorá verde assinadas por Fátima Lopes.
Avisamos todos os populares para tomarem algumas precauções, o bichinho apresenta claros distúrbios bipolares, oscilando rapidamente entre a euforia pré-natal e a depressão natalícia; entre o discurso megalómano e a fuga cobarde; entre as poses eruditas e as birrinhas de mau perdedor.
O seu dono, uma criança benfiquista, garante que tinha o animal perfeitamente domado, educado e domesticado, e sofre bastante com o seu desaparecimento. Pede-se por favor a quem o encontre que contacte imediatamente as autoridades, reportando o seu paradeiro. Ajude este menino, lembre-se que todas as crianças têm o direito de brincar.
Dão-se alvíssaras.
Obrigado

A hora mudou

Apesar de no sábado à noite os dias terem encurtado uma hora, domingo o Benfica levou novamente os mesmos minutos para ver a luz: 87. Cardozo voltou a marcar, mas desta vez foi o simpático e sorridente Conguito a dar-nos a gloriosa alegria. Tal como o duplo sabor dos Conguitos originais, amendoim e chocolate, ontem o Conguito Adu também me satisfez duas vezes. A primeira, porque nos deu a vitória no jogo que considero ter sido o mais importante para o campeonato, até agora. A segunda, porque (mesmo que não tenha bebido as minhas diárias duas grades de Minis) há uma característica no Adu que me faz vê-lo do mesmo tamanho que o Luisão: a sua enorme humildade. Quando chegou ao Glorioso, “o prodígio norte-americano” começou por dizer que o Benfica tem 20 milhões de adeptos em todo o mundo. Ora, todos sabemos que este é um número bastante humilde. Mais tarde, veio humildemente dizer que jogava num dos maiores clubes da Europa, quando na realidade ele sabe que representa o maior clube do mundo. Ultimamente, tem tido a humildade de só jogar 10-15 minutinhos, porque caso contrário tenho a impressão que fazia um hat-trick por jogo.

Directamente do Camarote Presidencial do Impróprio, aplaudo de pé os jogadores encarnados que, apesar de terem sofrido um golo aos 8m e terem jogado uma hora com menos um, tiveram a garra e o querer benfiquista para almejarem a vitória. Aplaudo de pé Camacho que fez duas substituições brilhantes e várias alterações tácticas que nos valeram os 3 pontos. Por último, aplaudo de pé a chama imensa dos 45 mil familiares que ontem não foram o 12º jogador, foram o 11º durante uma hora e justificaram a titularidade.

Para me despedir, volto ao início do post e relembro para não se esquecerem que a hora mudou. Agora, é a hora do Benfica!

sábado, 27 de outubro de 2007

Mea Culpa

É verdade que desde as figuras tristes no final do Benfica-Sporting, a minha admiração por Paulo Bento ficou ao mesmo nível da que tenho por Purovic como futebolista. A partir daí, reconheço que escrevi quase tantas maldades sobre ele, quantas as que as suas substituições fazem à sua equipa. Mas agora, chegou a hora de me redimir, de dar o braço a torcer, porque sim, o homem também tem qualidades e méritos que devem ser elogiados.

Como o Benfica já jogou com as duas equipas, e eu vi os jogos, sei que tal como o Presidente do Nacional disse “são duas equipas do mesmo campeonato”. Como o jogo era na Choupana, atribuí naturalmente o favoritismo da partida ao Nacional. Por isso, fiquei surpreendido quando vi nos jornais de ontem, Paulo Bento afirmar: “O Sportén não vai perder 3 jogos seguidos”. Confesso que torci tanto o nariz a esta afirmação, quanto o que Carolina Salgado torcia o seu perante a flatulência de Pinto de Costa, amavelmente relatada no seu best-seller. A verdade é que, desta vez, eu estava engando e o Paulo Bento estava certo. Gostaria por isso, deixar de uma forma clara e inequívoca, os mais sinceros pedidos de desculpa pela minha desconfiança e, também, a minha renovada consideração pela sua pessoa. O Mister pode ter muitos defeitos, é certo, mas hoje mostrou que é uma espécie autóctone cada vez mais rara, é um homem de palavra. Como benfiquista, isso é uma qualidade que me ensinaram a admirar e a aplaudir.
Ao contrário do que Stojkovic fez após o polémico lance no Dragão, afirmo com coragem e de cabeça erguida:
Desculpe Mister, foi erro meu.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

E Óscar vai para...

... gooooooooooooooooooooooooooooooooooloo!
Passava o min 87, quando Di Maria faz um passe açucarado, Óscar mata no peito, cola na relva e com o canhoto venenoso faz o golo. O tribunal do 3º anel via fazer-se justiça à equipa encarnada e, em especial, ao avançado paraguaio.
Grande 2ª parte do Glorioso, com uma brilhante atitude dos jogadores e adeptos. Se foi Di Maria a fazer a assistência, foi mais uma vez a família benfiquista que fez a diferença. Minutos antes do golo, quando Cardozo manda a sua segunda bola ao ferro, o público começa a bater-lhe palmas, passando rapidamente para uma ovação de pé, dando-lhe a fé e força para ele fazer o golo. E ele fez. É por estas e por outras que o Benfica é o maior clube do mundo e ser benfiquista nos envaidece.
Quanto ao nosso adversário, aconteceu o que todos esperávamos. Veio para não perder, defendendo com os 11 jogadores e estacionando o autocarro à frente da baliza. Claro que já todos sabíamos que isto ia acontecer, o Celtic não é a única equipa que usa aquele equipamento e vem à Luz jogar trancada, com pânico do Glorioso e de fraldas às riscas verdes e brancas.

Meus amigos, com a vitória do Benfica ontem na Catedral e as derrotas do Sportén frente à Roma e aos pastorinhos de Fátima, posso-vos dizer que isto foi uma autêntica Semana Santa. Será que, para além da Páscoa, este ano o Natal também vem mais cedo?

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Os Anjos

Depois de ter sido esmagado pelo Fátima, o Sportén foi à cidade que alberga o Vaticano perder pelo mesmo resultado. O jogo foi fraco, entre duas equipas muito fraquinhas, orientadas por dois péssimos treinadores. O Sportén perdeu uma oportunidade histórica para vencer uma equipa italiana no seu reduto, algo que nunca terá sido tão fácil desde que Maria Armanda venceu uma equipa de gagos de Treviso no Festival Skim D’Oro de 1979, ao interpretar o tema “Eu vi um Derlei”.
Porém, nem tudo foram coisas más, deve-se destacar os lindíssimos penteados com que os jogadores se apresentaram em campo, havendo já convites, não para jogarem em grandes clubes, mas para desfilarem em grandes passerelles da Europa.
Gostaria de destacar as exibições de Tiago, fundamental no 1º golo da Roma, Tonel e Abel, fundamentais no segundo, Vukcevic que segundo alguns analistas esteve mesmo dentro das 4 linhas, Izmailov que pediu exílio desportivo no final do jogo e, claro, para Djaló que confirmou porque é que meio mundo anda a observá-lo: para se rir.
Gostaria de dar também os parabéns à inteligência de Paulo Bento, pelas suas brilhantes substituições na 2ª parte, a entrada de Paredes (estuda-se a possibilidade de mudar de nome para Tijolos), Purovic (expressão sérvia para definir charutada) e do homem que nos enganou a todos, Celsinho, (o rapaz que confirmou ontem não ser nada parecido com Ronaldinho Gaúcho, pelo contrario, o rapaz é física e tecnicamente igual ao Djaló) . Só houve uma pessoa no planeta que compreendeu estas substituições, e não foi o Artur Jorge, foi o roupeiro Paulinho, alter-ego de Paulo Bento e seu parceiro de longas noites de xadrez, onde aliás leva clara vantagem de vitórias sobre o Mister.
Em Roma, tal como na Luz e tal como em todos os jogos grandes, os jogadores do Sportén, muito por culpa do seu treinador, tremem que nem canas verdes. É pena, porque este poderia ter sido um passo importante para o Sportén passar à fase seguinte da Champions, mas infelizmente, parece que ainda não vai ser este ano. Apesar de terem o grupo mais fácil da Champions - com o Dínamo e Roma um pouco abaixo do nível do Fátima - creio que os adeptos do Sportén não devem desanimar. Os números estão aí, não enganam e devem mesmo motivá-los, senão vejamos:
Em 4 presenças na Champions, esta será somente, apenas e só, a quarta vez que isto vai acontecer. Como diz a música: “ É o Sportén, é o Sportén...”

sábado, 20 de outubro de 2007

A Missao

Caros Amigos,

E a partir da longinqua cidade de Ghat, no coracao do Sahara, a milhares de kms do quer que seja que vos escrevo, com dificuldade. Como grandes atractivos, esta cidade apresenta um duche e este computador, mais lento que o Cardozo.
No que diz respeito a venda deste blog aos investidores libios nao vou adiantar mais nada para nao prejudicar as negociacoes. Mas garanto-vos que nao vim aqui em vao!
Tal como Alvares Cabral levou o cristianismo aos selvagens do Brasil, aqui O 7 Maldito trouxe o Sportinguismo a estes bons nomadas do deserto.
Assim sendo, anuncio em primeira mao a abertura da Casa do Sporting do Sahara, congregando adeptos de Ghadames, Al-Aweinat, Ghat e Sebha. A sede e nomada, claro. Estou a assistir a uma vaga de fundo extraordinaria. Neste momento ja se inscreveram 6 touaregs, 4 beduinos e 2 berberes, radiantes pois o verde e a cor oficial do pais.
No entanto, tres dias depois vieram ter comigo e confessaram-me que sem adeptos adversarios para discutir nao tem tanta piada. Concordei. E ajudei-os a inaugurar a casa do Benfica do Sahara. Esta tambem a ser um enorme sucesso, a escala benfiquista. Ate a esta hora, ja se tinham inscrito 4 camelos, 3 dromedarios e um escaravelho das areias.

Um abraco para todos. Amanha desapareco para mais uma semana no deserto. A proposito, neste pais onde o alcool e proibido nao imaginam o que eu dava por uma cervejinha...se alguem ma vier aqui entregar (pode ser morna), dou 100 euros. Juro!

Aleikoum Salaam!

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Blackout

Eu sei que não parece, mas o Impróprio é feito por gente séria, com valores, princípios e uma escrupulosa conduta ética. Ora é por isso mesmo que acabo de decidir, num democrático sufrágio individual, que iremos entrar em blackout. Apesar de não estar cá, sei que o meu sócio me acompanharia a 100% nesta decisão e que a aplaudirá quando regressar do Harém de Kadhafi.
Recusamo-nos a emitir qualquer tipo de comentário a uma competição que se denomina Carlsberg Cup. Associar a prática de desporto ao consumo de bebidas alcoólicas, é algo que a nossa SAD considera intolerável e deplorável. Lamentamos que os dirigentes desportivos continuem a dar aos nossos jovens, estes maus exemplos e esta péssima imagem do futebol português. O nome “Carlsberg Cup” é de muito mau tom e, como tal, apelo para que todos os adeptos de futebol apoiem o Impróprio no boicote a esta competição.
Um dia que os dirigentes da Liga e Federação tenham a dignidade, e talvez sobriedade, para mudar o nome a esta competição, o Impróprio voltará a comentar a Taça da Liga.
Para que fique claro que esta é uma crítica construtiva, deixo uma ideia de um nome alternativo para a competição e que, ao contrário do actual, ergueria da melhor forma a bandeira dos elevados valores humanos e morais, inerentes à prática desportiva:
"Super Bock Cup"


Ao menos uma vez na vida, sejamos sérios senhores!


(Rapaziada, se não ganharmos o prémio com esta é porque aquilo está mais cozinhado que o sorteio de árbitros do Pinto de Sousa)

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O campino gaúcho

Confesso que nutro uma especial simpatia pelo Flávio Murtosa. Para começar, não sei se sabem mas o apelido Murtosa deve-se ao facto do seu bisavô ter emigrado para o Brasil oriundo desta terra, algures em Aveiro. Mas esta não é seguramente a única costela portuguesa de Murtosa. Por exemplo, aquele monumental bigode, ao melhor estilo dos bigodes da Beira-Alta, é um muito maior hino a Portugal do que aquele que os Lobos uivaram no Mundial de Rugby. Depois a sua pequena estatura, outro dos códigos genéticos nacionais e que justifica o claim de “pequenos mas tesos” que durante séculos os espanhóis sofreram na pele. Quando vi o Murtosa a saltar do banco aos 3m da 2ª parte, correr e apanhar uma bola para mais rapidamente os nossos jogadores a reporem dentro das 4 linhas, gostei muito, porque normalmente os treinadores só fazem isto a 3m do final. Mostrou que também é teso.
Já o seu sorriso é o de um bom português: simpático, humilde e verdadeiro, exactamente o oposto do Sr. Eng. (ou talvez não) Sócrates que tem um sorriso mais amarelo que uma fotografia de família do Yu Dabao.
Depois não há dúvidas, pelo menos para mim, que o Mister Murtosa tem sangue Ribatejano a cavalgar-lhe as veias. Uma pessoa olha para ele e é inevitável imaginá-lo vestido de campino. Está a imaginar? É ou não é um verdadeiro campino ribatejano? Parece que já estou a ver este pequeno D’Artagnan das Lezírias a galopar por aqueles campos fora, a picar toiros azeris e cazaques, acompanhado pelos seus 3 mosqueteiros de puro sangue lusitano: Deco, Pepe e, claro, o Makukula.
Creio que há também muito sangue Alentejano a correr nas suas veias, o que a ser verdade não estará a correr, mas sim a circular pausada e calmamente. Acredito que o Murtosa também é um pouco alentejano porque quando o filmaram no banco de Portugal, pareceu-me que ele estava ali com um sentimento de pertença que só tinha visto naqueles velhotes alentejanos que estão sentados nos bancos das suas terras. Havia ali qualquer coisa que dizia: “Daqui não saio, daqui ninguém me tira”.
Há também algo tradicionalmente Tuga em Flávio Murtosa. Quando Makukula faz o 1º golo o Mister é o 1º a saltar do banco a festejar, no que me pareceu ser um novo estilo folclórico que mistura 2 ou 3 passinhos do bailinho da madeira com o exigente corridinho algarvio. Absolutamente notável e aplaudível!
Creio que se tivesse sido o Murtosa a dar o soco ao sérvio, obviamente não tinha falhado e o castigo tinha sido uns 330 jogos de suspensão. Ao contrario do Scolari que soca como um transexual, de certeza que o Murtosa soca como um transmontano.
Baseado no que Fernando Pessoa escreveu sobre o profeta Bandarra, o Mourinho da Restauração de 1640, despeço-me fazendo esta pequena ode ao nosso conquistador do apuramento para o Europeu:
Se o Scolari diz que é português, então o Murtosa já pode dizer que é Portugal.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Mais um excêntrico em Portugal!

Caros leitores, para minha infelicidade lamento informar que ainda não são notícias do 7 Maldito e da OPA lançada pela família Kadahfi ao nosso querido blogue. No entanto, espero a qualquer momento a chegada de um telegrama a confirmar o negócio milionário. Caso a família Libanesa não se adiante, já temos contactos com um grupo de investidores chineses mas, cá entre nós, assim que eles me disseram que vinham da parte de um tal “Joe Belaldo”, começei a torcer o nariz ao sucesso da operação. Mas adiante, gostaria de felicitar o meu caríssimo rival pela sua iniciativa. Estou mesmo em condições de adiantar que a própria equipa e todos os adeptos o irão seguir imediatamente, naquela que será mais uma enorme e longa travessia do deserto. Da última vez, foi uma travessia de 18 anos e muitos quando voltaram a casa emocionaram-se ao rever as esposas e os filhos com 16, 14, 10, 8, 6, 4, 3 e 2 anos. E em alguns casos até gémeos de origem africana. Felizmente os métodos contraceptivos estão mais divulgados no nosso país, a educação sexual também e, deste modo, não se espera para já um novo Boom Benfiquista.

Mas então quem é o excêntrico, deverão estar a perguntar os benfiquistas, já que os mariquinhas dos sportinguistas largaram o post no final do último parágrafo, para ligarem às mulheres a perguntarem onde estão e dizer que as amam muito, muito, muito. Estimados familiares benfiquistas, devo dizer-vos que o excêntrico da semana é precisamente o nosso rival Sporting. Se ainda não tinha escrito é porque recuperava desta notícia. Vezes sem conta, confirmei a data no cabeçalho dos “desportivos” para ver se não datava o 1 de Abril. Não, não era. As manchetes foram bem claras : ”Villareal oferece 15 milhões por Djaló”. Assustadíssimo, repousei ao ler os subtítulos da mesma notícia: “Sporting recusa a oferta”. Não queria crer. Nem num, nem noutro. Como é que algum clube (incluindo os da Arábia Saudita e Koweit) pode oferecer 15 milhões por mais um coxo formado nas escolas do Sportén? Como jogador de futebol , admito que o rapaz tem dois talentos: é rápido e conseguiu inventar um novo conceito de futebolista, a margem de regressão. Normalmente diz-se que os jogadores jovens têm uma margem de progressão, mas este – que até nem começou mal – tem regredido a uma velocidade que atrás elogiei. O rapaz nem é mau, é péssimo. Está ao nível dos últimos grandes avançados do Sportén: Nalitzis, Koke, Motta, Alecs e até o Purovic, entre muitos outros.
Agora, como se este acto de gestão irresponsável e terrorista não bastasse, sucede-lhe outro. Os dirigentes leoninos recusaram esta oportunidade única, para embrulhar e despachar mais um produto defeituoso das suas escolas. Custa ainda mais compreender esta situação, quando a venda de jovens jogadores tem sido, precisamente, a única vertente futebolística onde até ganham qualquer coisa. 15 milhões pelo Djaló é um negócio irrecusável, mesmo que se tratem de 15 milhões de feijões, o valor actual da sua clausúla de rescisão e já considerado inflacionado pelo Chefe Vítor Sobral. Esta exagerada quantia, já dava para alimentar muitos meninos infelizes de Alcochete, e que até podem vir a ter algum talento que lhes servirá de passaporte para um novo clube, e assim, para uma vida mais feliz e gratificante. De certeza que o meu estimado sócio 7 Maldito arranja mais depressa uma proposta para vendermos o blogue por esse valor, do que o Sportén voltará a ter uma proposta semelhante para o Djaló. Se ainda fosse uma Super Bock fresquinha (desculpem lá mas a vida está bera e o prémio vinha mesmo, mesmo a calhar), eu ainda compreendia que os dirigentes recusassem. Assim, deve ser porque já lhes saíu o Euromilhões, com aquelas compras e vendas que começam agora a ser investigadas pelas autoridades. Começa a revelar-se que andam por Alvalade alguns excêntricos que em breve poderão ir fazer férias num dos locais que o Vale e Azevedo melhor conhece: o Estabelecimento Prisional do Linhó.


Só tenho pena que, ao contrário do que parece, o Kadahfi não seja dirigente do Sporting. É que são ainda mais excêntricos a fazer negócios do que os do Villareal!

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Vou ali e já venho

Escassos três meses após a sua fundação, o Impróprio para Cardíacos já disponibilizou mais de 50 posts e prepara-se para chegar à barreira mítica dos 5 mil visitantes. Ora, segundo o primo de um amigo nosso que trabalha em informática e que diz que sabe desta coisa dos blogues, era mais ou menos por esta altura que deviam começar a caír no nosso mail propostas milionárias de aquisição por parte de grupos financeiros nacionais, internacionais e oligarcas russos. Ou até mesmo da Olivedesportos (para nos calar). Os colegas dele lá do departamento de programação – malta que sabe como ninguém de Java e Cobol - chegaram mesmo a garantir-nos que, na pior das hipóteses orientávamos um programinha na SIC Radical às 3 da manhã e uma página por semana na Bola ou no Record. Juraram a pés juntos que lá para o Natal estávamos a lançar um livro. E que se tudo corresse muito, mas mesmo muito bem, a Super Bock lançava uma Edição Especial Impróprio (sempre a trabalhar para o prémio, sempre). Parece que é assim que as coisas funcionam nisto dos blogues. E eu e o Homem da Luz, com famílias para criar e prestações para pagar, acreditámos piamente, como o Mantorras acredita que um dia ainda vai voltar a jogar. Vimos neste blogue a luz no fundo do túnel, sem ser um comboio. Sonhámos com a independência financeira, com um T1 +1 na Praia da Luz com vista para a camioneta de exteriores da TVI e com uma garrafa de uísque escocês no Tamila.
Mas a verdade dura e crua como um falhanço do Cardozo, é que nada disto aconteceu. Eu e o Homem da Luz investimos neste projecto as economias de uma vida. Eu tive que comprar um portátil que me custou algumas três épocas de imperiais e bifanas. Cheguei mesmo a emigrar para Londres durante um fim-de-semana para conseguir financiar um blogue que, vejo agora, dá mais prejuízo que a SAD do FCP. Confirmámos da forma mais dolorosa que de facto Portugal não sabe reconhecer, e muito menos pagar, os seus talentos. A emigração apresenta-se como a única saída.
Desesperado, vejo-me na obrigação de fazer como o Manuel José e o Nelo Vingada e rumar às arábias. Assim sendo, nas próximas duas semanas estarei afastado do blog. Um empresário amigo que não quer ser identificado recomendou-me uma viagem até à Grande Jamayria Árabe Popular Socialista, vulgarmente conhecida como Líbia. Diz que lá o Impróprio tem mercado. Assim sendo, tenho avião marcado já para este fim-de-semana. Uma vez lá chegado, depois de me perder no Sahara profundo nuns dias de férias, espero vir a encontrar-me com a família Kadhafi, confessos amantes do desporto-rei (se bem se lembram, o filho até já “jogou” no Perugia, e são um dos maiores accionistas da Juventus), e como tal capazes de reconhecer o devido valor deste “blogue-rei”. Deles, não espero menos que uma avalanche de petrodólares directa às nossas contas bancárias.
Nestes 15 dias estarei totalmente desligado do mundo, sem net, telefone, água canalizada ou sequer electricidade (não, não vou para casa do Petit). Mas se olharem para o calendário futebolístico, a ocasião não podia ser melhor. Até à data do meu regresso só há jogos da Selecção e, no caso do meu Sporting, um “joguinho” para a Champions em Roma, que certamente não será bonito de comentar… Nada acontece por acaso, meus amigos!
Nestes 15 dias o Homem da Luz ver-se-á obrigado, tal como Afonso Martins há uns anos, a jogar sozinho contra a parede. Sem o Princípio do Contraditório poderá recriar-se sozinho com o esférico e bater recordes de toques como se estivesse no pontão da Costa da Caparica.
Prometo voltar em força, assim o queira Alá.
Aproveitem bem estes dias, porque eu – com a vossa licença – vou ali e já venho.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Para a História

Na sua edição de hoje, o jornal “A Bola” foge mais uma vez ao sensacionalismo barato e imprime a quatro cores uma verdade histórica indesmentível, pela voz do seu protagonista. Em corpo de letra 108, o guardião sérvio leonino Vladimir Stojkovic grita alto e bom som para quem o quiser ouvir: “Eu não errei no Dragão”.
Claro que não amigo Vlad. Não te preocupes mais com isso, pá. Quem errou foi quem te contratou e quem te põe a jogar, mas isso são outros trezentos.
Eu, que sou um apaixonado pela História e seu estudioso nas horas vagas (todas aquelas em que não estou a ver futebol), rebusquei nos meus canhanhos (……pausa para irem ao dicionário……), consultei uns fascículos da Planeta Agostini e encontrei uma série de declarações históricas na mesma linha. Verdades que o tempo veio a provar indesmentíveis, e que agora partilho convosco. Alguns segundos para o Prof. José Hermano Saraiva que há em mim:

“Não há soldados americanos em Bagdad” – Ministro Iraquiano da Informação
“Não faço ideia onde é a Sibéria” – Josef Estaline
“Não conheço nenhuma menina Lewinsky” – Bill Clinton
"Não tenho dúvidas e raramente me engano" - Prof. Aníbal Cavaco Silva
“Não conheço ninguém na Bragaparques” – Carmona Rodrigues
“Não tenho nada a ver com o Futebol Clube do Porto” – José Veiga
“Não troquei favores sexuais por tacinhas de Magos” – Carolina Salgado
“Não bebo” – Manuel Vilarinho
“Não bebo” – Eusébio
“Não bebo” – D. Alcina, 78 anos, funcionária administrativa do SLB
"Não sou coxo" - Pedro Mantorras
“Não me dopei” – Nuno Assis
"Não me cheira" - Claudio Cannigia
"Não vi" - Pedro Henriques
"Não falho" - Óscar Cardozo
“Não sou homem” – Leonor Pinhão
“Não gostamos de Sagres. Só bebemos Super Bock” – Editores do Impróprio para Cardíacos, sempre, mas sempre a trabalhar para o prémio.

Arquive-se este post e guarde-se na Torre do Tombo, para memória futura.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Os Marqueses de Sade

Com que então pensavam que o Homem da Luz andava tão desatento aos acontecimentos desta jornada quanto o árbitro do jogo de Alvalade? Não meus senhores, ao contrário do que Jorge Sousa mostrou sábado à noite, eu não fecho os olhos às faltas. Confesso que não tenho o costume de ver os jogos do Sportén - gosto demasiado de futebol para essa tortura - e só domingo vi o lance do 1º golo. O riso que elas me provocaram só foi ultrapassado pelas gargalhadas que soltei ao ver o Exmo. Dom Visconde de Soares Franco a calcar o batatal ao intervalo, ali para todos os sócios e imprensa verem bem o seu empenho em terminar este calvário natural. São imagens com um nível de demagogia populista que só temos oportunidade de ver ao domingo por um dirigente sportinguista, ou em campanha eleitoral por um político do PP. Aliás, confesso que imediatamente depois destas imagens fiquei, por alguns minutos, em estado de choque. Aterrorizado, lembrei-me que o último presidente do Sporting, que também era diplomado em demagogia popular, foi a seguir Presidente da Câmara de Lisboa e, para espanto de todo o mundo civilizado, ainda chegou a Primeiro-Ministro. Confesso que só de imaginar Soares Franco a ter o mesmo percurso fui assolado por uma vontade indómita em naturalizar-me iraquiano, albanês ou kosovar.

Mas voltemos ao lance caricato (no mínimo) e surrealista (no máximo) que aos 60m de jogo, empurrou o Sportén para o 1º golo, e consequentemente para a vitória. Se na 1ª parte o Sportén fez o 1º e único remate aos 43m, na 2ª parte só com a ajuda do árbitro aos 60m, o Sportén consegue chegar à baliza do Guimarães, que segundo as crónicas de todos os jornais dominava em absoluto a partida. As imagens já todos vimos, mas muito melhor foram as declarações de todos os sectores leoninos apelidando o caso de “duvidoso”. Hilariante? Não, eu próprio quando vi as imagens também fiquei com bastantes dúvidas. Fiquei com dúvidas se o árbitro foi corrumpido, ou se por outro lado, foi comprado. Não sei, é duvidoso. Fiquei com dúvidas se aquilo era luta greco-romana (eu sempre desconfiei que os sportinguistas jogam de maiô, na volta também é rosa!) ou um ritual montenegrino para agarrar porcos. Não sei, é duvidoso. Fiquei com dúvidas por constatar que depois dos 2 últimos jogos no Batatoon XXI - 1º um penalty claríssimo a favor do Setúbal e depois com este lance - se os sportinguistas são os cruzados da verdade desportiva ou os talibans do futebol. É claro que as respostas a estas perguntas já todos sabemos, porque vemos esta vitimização há mais de 10 anos. Às vezes, admito que dá pena, dá mesmo muita pena. É que eles interiorizam isto de tal maneira que chega a parecer acreditarem mesmo que são perseguidos. Ora eu, como tenho bons amigos do Sportén, custa-me ver um amigo enlouquecer por razões que se afastem em demasia de um excelente par de mamas. Estou até convencido que em grupo, os sportinguistas acreditam que comparado com o que os árbitros lhes fazem ou fizeram, o Holocausto não foi nada. E isto não sou eu a exagerar, são palavras do Paulo Bento que em conferência de imprensa após o jogo, onde confirmou já ter visto o lance na tv e disse que na opinião dele o lance era duvidoso e que ainda assim as arbitragens lhe estavam “credoras” (a palavra é dele), isto é, a dever penaltys. Esta última frase é a minha preferida, porque confirma que há aqui negociata – a palavra credora não deixa dúvidas- e que a honestidade desportiva leonina está ao nível da dos famosos gémeos Calheiros. Eu não sou médico, mas parece-me doentio que um treinador de uma equipa depois de ter sido claramente beneficiado, venha no final do jogo se fazer de vítima e pedir “Só mais um penaltyzinho, vá lá, só mais um, vá lá, é o último! Olha que eu choro e berro em directo!! Olha que eu sou doente dos nervos!!!”

Por outro lado, quando no final do jogo em Leiria -em que o árbitro e comparsas tudo fizeram para o Benfica não ganhar - pediram ao Rui Costa para ele comentar a arbitragem. O Maestro que é filho de gente humilde e faz parte das escolas do clube dos bêbados, taxistas e arruaceiros, disse: “Se não falei sobre o jogo da Amadora, também não vou falar sobre este.” Ora aqui está algo que tem menos raizes em Alvalade do que o próprio relvado, chama-se coerência e dignidade. Infelizmente, e ao contrário do Doutoramento e Mestrado em Vitimização Histérica, parece que estas duas disciplinas não se ensinam - e muito menos se praticam- na Escola de Alcochete. É pena, porque são valores fundamentais no desporto e que poderiam evitar a comparação dos sportinguistas com aquele arquétipo da infância de todos nós: o menino rico e mimado, dono da única bola de futebol para a malta jogar, que com mau perder impunha regras novas a cada 5m e quando perdia ia amuado para casa a chorar e, na maioria das vezes, ridicularizado com gozo pelas restantes crianças.

Como diria o professor Marcelo destes meninos:
“20 valores em vitimização, 0 valores em comportamento. Vão ter de levar tau-tau.”

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Amor e uma cabana sem SportTV

É em fins-de-semana como este que passou que se põe à prova a solidez de uma relação, o ajuste do tacho à sua tampa, a solidez do encaixe das duas peças que fazem esse belo puzzle a que chamamos amor.
Nestas coisas de fins-de-semana compridos, os elementos do casal têm regra geral abordagens diametrialmente opostas (repararam como em apenas um parágrafo passámos do romance piroso “à lá” Margarida Rebelo Pinto para a física quântica “à lá” Steven Hawkins? É com estas fintas de corpo literárias que pretendemos ganhar o prémio da Super Bock, meus amigos!).
Retomando: se eu já contava ir a Alvalade no sábado à noite ver o jogo com o Vitória de Guimarães, antecedido de uma 6ª feira inteira de estágio (com tempo para ler todos os jornais desportivos, todos os sites desportivos, a FHM, a Maxmen e a GQ), e seguido de uma opípara jantarada com a rapaziada, a minha senhora tinha outras ideias:
“E se fôssemos para um Turismo de Habitação no Alentejo, só nós dois? Os miúdos ficam com a minha irmã, e a tua mãe...podemos deixá-la no Vasco da Gama e apanhamo-la no Domingo...” – sugeriu
“Este mês não dá jeito...ainda estamos a pagar à Cofidis a semana de Agosto em Quarteira e o fervedor de biberões” – respondi assustado
“Eu tenho umas economias” – contra-atacou, letal
“...hmmm...a carrinha não tem a inspecção feita!” – disparei, julgando-me safo
“Já combinei com a minha prima Célia e ela empresta-nos o Seat do Ruben” – bola para um lado, eu para o outro.
Assim fui inapelavelmente batido, e quando dei por mim já estava algures no Alentejo profundo, no Seat do Ruben, para lá de Beja, rodeado de vacas e aves barulhentas, sem rede, sem net e sem SportTV. E um homem sem SportTV é como o Chalana sem os seus pombos…
Por entre muito passeio – ai tanta planície verde e ninguém a jogar à bola... – tive que engendrar um esquema para conseguir ver ao menos o meu Sporting. De Beja, pouco mais conhecia além da Carla Matadinho (tudo começou com um mail intitulado “Viva Beja!”, lembram-se?), até que ao passarmos perto do castelo, enquanto a patroa se demorava nas bancas de frutas e verduras, vi o restaurante D. Dinis, já referenciado por um olheiro das lides gastronómicas. Entrei e depressa constatei que estavam abertos à noite e que – é nestas alturas que acredito em Deus - tinham todo o software e hardware necessário para matar a minha fome de bola. Sem entrar em grandes detalhes, comuniquei à minha cara-metade que já tínhamos mesa marcada no tal restaurante de que nos falaram. 20h30 – vá-se lá saber porquê – era “a única hora em que tinham mesa para nós”.
Horas depois, já no restaurante, o “sistema” começou a fazer-se sentir. 20h20 e a TV ainda no noticiário da SIC. 20h26 idem. 20h30 mudam finalmente de canal...para a TVI. Chamo o empregado. “Sabe amigo, é que vim aqui mesmo de propósito para...”. Volta à caixa, troca umas graçolas com o colega, olham para mim, e nada. Faço-lhe sinal ao longe. Nada. Finalmente lá se digna a pôr no jogo. Eram 20h40 e já se jogava à dez minutos. A sala cheia de comensais nem levanta os olhos das migas. Era óbvio que estava em terreno hostil. Os poucos que espreitam o jogo começam com piadas ao relvado. O Yannick é titular. O Stojkovic ainda caminha pelos seus próprios meios. Nada corre bem.
A primeira parte foi altamente indigesta. Felizmente já estava meio anestesiado por um excelente tinto Monte da Peceguina de 2005, senão não teria sido tão cordato quando ao intervalo o empregado se acerca da mesa e pergunta com ar trocista:
“O seu Sporting, estava bom?”
“Quase tão bom como o seu porco preto, obrigado”, respondi com sorriso à Estoril-Praia.
Foi a gota de água. Pedi a conta e decidi para espanto até da minha mulher, que já não havia mais futebol para ninguém. Voltei para o monte isolado, sem rede e sem SportTV. Dormi mal.
Só na manhã seguinte vim a saber que ganhámos 3-0, e que o Tonel manteve acesa a luta com o Nuno Gomes na corrida para 34º melhor marcador da Liga. E eu não vi nada disto.
As coisas que um tipo faz por amor. No próximo fim-de-semana comprido com jogo em casa a meio, juro que faço como o Fábio Coentrão: atiro-me para o chão e finjo uma apendicite!

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

SuperBlog Awards: Encomendem as faixas

Como poderão reparar pelo logotipo de dimensões exageradas aqui à direita, o "Impróprio" é oficialmente candidato aos "SuperBlog Awards", que tal como o trocadilho ao melhor estilo das capas do Record indica...é patrocinado pela Super Bock e visa premiar os melhores blogs.
Ora como todos sabemos futebol é cerveja, cerveja é futebol e vice-versa. Assim sendo, não vemos razões para a marca de Leça do Balio não nos dar já como vencedores antecipados deste grande certame. O prémio para o blog vencedor consiste num cheque da Worten no valor de 3000€. Ora, em reunião extraordinária da SAD deste blog, decidimos prescindir dos electrodomésticos. Preferimos converter esta verba em cervejas e partilhá-las com os nossos leitores. 3000€ a dividir por 75 cêntimos/garrafa dá 4000 cervejas, que dividindo por cerca de 16 leitores (são 17, mas a mãe do 7 Maldito deixou a bebida) prefaz umas 250 per capita. Ou seja, quase o suficiente para um fim-de-semana bem passado em frente à SportTV mais hora e meia a aturar o Rui Santos na SIC Notícias.
Ainda não está na hora de votar. Quando estiver, aqui a gerência centra o link confiando no vosso remate certeiro.

O 7 Maldito
Homem da Luz

sábado, 6 de outubro de 2007

Há coisas incríveis, não há?

A tarde começara bem, com umas cervejinhas num dos meus locais preferidos da cidade, o chamado Centro Comercial da Praça de Espanha. Para quem não o conhece, é um conjunto de pré-fabricados ocupados por emigrantes de todo o mundo e onde se podem fazer os melhores negócios da capital. Estaciono sempre por ali o carro para apanhar o metro, e desta vez até tínhamos tempo para beber umas jolas. Escolher a tasca foi fácil já que uma delas tem um enorme mastro onde esvoaça um bandeira do Glorioso. Mini na mão, fui falando e conhecendo a dona do estabelecimento e os restantes clientes. Travei amizade com um velhote, o Sr. António que me invejava por ir ao jogo. Há muito que o seu cardiologista o tinha proibido de ir à Catedral. Naquele momento ainda nenhum de nós desconfiava, mas Sr. António se fosse agora já lhe podia dizer que há males que vêm por bem. Enfim, o Sr. António é um daqueles cidadãos com a mais alta condecoração que se pode almejar nesta vida: sócio vitalício do SLB. Por isso, explicou-me que tem direito a um bilhete para todos os jogos e que faz questão de exercer o previlégio. Com frequentes pausas para respirar, contou-me que normalmente oferece o bilhete ao genro, mas que daquela vez ele não podia ir. Geraram-se 3 segundos de silêncio e o Sr. António perguntou-me: “quer o bilhete?”. Agradeci bastante a sua generosidade e disse-lhe que já estava credenciado, acrescentando que seria de facto uma pena ninguém o aproveitar. O Sr. António concordou comigo. De novo 3 segundos de silêncio, e eu pergunto-lhe “ Porque é que não oferece o bilhete a algum destes senhores?”. “Pois é” e imediatamente lança o convite no ar: “Alguém quer um bilhete para o jogo?”. Desta vez o silêncio pareceu-me maior do que 3 segundos. Ninguém respondia, até que de repente ouvimos “Se ninguém queri, eu queru”. Tinha para aí uns 50anos, boa pinta e, pouco depois percebi, ucraniano. “Queres ir Yuri? Mas não és do Shaktar pois não?” perguntou o Sr. António. Percebi que o Yuri também fazia parte da família, e ao assegurar que não era do Shaktar, o Yuri acabava de ganhar o seu bilhete. Contou que não era grande adepto de futebol, mas que como era uma equipa da sua terra gostava da ir ao jogo. Houve uma clara alegria geral pela situação, com vários urras ao Yuri e aos quais ele respondia com gargalhadas. O feliz contemplado parecia isso mesmo, feliz. Tornou-se o centro da minha atenção e falámos durante uns bons 20m. Contou-me a sinopse da sua vida, ex-infermeiro, de dia trabalha na Netcabo e à noite é segurança, ficará por cá até ter dinheiro suficiente para voltar e construir uma casa no campo. Heis senão quando chega a hora de arrancar para a Catedral. Digo que vou andando e pergunto se ele quer vir, ao que responde “Cum muito gosto”. Eu respondo que o gosto é meu, trocamos mais uns simpáticos galhardetes, despedimo-nos de todos - com especial solenidade do Sr. António - e dirigimos-nos para o túnel de acesso ao relvado.Neste caso, o metro.

E é aqui meus senhores que esta história muda de destino. Sem saber que aquela boca do metro iria ser mais perigosa, do que a célebre boca do túnel das antas aqui há uns anos. E eu ainda não sabia que iria sair da boca do metro, pior do que o César Brito saiu da boca do túnel da Antas na tarde em que marcou os dois golos que nos valeram um campeonato. Estava a chuviscar em Lisboa e, quando me vou a fazer ao lance de escadas, ponho o pé em falso, escarrego e caio com um aparato muito semelhante ao das simulações de penalty do Liedson & CIA. Claro que como benfiquista, a minha não foi simulação e as memórias dessa noite acabaram-se junto àqueles degraus. Quando voltei a mim, estava num quarto que me era estranho. Lençois de cetim, espelhos no tecto e paredes laterais, cama redonda, enfim uma daquelas casas a que todos os homens, independemente do seu clube, chamam de ataque. A cabeça doía-me. Oiço uma voz, “Comu eztá o meu amigú?”. Era o Yuri e disse-me que perdi os sentidos com a queda e que me tinha levado para ali porque não sabia para onde me levar. Explicou-me que é ali que trabalha como segurança, “uma casa di mininas preciza sémpre de siguranza.” Perguntou-me como me sentia e eu respondi que sentia um enorme galo na cabeça. Daí, até descobrir que nessa noite não tinha sido eu o único a ter galo, foi um instantinho. Perguntei-lhe quanto tinha ficado o jogo. Ele respondeu. Primeiro pensei que fosse uma brincadeira, e quando passado bastante tempo percebi que era verdade, perdi novamente os sentido como é óbvio.
Voltei a mim e, para minha gloriosa surpresa, a presença do Yuri tinha sido substituída pela presença de 3 deusas do Leste. Só entre nós, amigos da bola, digo-vos que aquelas meninas começaram avançavar para mim como se eu fosse o Cristiano Ronaldo. Enquanto se despojavam de todas as peças de vestuário, apresentaram-se como sendo a Anastasia, a Yana e a Svetlana. Disseram que eram amigas do Yuri e, dentro muito em breve, seriam minhas amigas também. Sinceramente, já as estava a achar aquilo do mais amistoso que vivi nos últimos anos, só nunca pensei é que podessemos ficar tão íntimos. A partir daí o que ocorreu naquele quarto espelhado não se enquadra num blogue como o Impróprio, mas sim num blogue do Dr. Júlio Machado Vaz ou da Dra. Marta Crawford, caso o tivessem é claro. Como não têm, só irão ser revelados na altura do lançamento da biografia do Homem da Luz e que irá conter pormenores da sua glamorousa, excitante e admirada nos 4 cantos do mundo, vida sexual.
Até lá, só vos digo que, ao contrário do Benfica, facturei 3 saborosos pontos que se prolongaram até sábado de madrugada - já se sabe, os benfiquistas são assim!
Quando tudo terminou, as raparigas dormiam com sorrisos maiores do que os adeptos do Shaktar e garanto-vos que não eram menos merecidos. Já vestido, encontrei juntoa às minhas roupas um cartão da Netcabo, tinha o nome do Yuri e uma frase escrita: Há coisas incríveis, não há? Levantei o olhar do cartão, fixei a cama com as 3 miúdas, sorri da piada e saí.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Uma questão de princípios

“Prevejo um post BOMBA!”, escreveu-me um
“Para quando a estocada final?”, teclou-me outro
“Estou a estranhar o teu silêncio”, ligou-me mais um

Gostava de esclarecer aqui uma coisa: desde tenra idade que os meus pais (que não gostam de futebol) me incutiram uma série de princípios morais e sociais que ainda hoje regem o meu comportamento e a minha conduta.
Quando ainda criança passava pelo aleijadinho do metro lembro-me da minha mãe dizer “7, não gozes com o senhor. Ele não tem culpa de ter nascido com aquele problema”.
Quando passava pelo tontinho na Baixa, o meu pai avisava-me “não troces do senhor, 7. Teve um desgosto na vida que o deixou assim”.
Quando nos cruzávamos com os canitos famintos e sarnentos, a senhora minha mãe retirava-me a pedra da calçada da mão e alertava-me “já viste 7, como os pobres animais estão fracos e debilitados? Não os castigues ainda mais.”
E quando passávamos perto do vizinho Estádio da Luz em tarde de jogo e eu apontava para os adeptos encarnados, obesos, de nariz ruborizado e falando uma linguagem que eu não compreendia, lá ouvia os meus pais “não te rias dos senhores, 7. Já é azar suficiente terem nascido do Benfica”.

Hoje amigos, para desgosto dos mais truculentos, os sábios ensinamentos dos meus progenitores falam mais alto.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

A noite em que a Lua dançou

Se há uns anos, centenas de portugueses viram o sol dançar no céu durante o aclamado Milagre de Fátima, ontem menos de 6 milhões viram a Lua dançar no já baptizado: Milagre de Kiev. Mas se pensam que foi este inusitado fenómeno cósmico que fez Carl Sagan sair de órbitra da sua túmula, estão muito enganados. O verdadeiro fenómeno de raridade universal é bastante superior ao bailado lunar: o SCP venceu na Champions e, pela 1ª vez no seu historial, este estranho fenómeno aconteceu fora de casa! Este sim, é já considerado o maior milagre para as religiões Católica, Muçulmana, Hindu, Protestante, Budista, Ortodoxa, Mórmon, Pagã e para as Testemunhas de Jeová que, nunca tinham testemunhado nada assim e preparam já uma edição especial da revista “Despertar” dedicada a este estranhíssimo acontecimento.
A razão deste histórico aperto de mãos entre religiões, prende-se também com a sucessão de milagres testemunhados em 90m e capaz de fazer qualquer ateu ir de joelhos a Kiev e voltar.
Atentem:
· Subida das equipas ao relvado onde o Dínamo de Kiev apresenta um 11 que só por um milagre são jogadores de futebol e não emigrantes no nosso país onde representariam as cores da Somague.
· Min 5: Ainda nenhum jogador do Sporting simulou um penalty ou fez beicinho para as câmeras.
· Min 14: Tonel entra de pé-em-riste sobre o ladrilhador ucraniano, perdão guarda-redes ucraniano, o ladrilhador soca a bola que bate na cara de Tonel e entra. Estranho? Então é porque ainda não viram as imagens deste milagre.
· Min 27: Milagre, milagre, a equipa do Dínamo consegue fazer uma jogada e contra todas as leis físicas marca um golo. Pedreiros, ladrilhadores, carpinteiros, betoneiros e electricistas festejam no relvado como se tivessem acabado de construir a 3ª ponte sobre o Tejo.
· Min 37: Ricardo Voz-de-Leão faz uma aparição na baliza do Dínamo, sai a um centro rasteiro como só ele sabe fazer, a bola evidentemente sobra para a equipa adversária onde surge Polga, e sim pasmem-se, faz um golo!! Milagre, Milagre, o homem não marcava um golo há 7 anos, tendo sido o último num jogo em Maceió contra o Juventude da Cachaça. Por esta altura, já todos os grandes líderes religiosos se recolhiam em oração afim de receberem explicações dos seus superiores.
· E os milagres continuaram noite fora: Stojkovic fez boas defesas, o que todos sabemos que só pode ter acontecido por milagre; os jogadores do Sporting aguentaram mais 45m sem simularem penaltys nem fazerem birrinhas com o árbitro; o Paulo Bento fez substituições que normalmente levariam uma equipa a sofrer pelo menos um golo, mas que por manisfesto milagre não aconteceu; o Dínamo sufocou o Sportén nos últimos 15m, criou situações de golo que até o Nuno Gomes seria capaz de concretizar, mas que por milagre nunca aconteceu.
· Terminaram os 90m e só por um grande milagre é que este jogo foi da Champions. Parecia do mesmo nível dos jogos que eu costumo jogar à 2ª com uns amigos em Caselas, sendo que as únicas duas diferenças que encontrei foram que este foi jogado em Kiev (que por acaso é um bocado fora de mão para nós, malta casada e com filhos, saímos tarde do trabalho, etc) e jogou-se à 3ª (e nós temos medo de, como já temos campo marcado à 2ª, chegarmos a Kiev e estarem outra vez uns coxos a jogar)
· Registo ainda para o milagre de não termos visto Paulito Bento, os seus jogadores e dirigentes, os heróicos cruzados da verdade deportiva e insenção da arbitragem, a criticarem o àrbitro e fiscal-de-linha depois de terem sido beneficiados no seu 1º golo. Parece que quando iam criticar o árbitro por, aparente milagre, não ter assinalado um claríssimo pé-em-riste, aconteceu um novo milagre onde as luzes se apagaram, as câmeras ficaram sem baterias e os microfones derreteram. Porém, ainda estou em crer que à chegada à portela - onde serão recebidos por milhares de fiéis incrédulos – os cruzados da verdade desportiva irão criticar veemente o árbitro neste lance, porque são pessoas de bem, altruístas e com um enorme sentido de missão desportiva, o que aliás tem sido bastante claro ao longo dos últimos anos.

Gostaria de me despedir, deixando os parabéns à equipa do Sportén e desejando que todos os adeptos saboreiem bem este momento. É que nunca se sabe quando voltará a acontecer um novo milagre, nem muito menos se o Sportén voltará a jogar mais uma vez na Champions, o que a acontecer, seria um não inferior milagre ao que todos vimos ontem à noite.
Gostava muito que o Benfica tivesse no seu grupo uma equipa tão fraquinha quanto a do Dínamo e que é bastante pior do que a do FC Copenhaga. Infelizmente não tem, mas ao menos vamos ver jogos da Champions, e não jogos de Caselas. Depois de tantos milagres, sigo já para a Catedral mas 1º páro nas roullotes. Bebem alguma coisa ou continuam na água benta?

terça-feira, 2 de outubro de 2007

A gravata

Regra geral passo os fins-de-semana fora de Lisboa. “Aposto que tens uma herdade para onde vais caçar raposas a cavalo enquanto os trabalhadores agrícolas morrem à fome, tal como fazem todos os lagartos betinhos e milionários”, já devem estar os benfiquistas a bramar. Não, por acaso não. Costumo ir algures para a zona Oeste que, contrariamente ao que reza a lenda, cada vez tem mais benfiquistas. Exactamente por causa desta inflação vermelha, decidi não acompanhar o clássico do fim-de-semana no café onde sempre vou, apesar do proprietário ser sportinguista dos quatro costados. Até porque das últimas vezes que lá vi jogos do Sporting a coisa não correu bem. E como se sabe, nestas coisas é muito mais fácil pôr as culpas em cima do azar que o café dá do que na táctica do Peseiro ou nos pés-tijolos do Pinilla.
Decidi então ligar para um local por onde já tinha passado dezenas de vezes, mas onde nunca tinha parado: o Sporting Clube da Estrada, filial nº 173 do de Portugal, sito no Lugar da Estrada, algures ali para os lados da Consolação, Peniche. Quis saber se dava para ir lá ver o jogo com um ou dois amigos, se tinham bar, etc, etc…
Atenderam-me o telefone com total desconfiança. “Olha, olha, o número até é de Lisboa…você está mazé a querer pregar-nos uma partida!”. Que não, repliquei. Que só queria ver o jogo em verde e sã companhia, longe da família benfiquista e seus agoiros e mezinhas. A resposta, chocante, não tardou: “Oh amigo, olhe que nós aqui não temos nada a ver com o Sporting”. Faço um parêntesis para esclarecer que a fachada da sede do Sporting Clube da Estrada é às listas verdes e brancas e o enorme símbolo lá pintado é igual ao do SCP apenas mudando a última letra. “Aliás, o Presidente e muitos membros da direcção são do Benfica”, concluiu. “Infiéis! Hereges! Por menos do que isso já muitos foram obrigados a ver filmes do João Botelho!”, não disse eu, mas devia ter dito.
Tive que buscar nova alternativa.
Em pouco tempo descobri o Núcleo Sportinguista de Peniche. Desta vez apareci sem ligar. À minha espera, um local de culto. Uma espécie de Santuário de Fátima para os fiéis sportinguistas penicheiros. Mais feliz fiquei quando me disseram que aquele era o Núcleo nº 7 - 1 (o 7 é o de Coimbra e o de Peniche uma filial). Que número auspicioso! Três salas (uma para não fumadores), um bar, várias televisões com ecrãs de dimensão apropriada às cataratas da maior parte dos presentes, posters autografados, manchetes emolduradas, troféus e um magnífico e enorme leão de loiça assente sobre relva artificial, segurando com pose de Estado uma bola verde e branca debaixo da pata. Várias minis depois (os restantes convidados bebiam preferencialmente taças de tinto de penalty, no que veio a revelar-se uma premonição para o jogo que se seguiria) percebi que bebes sim, mas comes não, à excepção de batatas fritas de pacote. Nem estava a pedir uma raia de sequinho, iguaria típica da zona. Para a ocasião bastava-me um pires de tremoço, marisco imortalizado pelo Pantera Rosa. Em cidade de pescadores percebi rapidamente que ali, no que diz respeito a petiscos, quem vai ao mar avia-se em terra.
Uma vez sentados todos os 140 tele-espectadores (138 homens e duas mulheres, uma delas bem gira e muito assustada) começou a transmissão da partida. De repente, filmam o banco do Sporting. Silêncio na sala. Tensão no ar. Grande plano de Paulo Bento. Subitamente, o grito vindo lá de trás: “A GRAVATA!!!”. Como fogo na palha, a frase espalhou-se pela sala. Só eu e um inglês atrás de mim não percebíamos. “O gajo voltou a pôr aquela gravata!”, disse um. “É pá, tá outra vez com aquela gravata…” desesperavam outros. “A gravata isto, a gravata aquilo” e o ambiente passou de total confiança para o mais puro desânimo. Creio mesmo que houve quem se tivesse levantado e regressado a casa. A princípio coloquei em causa a sanidade mental daquelas boas gentes. O que é que eles sabiam e eu não!?
O jogo veio a dar-lhes razão. Tenho hoje a certeza que a culpa do vergonhoso empate não foi do árbitro, nem do Quim, nem do losango. A culpa foi claramente daquela gravata.
Por isso Paulo Bento, hoje quando subires ao nevado do Estádio NSC Olympiyskiy de bola cor de laranja debaixo do braço, peço-te encarecidamente que envergues o teu melhor fato de treino.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Sporting Clube de Pithyum (parte II)

Olá amigos, então têm tomado o remédio que o Dr. da Luz vos receitou? Lembrem-se que é para o vosso bem e para o bem do futebol nacional. Se souber mal talvez tapar o nariz ajude, pelo menos nós quando vamos ver jogos ao WC XXI ajuda sempre.
De volta ao futebol, todos estamos de acordo que o fiscal de linha que marcou penalty contra o Estrela na Carlsberg Cup, só o fez por ter sido o cliente do mês do patrocinador da prova, certo? Mas então porque é os sportinguistas mudam de opinião se forem eles os beneficiados? Então agora a lógica já é que o árbitro deverá sempre seguir a opinião do fiscal de linha, independetemente destes errarem 97,8% das vezes? Mesmo que o árbitro do Estrela tivesse visto que não era penalty tinha de o marcar porque o fiscal levantou a bandeirola? Portanto, a lógica é dar continuidade ao erro? Bem, então parece-me que há srs que mudam mais depressa de opinião do que a Zita Seabra muda de partido. No meu clube, dizemos que isso não é de Homem. E assim, começa a ser claro que o Veloso não é o único benfiquista que tem um filho no Sporting. Aparentemente, o Néné tem lá muitos, muitos mais.


Tenho a certeza que não há um benfiquista – tirando o Jorge Máximo e o seu fígado de malte 12 anos – que não sente vergonha pelo tal penalty. No meu clube somos todos gente simples, trabalhadora, humana e - agora que lá não está o Zé Veiga já posso dizer - honesta. No meu clube, sabemos perder como homens e aprender com as derrotas, porque também sabemos que é assim que se fazem os benfiquistas, perdão, os campeões. Dou-vos como exemplo o Toni, sim aquele ex- jogador e ex-treinador do Benfica e tão Benfiquista que até o nariz é encarnado. Há uns anos quando ele era treinador do Benfica, fomos jogar a Setúbal nos 16 avos da Taça de Portugal. Foi um grande jogo de futebol, o Yekini fez um jogaço, marcou 3 golos e o Setúbal venceu categoricamente por 5-2. No final do jogo, acham que o Toni foi dizer que fomos roubados? Nem após ter bebido as 5 garrafas de moscatel que a direcção do Setúbal amavelmente lhe ofereceu, o Toni fez tal figura, ou demonstrou tal mesquinhez humana. Nunca mais me esqueço, termina o jogo que acompanhei através do Óscar - um pequeno transistor cinzento de um amigo que nos cantou inúmeras tardes de glória que não essa – e um jornalista corre para junto de Toni e pergunta-lhe: “Então hoje o Benfica teve um jogo para esquecer?” Toni responde: “Para esquecer não. Este foi um jogo para o Benfica se lembrar”. E eu nunca mais me esqueci daquelas palavras, porque simbolizam a atitude de todos os benfiquistas, incluindo os de nariz encarnado que não se fazem passar por ecléticos. Talvez também não tenha esquecido porque nesse ano nunca mais perdemos um jogo, fomos campeões nacionais e, pelo meio, ainda fomos dar 6 batatas ao antigo batatal de alvalade. Topam a diferença pardalitos?

Não viram ninguém do Benfica dizer que perdemos o jogo de sábado – sim para nós empatar em casa com o Sporting tem o mesmo sabor a derrota do que Portugal empatar com a Sérvia, sendo que deixamos as figuras tristes do final para outros fazerem – porque o árbitro não assinalou o penalty mais claro da noite. Sim, depois de ter visto 47 vezes as imagens do lance de Romagnoli, admito que é penalty, até porque dentro da grande àrea adversária, já todos sabemos que os jogadores do Sporting ou são Levezinhos, ou são Pipis. Mas o penalty mais claro é sobre o Adu, isso é claro para todos excepto para o Dias Ferreira e para o o mais forte candidato a seu sucessor, o nosso bem conhecido amigo, leitor, mas sobretudo comentador 27.
Mas ninguém do Benfica falou sobre esse penalty claríssimo, certo? Nem ninguém lançou areia para os olhos dos adeptos benfiquistas, reduzindo a causa do empate ao penalty não assinalado, certo? Nessas caiem os outros, porque o que o treinador e jogadores do Benfica disseram – os nossos dirigentes tentam não fazer figura de Rui Santos para a TV – foi que fizemos pouco para ganhar e somos obrigados a fazer mais, jogar melhor e concretizar as oportunidades que criamos e que são uma tarefa Hercúlea para o Nuno Gomes.
O Sr. Camacho não é o melhor treinador do mundo, mas é seguramente o homem que depois do Erickson melhor espelha e personifica o adepto benfiquista. É por isso que nós gostamos dele, sobretudo do que diz depois dos jogos independetemente dos resultados. Sabe perder e respeitar o adversário, sabe ganhar e respeitar o adversário e sabe empatar sem fazer figura de imbecil.

Tanta conversa com a “tranguilidade” e depois é só “intranguilidade”, como é? Chegam ao balneário no fim do jogo e orquestram aquela desgraceira para o país ver? Já chega dessa conversa, são demasiados anos a bater na mesma tecla. Basta! O que vocês precisam é de um criativo. O Maestro é nosso e com o panorama nacional só vejo mais um, o 7 Maldito que é o grande nº 10 deste blog. Ele seguramente que, em 2 ou 3 minutinhos, inventava qualquer coisa diferente e mais engraçada para vocês dizerem. Se quiserem contactem-me que eu sou o empresário do prodígio e, para vocês, faço isto por 5 milhões de euros e depois ajudo-vos a enganar os vossos sócios a dizer que foi a custo zero. Se já resultou com o JVP – e sabe-se lá com quantos mais- também ia resultar com o 7 Maldito que, na minha opinião, seria a 2ª melhor contratação da história do Sporting, imediatamente a seguir à do Frank Rijkaard.
Parafraseando um homem que sempre admirei como jogador e que respeitei como treinador até ao passado sábado, apetece dizer:
“O fudebol é con os péz, o bazquetebol é con as mãus” e as tonterias sãu con o Sportén!”
I rest my case.

PS- A partir de agora estou concentrado na Champions, à partida a única competição que o Benfica ainda poderá ganhar este ano.

O mister Bimby

Desculpem só agora aparecer, mas estive até há poucos minutos a prestar declarações na esquadra da PSP de São Domingos de Benfica, a propósito de um roubo que ocorreu no Sábado à noite e do qual fui testemunha ocular. Nããã…não pensem que vou entrar por aí.
Para analisar jogos de futebol e os seus casos, existem profissionais pagos para isso: uns chamam-se jornalistas, os outros inspectores da Judiciária. Mas se querem mesmo saber a minha opinião, e para pôr fim à discussão, acho que foi um jogo mediano (à imagem e semelhança das equipas em campo), equilibrado, com ocasiões para os dois lados, e com uma arbitragem muito medíocre. Dois dos supostos penalties parecem-me indiscutíveis. O outro, é igual a um célebre protagonizado por Abel Xavier, e ainda hoje, passados muitos anos, ainda não se chegou a conclusão nenhuma, a não ser que o Abel Xavier tinha o penteado mais absurdo da prova. A rábula do fiscal de linha e da bola ao ar é que me parece tão ridícula quanto desnecessária. Da expulsão perdoada ao Leo ainda antes da meia-hora e da imunidade de “O Rui” a amarelos não falo.

Na minha opinião, blogues como este têm também uma missão de pacificação e credibilização do futebol nacional. Temos que saber parar com a crítica e admitir humildemente o elogio. E é por isso que as minhas palavras a partir deste momento são dedicadas ao treinador do Benfica, señor José António Camacho. E por muito que vos custe a entender, são palavras de sincero elogio. Um treinador que com aquele plantel consegue acabar o jogo de Sábado empatado, acrescentando assim um pontinho ao seu pecúlio merece a minha vénia. Fazendo um paralelismo com uma área que muito me apraz – a culinária – diria que Camacho é a Bimby dos treinadores. Para os mais desatentos e para aqueles a quem a patroa ainda não obrigou a desembolsar 900 euros em nome da causa feminista e da igualdade nas tarefas domésticas (por princípio, sou contra!), esclareço que a Bimby é um robô de cozinha capaz de fazer qualquer prato. Retirei de um blogue este esclarecedor testemunho de um feliz proprietário:

“Confesso. Sou um desastre na cozinha. Apesar das várias tentativas que fiz ao longo dos anos, nunca consegui cozinhar nada que fosse realmente comestível. Por mais que tentasse nunca consegui fazer nenhum prato que alguém quisesse comer sem ser por pena - aliás, arrisco mesmo afirmar que o meu maior achievement culinário foi conseguir fazer pizzas congeladas no forno sem as queimar!

Mas agora tudo mudou… e porquê? Tenho uma Bimby!!! E o que é uma Bimby? Bem, basicamente é uma máquina feita para tótós que não sabem cozinhar ou para donas de casa que querem passar menos tempo na cozinha. Para fazer comida basta ir “atirando” os ingredientes para dentro da máquina (pela ordem indicada nas instruções) que ela faz o resto.”

Basicamente, ao despedir o Engº Fernando Santos (ainda hoje não me conformo com tamanha injustiça), o Benfica despediu a velha cozinheira da família, que confeccionava sempre os mesmos pratos e que os convivas (leia-se, os adeptos) já não podiam nem cheirar. Era sempre a mesma canja de galinha ensosa, o mesmo bacalhau com natas desenchabido e a mesma pêra bêbeda, por sinal, a única coisa que os comensais ainda toleravam. Isso e o café com cheirinho no fim.
Mandada a velha para a Grécia, chega a Bimby importada de Espanha. Dela, responsáveis e massa associativa (belo nome para um prato…) do Benfica esperam estrelas Michelin. Mas esquecem-se que os ingredientes que a velha e o Sr. Vieira (a dona da casa) deixaram na dispensa não dão nem para uma Menção Honrosa no Festival das Tasquinhas Rurais de Atouguia da Baleia. Quando olhou para as prateleiras, a Bimby viu desde o melhor Vintage comprado na Garrafeira de Campo de Ourique (Rui Costa), a carne argentina de qualidade duvidosa (Di Maria), produtos do Lidl feios, brutos mas eficazes (Petit), especiarias africanas que só se encontram no Martim Moniz (Gilles ou Binya, ou algo assim), mercadoria norte-americana com defeito de fabrico (Adu), falsificações paraguaias (Cardozo) e até um bibelot da loja chinesa (Yu Dabao). Não fazia sentido. Devia haver engano.
A princípio, a Bimby entusiasmada ainda falou em primeiros prémios. Umas semanas depois, feitas as primeiras experiências, lá teve que mudar de discurso dizendo que afinal um segundo lugar já não estava mau.
No Sábado, a Bimby agarrou naquela mistura incompreensível de ingredientes, atirou-os lá para dentro e rezou para que no fim saísse um Bacalhau confitado e kokochas sobre espinafres, cebolas e molho de tomate branco. Saiu-lhe um souflé fraquinho, desinteressante, inodoro e mal temperado, que mesmo assim o adversário não teve apetite nem arte para devorar.
A pergunta que fica é: no dia em que mais uma vez os convivas se fartarem (e não faltará assim tanto), quem é que vai ser despedido? A Bimby, que não pode fazer mais do que já faz, ou a dona da casa que promete estrelas Michelin?