Toda a gente me diz "eh pá, isso é impressão tua...também me acontece a mim", mas eu não acredito. Sou sem sombra de dúvidas um tipo muito azarado.
Por exemplo: se estou parado no trânsito, a faixa onde eu estiver será certamente a que circula mais lentamente. E no momento em que decidir passar para a faixa que está a andar, é certo e sabido que essa vai parar e aquela onde estava anteriormente vai começar a andar.
No supermercado, já se sabe: com um golpe de vista astuto, analizo rapidamente as filas nas caixas. Escolho aquela que me parece estar a escoar melhor, evitando sempre aquelas onde estão idosos (fazem muitas perguntas, trazem coisas que não queriam, não trazem coisas que queriam e confundem-se sempre nos trocos). Quando penso que a coisa está controlada e a minha vez está próxima, há sempre um pacote de wafers com recheio de avelã cujo código de barras é ilegível, ou que em vez dos 0,78€ anunciados se apresenta a uns escandalosos 0,79€. "Patinadora à caixa 34!" e lá está o vosso amigo a secar mais dez minutos.
Num restaurante, pergunto o que é que está a saír mais rápido. Escolho isso, mesmo preferindo outra coisa qualquer que em teoria demoraria mais cinco minutinhos. Mas com tanto azar, há sempre um jantar do 11ºC da Secundária que mete o pedido segundos antes e encalacra a cozinha toda. Quando o prato finalmente chega, meia hora atrasado, provavelmente vem trocado.
Nos aeroportos então é matemático: a minha mala é sempre a última a surgir no tapete, nos dias em que surge. Malas minhas já foram dar a Kinshasa, Ulaan-Bator e Barreiro.
Ontem viajei de regresso a Lisboa. Como marquei o avião antes da 1ª mão daquilo que vocês sabem, tratei de arranjar um voo que aterrasse em Lisboa a tempo de ver o jogo de Munique. O melhor que consegui foi uma aterragem em Lisboa às 19h00. Perfeito, portanto.
Mas ontem os astros não estavam a meu favor. O avião saiu de Londres a horas, ganhou tempo na viagem e aterrou antes do previsto. Nem um atrasozinho, nem uma gaivota no reactor, nem um paquistanês vestido com uma t-shirt de nitroglicerina. Nada. Quanto à mala, acreditem ou não, quando cheguei ao tapete 6, já lá estava. Inteirinha, sem ter passado antes pelo Turquemenistão.
Ou seja, foi apanhar um táxi e chegar a casa mesmo a tempo de ver aquilo. É preciso ter um azar do caraças.