Qualquer português que não fuja ao fisco, que não seja empresário de futebolistas, que não trafique droga, que não tenha um tacho numa empresa estatal, que não seja administrador da Galp ou que não seja autarca, sabe que o país atravessa tempos difíceis. (Depois desta pré-selecção, acho que sobrei eu, uma malta dos têxteis do Vale do Ave e 38 minifundiários de Serpa…)
Ele é a Euribor a pôr o meu T1+1 na Rebelva a preços de T7 na Lapa, o preço do petróleo que faz com que o meu Renault 5 de 86 gaste como um Aston Martin de 2008, o preço dos cereais que bota o papo-seco a valores de caviar Petrossian e a inflação que transforma um carrinho do Lidl num cabaz gourmet do Corte Inglés. Também há o tal do aquecimento global, que eu nunca percebi muito bem o que é, mas que enquanto servir para haver camones em topless em Abril, eu não me chateio.
A altura é de cortar nas despesas não essenciais. Acabar com os luxos e miminhos e viver de acordo com as nossas reais possibilidades. Acordar do sonho lindo que era a teoria do oásis.
Em reunião familiar extraordinária, cada um dos membros do agregado concordou em prescindir de uma coisa sua, em jeito de exemplo para todos.
A minha sogra, por exemplo, não mais pintará o cabelo de cinzento-violeta (menos 18€/mês). A minha mulher abdica da manicure mensal (menos 10€/mês). O meu mais velho deixa de comer o palmier no intervalo da manhã (menos 9€/mês). A miúda não compra mais a revista Bravo (menos 15€/mês). E o gato vai ter de aprender a caçar ratos se não quiser morrer à fome (menos 11€/mês). Enquanto chefe de família, é claro que tive de ser eu a dar o grande exemplo, fazendo o maior e mais doloroso sacrifício em prol do bem colectivo. Acredito que é com estas atitudes que se educam as crianças e se lhes dá o estofo moral e humano para que se façam gente com H grande. Doravante, não mais beberei o meu meio uísquezinho a seguir ao almoço (menos 24€/mês).
Plano de contingência accionado e eis o agregado familiar do 7 Maldito novamente em velocidade de cruzeiro (que se bem me lembro era uma moeda brasileira que não valia um chavelho…).
Até que anteontem da parte da manhã o carteiro apareceu lá em casa. Embora tenha sido a minha mulher a abrir, desta vez não me deixou mais um filho. Limitou-se entregar um envelope verde remetido pelo Sporting Clube de Portugal. Lá dentro, a proposta de renovação do meu lugar anual. Para ver todos os jogos do campeonato e os três primeiros da Champions (espectáculo que poucos em Lisboa poderão presenciar…), pedem-me simpaticamente que transfira para os verdes e depauperados cofres a módica quantia de 410€. QUATROCENTOS E DEZ EUROS!?!?!? Mas esta direcção anda a brincar com quem? Será que as notícias não chegam à Quinta da Marinha? Será que a taxa de juro deles é diferente da minha? Será que os popós dos meninos andam a aguinha da torneira? Ninguém lhes explicou que o país está de tanga?
Quatrocentos e dez euros para ver um campeonato medíocre? Para continuar a ver o Ronny e o Farnerud? Pior ainda, para ter de ver o Edcarlos e o Makukula quando nos forem lá visitar? Está tudo louco, ou quê? Pensam que tenho um poço de petróleo lá no quintal, não? Será que não sabem a quantidade de coisas que dá para fazer com essa maquia? Tenho a patroa a pedir-me para trocar os alumínios da marquise há anos. Tenho a sogra a precisar de uma anca nova desde 97. Tenho o miúdo a precisar de um aparelho nos dentes e a miúda desesperada por uns sapatos ortopédicos! E esta corja escreve-me a pedir QUATROCENTOS E DEZ EUROS!
Agarrem no meu lugar e ofereçam-no aos vossos amiguinhos da OPCA e da Somague. Comigo não contem!
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Mas a verdade é que ver o Roca com a bola nos pés é uma delícia… E o Caneira...o Caneira é lagarto dos quatro costados. E o Postiga? Ah g’anda Postiga, aquele penalty à Panenka a malta não vai esquecer nunca! E até o girafa do presidente diz que este ano é para ganhar! Eh pá que saudades de bola…da malta das roulottes...do estafermo do tipo da fila de trás......do Rui Santos. Será que o Neves vai renovar o lugar? E o Matos? O Matos renova de certeza, que o gajo é doente.
C'um catano...Bem, que se lixe. Lá vou ter que explicar aos miúdos que o queijo provoca necroses no céu da boca e que o que fica mesmo bom nas sandes é banha de porco.