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Por motivos de segurança e de forma a garantir o sucesso das restantes negociações, a minha imagem é aqui protegida.
Um derby online. De um lado um sportinguista doente, do outro um doente benfiquista. Para o espectador que agora chega, fica o aviso: aqui não há verdade desportiva, a imparcialidade dá processo sumaríssimo, o “fair play” é para inglês ver e as entradas são sempre à margem da lei. Bem-vindo ao que o futebol tem de melhor, para além das minis e dos tremoços.
Ao mesmo tempo que a Polícia Municipal de Lisboa retira os últimos benfiquistas do Marquês e da Avenida da Liberdade para a passagem de Sua Santidade, acordo finalmente para a realidade: este campeonato ficou marcado pelo mau perder. Compreendo perfeitamente que a duas ou três jornadas do fim se digam coisas como “o Benfica está mais frágil” ou “ainda podemos ser campeões”. Mesmo que totalmente irrealistas, servem para tentar colocar pressão nos adversários. O que não compreendo é que no fim do campeonato, não sejam capazes de felicitar o novo campeão nacional sem arranjar desculpas. Ponham por favor os olhos no futuro treinador do Sporting que nos últimos 10 minutos da Liga perdeu o acesso à Europa para o Marítimo, mas que mesmo assim não precisou de arranjar meias-palavras ou subterfúgios. Limitou-se a dizer “estamos desolados”. Este homem sabe perder e é isso que me alegra.
Na semana passada recebi um amável convite de um amigo do norte para ir ver o Porto – Benfica ao estádio do Dragão, confortavelmente sentado num camarote. Ainda hoje não sei se ele estava mesmo a ser meu amigo ou se me queria apanhar a jeito para me atirar uma bola de golfe à cabeça.
Assim, sábado de manhã, lá sai eu disparado mais a minha Maria no meu Citroen 2CV pela A1 acima a uns loucos 95km por hora. Já o sol se tinha deitado quando finalmente atingimos o destino. Não por causa da falta de cilindrada da minha viatura, mas sim pelo leitão que fizemos ao almoço na Mealhada que não havia maneira de ir para baixo, nem empurrado a kompensan.
Era o que faltava um porquinho bebé deitar abaixo um benfiquista. Por isso mesmo, estacionei a viatura à porta do Capa Negra e aviei uma francesinha sem medos. Desta vez, a minha abordagem à digestão foi mais tradicional “se faz favor, é a garrafa do patrão” seguido daquele piscar de olho que quer dizer “tu sabes do que eu estou a falar”. Resultado, eram 3h da manhã, já a minha Maria dormia profundamente, ainda eu andava a falar com a francesinha às voltas no quarto da Pensão Duas Nações. Aproveito aqui para referir que não é nenhum luxo, mas os quartos são asseados e tem casa de banho privativa e água quente.
Ainda assim acordei cedo no domingo. Queria aproveitar bem o dia e por isso fui mais a senhora futura primeira dama passear os cachecóis orgulhosamente iguais para Serralves, Foz e Ribeira até à hora do jogo.
Salto estes 90 minutos, porque isso vocês já sabem. O que não sabem foi que sai de lá com uma azia daquelas de acordar um morto e sem motivo aparente. O Benfica fez um grande jogo, claramente planeado por Jorge Jesus e com todas as situações previstas e treinadas ao longo da semana. O que Jorge Jesus não previa era a trombose que o guarda-redes do Paços de Ferreira teve quando ia a agarrar uma bola. E foi enquanto pensava nisto que me veio o jantar à boca “arroz de pato”. Está explicado. Não era azia, era refluxo gástrico.
Há muitos anos atrás, no período de trevas hoteleiras que antecedeu a chegada da ASAE, tempos em que milhares e milhares de portugueses morriam diariamente por terem bebido uma ginginha em cálice de vidro ou comido um pastel de bacalhau cozinhado com uma colher de pau, o senhor Mário era um tasqueiro. Hoje é um empresário do ramo hoteleiro, tal com a contínua é auxiliar de acção educativa, os “almeidas” são técnicos de higiene urbana e a bica é Nespresso. O senhor Mário é o proprietário do café onde diariamente administro a minha dose individual de cafeína. O senhor Mário é benfiquista dos quatro costados.
Há três anos, quando me mudei para a rua do senhor Mário e comecei a frequentar o seu establecimento, ainda ensaiei a rábula que faço sempre com os taxistas: fingir que sou benfiquista. Entrava no café, sentava-me ao balcão e recebia com um sorriso o tradicional “bom dia amigo! Mais um diazinho, não é?”. Enquanto ele me trazia a bica, o Record, A Bola e o 24 Horas perguntava “então e o nosso Benfica!? Aquilo tá mal, hein?”. Depois era ficar ali e deleitar-me com o rol de queixumes e desculpas para a miséria quase sportinguista que então se vivia para as bandas da Luz. Ocorre é que, apesar de benfiquista, o senhor Mário não é parvo e começou a estranhar que eu abrisse o desportivo e fosse directo às páginas verdes. “O amigo anda a mangar comigo, não anda?”, perguntou-me um dia. Não neguei, ainda nos rimos com aquilo, continuámos amigos e mais importante ainda, o café continuou a €0,55. Também ainda não calhou andarmos à pedrada, apesar da pedrada que dá o bagacinho “lá da terra” que esconde com os cuidados de um espião britânico residente em Nuremberga em 1942.
O senhor Mário sofre com o Benfica. E quando digo “sofre” é porque sofre mesmo. Sofre de tal maneira que na semana passada sofreu um AVC minutos depois da sua equipa ser goleada pelo Liverpool para a “Ligórópa”. Felizmente a patroa acudiu-o a tempo e conseguiu-se evitar o pior. Foi internado em São José. A consternação lá na rua foi total. Nestes dias não se falou de outra coisa. Ninguém sabia ao certo como estava o senhor Mário, quais as consequências do AVC ou sequer quando teria alta.
Hoje de manhã, qual é o meu espanto quando vejo as portas do café abertas. Entro e eis o senhor Mário atrás do balcão, são como um pêro. Mal me vê, bica, Record, A Bola e o 24 Horas para cima do balcão, acompanhados do tradicional mantra “bom dia amigo! Mais um diazinho, não é?”, que de repente ganha todo um novo significado. Agora, “mais um diazinho” para o senhor Mário já não é um castigo a servir bicas, penaltes e aturar lagartos. É um bónus.
Por culpa de uma derrota do seu Benfica, o senhor Mário quase se finava. Ontem bastaram dois golos para arrancar os tubos, assinar o termo de responsabilidade e voltar a casa e ao trabalho.
O Benfica quase o matou. O Benfica o salvou. E hoje o café foi de borla.
A minha manhã foi menos má.
Ora vejamos se conseguimos aqui dissecar o que se passou ontem no estádio da luz: num jogo onde o Sporting não acertou uma única vez no rectângulo branco (vulgo, baliza) razão pela qual Quim foi obrigado a atirar-se para o chão para agarrar uma bola que ia bater no painel publicitário, só para dizer que fez uma defesa e no jogo onde todo o plantel leonino deverá ter dito ao intervalo a Carvalhal “Mister posso sair mais cedo? É que está muito frio e para além disso está quase a começar o 11º episódio do Lost na Fox!” ao qual ele respondeu “Eh pá! Esqueci-me de deixar a gravar isso... ó Costinha, no fim vais tu à Conferência de Imprensa, está bem?”, o que justifica não ter existido adversário em campo no segundo tempo... neste mesmo jogo o que o Sporting Clube de Portugal tem a dizer é “fomos roubados”!!!! É isto?
A imprensa é lixada. Desde a final da Figueira da Foz que sou um adepto desassossegado por causa da tinta que corre nos jornais desportivos. Não só, tive que deitar várias vezes a mão, durante o jogo, à bomba da asma da minha sogra como no dia seguinte decidi cortar as carnes vermelhas, os enchidos e os fritos da minha alimentação quando li as declarações de Jesus a propósito da semana europeia “estou preocupado com o cansaço da minha equipa”. Ora se o homem que em confiança é capaz de fazer corar José Mourinho afirma que a equipa está cansada, é porque os jogadores estão de rastos e consequentemente eu estou à beira de ver umas quantas veias entupirem. Como se o cenário não estivesse já negro o suficiente, outro desportivo anuncia hoje na sua capa as palavras do capitão “temos que saber sofrer”. Mais? Eu já ando com o 112 pré marcado no meu telemóvel há dois dias e ainda me falam em sofrer. Felizmente, um outro jornal apresenta-me as palavras apaziguadoras “vamos ganhar”. Quem o diz é Elena Gomez e uma coisa é certa: ela sabe mais do balneário que qualquer um de nós. Mas pelo sim, pelo não, hoje só bebo descafeinados.
Jesus é um homem coerente. Assim como o pantone acobreado do seu cabelo, também o seu discurso não se desvia um milímetro. Desde o princípio da época que o mister afirma que o principal objectivo do Benfica é o campeonato. Esta missão têm sido levada tão a sério que ontem a equipa se deu ao trabalho de vencer um jogo menos importante só para que alguns adeptos pudessem ensaiar a festa do título à volta do Marquês de Pombal. Jorge Jesus pode agora dormir mais descansado por saber que determinadas danças epilépticas, algumas rimas toscas e muitas buzinas de automóveis continuam rotinadas.
A Cloaca Máxima (em latim Cloaca Maxima, italiano Cloaca Massima) é uma das mais antigas redes de esgotos do mundo. Foi construída na antiga Roma nos finais do século VI a.C. pelos últimos reis de Roma, iniciada por Tarquínio Prisco e concluída Tarquínio, o Soberbo, que usufruiram da experiência desenvolvida pela engenharia etrusca para drenar as águas residuais e o lixo de uma das populosas cidades do mundo, Roma, para o rio Tibre, que atravessa a cidade, em direcção ao Mar Tirreno, a alguns quilómetros a Oeste. Ainda que Tito Lívio a descreva como escavada no subsolo da cidade, escrevendo no entanto muito depois da sua construção, outras fontes (e pelo seu percurso) indicam que o sistema original se tratasse de um canal a céu aberto que recolhia as águas dos cursos naturais que desciam das colinas, drenando também a planície do Fórum Romano; este canal, por vezes escavado abaixo do nível do solo, seria progressivamente coberto devido às exigências do espaço do centro citadino. A Cloaca Máxima foi mantida em bom estado durante toda a idade imperial. Há notícia, por exemplo, de uma inspecção e trabalhos de manutenção sob a alçada de Marco Vipsânio Agripa, a 33 a.C.. Os traços arqueológicos revelam intervenções em épocas distintas, com diversos materiais e técnicas de construção. O seu funcionamento prosseguiu durante bastante tempo após a queda do Império Romano.
Agora acrescento eu:
Cloaca Maxima é também a boca do Salema Garção. Cada vez que a abre, saem de lá as maiores imundices. Ninguém o cala?
Foi há vinte anos. Valdo coloca o esférico na marca para bater de seguida o pontapé de canto. Magnusson, ainda antes dos efeitos Esporão 97, cabeceou ao primeiro poste, mas foi o jeitinho de Vata que colocou a bola dentro da baliza para qualificar o Benfica frente ao Marselha para a final da Liga dos Clubes Campeões Europeus. Na altura, ninguém teve dúvidas: “foi com a mão”. Mas 20 anos depois, Vata esclarece o mundo futebolístico em entrevista ao jornal i “Havia vento e marquei com o peito. A sério, é como lhe digo". Aliás, como se pode ver claramente e imparcialmente nas imagens.