Enigma

Com um título destes, este post apresenta-se numa bifurcação. Se seguirmos pela esquerda, podemos começar aqui a dissertar sobre aquela banda do início dos anos 90, que misturava cantos gregorianos com uma batida chungosa. Se optarmos pela direita (não vejam nestas opções qualquer tipo de conotação política, por favor) chegamos rapidamente a Paulo Bento, treinador do meu Sporting, e uma das personagens mais enigmáticas do panorama futebolístico nacional.
Bento não é propriamente o tipo mais extrovertido que conheço. Numa escala que vai de Cláudio Ramos a Ramalho Eanes, diria que está claramente mais próximo do ex-Presidente, General sorumbático a quem nunca se viram os dentes (será que os tem?). Para adensar esta sua aura misteriosa, Bento fala muitas vezes em código, utilizando os meios de comunicação social para fazer chegar mensagens desconhecidas a destinatários que desconhecemos.
Ontem, por exemplo, depois de ganhar confortavelmente ao Marítimo (pronto, não demos seis, mas também não temos A Melhor Equipa do Sistema Solar e Galáxia de Andrómeda), cheguei a pensar que Bento se congratularia com o resultado, a exibição aceitável e o monumental golo de Liedson. Mas não. Lá apareceu o homem de rosto fechado e expressão carregada como se tivesse as poupanças no BPP, enviando mais um dos seus recados encriptados para vá-se lá saber quem: “alguns jogadores têm de melhorar bastante para continuar na equipa. Precisam pensar mais na equipa do que neles próprios e jogar mais do que fizeram hoje". Ninguém percebeu.
Mas - coincidência das coincidências - na manhã de Sábado, indiferente à tormenta que se abatia sobre a capital, eu tinha ido à Feira da Ladra. Depois de comprar um auto-rádio roubado igual ao que me roubaram e uma t-shirt da tournée de 1989 da Samantha Fox, encontro um septuagenário vendedor com uma curiosa máquina à frente. Perguntei-lhe que estranho objecto era aquele. “Uma Enigma”, respondeu-me. E continuou: “é uma máquina alemã de 1930, utilizada para criptografar e descriptografar mensagens secretas. Diz-se que foi depois de uma destas ter caído nas mãos dos ingleses que a 2ª Guerra Mundial acabou”.
Achei aquilo interessante e sobretudo, muito útil. É que a minha empregada é brasileira nordestina e nunca percebo nada do que diz. Talvez com aquele descodificador eu conseguisse finalmente que ela me engomasse as trusses como deve ser. Fechei negócio.
Estava eu a testar a máquina quando Paulo Bento profere as tais declarações na “flash-interview”. Não era tarde nem era cedo. Estava na hora de comprovar a eficácia da enigma. Aqui vão os surpreendentes resultados da desencriptação dos recados do treinador leonino:

“Alguns jogadores têm de melhorar bastante para continuar na equipa” = “Mamã, para o Natal quero uma Nespresso daquelas que fazem capuccino”

“Não tenho qualquer problema com o Vukcevic” = “Não gosto de iscas”

“Vamos a Barcelona para ganhar” = “será que deixei o carro no piso -1 ou no -2?”

“Estamos a trabalhar com tranquilidade” = “Filha, daqui a uma hora o papá já está em casa para te ajudar com os trabalhos de português”

“Tiuí, Ronny, estão convocados!” = “não me posso esquecer de tomar os comprimidos do Alzheimer!”

“O Benfica vai conseguir duas eliminações numa semana” = “O Benfica vai conseguir duas eliminações numa semana”

A partir de hoje, com esta prodigiosa máquina, acabaram-se os mistérios de Bento. Com esta preciosa ajuda talvez o possamos compreender e quem sabe, vir a gostar dele. Recomendo à SAD do Sporting que compre uma e instale no balneário. Talvez assim quando Bento diz “Rochemback, és tu a marcar o livre”, o jogador brasileiro deixe de entender “Rochemback, acerta ali naquele tipo de óculos no Sector B18”.