segunda-feira, 30 de junho de 2008

Pep Casals

Não sei se foi inspiração divina ou pura sorte o que me levou a passar férias em Ibiza nesta semana que agora acabou. Divinal foi também ter voltado a Portugal apenas na madrugada de segunda feira e não no Domingo à tarde como seria normal, mas aí nem a sorte nem a Providência são chamadas ao assunto. O mérito vai todo para a Ibéria que vende voos mais baratos a horas a que que só os pobres como eu querem voar.
Quando marquei estes dias ainda acreditava que veria em solo inimigo uma final do Euro em que Portugal esmagaria todo e qualquer adversário que lhe calhasse pela frente. Já me via a dar voltas a rotundas baleares urrando de satisfação. Puro engano. Mas mais uma vez a sorte bafejou-me com o seu hálito a jamón ibérico, levando a Espanha até á vitória final e colocando-me no epicentro das comemorações numa terra onde a malta tem uma certa propensão a comemorar o quer que seja.
Pep Casals, que dá o nome a este post, é o porteiro do hotel onde me quedei (desculpem, mas com cinco dias em Espanha ganha-se logo aquele sotaque “à Futre”). Senhor com os seus 50 anos, é um daqueles bem-dispostos por natureza. E optimista. Muito optimista. Para os parâmetros portugueses, estupidamente optimista. Irritantemente optimista, diria mesmo. Ao ponto de dar vontade de o fechar 5 minutinhos num relvado com o Binya. Na manhã da meia-final com a Rússia tentei agoirar e perguntei-lhe qual o seu prognóstico para o jogo. Eu, depois de ter visto a Rússia cilindrar a Holanda tinha uma secreta esperança que a Espanha levasse o mesmo tratamento (sim, o português é um ser invejoso e mesquinho…). Mas Pep Casals não vacilou um segundo:

“Fácil. Muy fácil. Vamos a ganar 3-0”

Não escondi o meu sorriso. Aquele pobre estalajadeiro não sabia o que dizia. O sol ibicenco estava a fazer-lhe mal.
Horas depois via-se quem é que tinha razão… O homem tinha ganho o meu respeito.
No dia da Final, resolvi voltar a consultar aquele oráculo futebolístico. Sem sequer ler as entranhas de um coelho, Pep Casals tinha a resposta na ponta da língua:

“Otra vez fácil, muy fácil. Pero ahora queda en 1-0”

Desta feita – prudentemente - não me atrevi a duvidar. E ainda bem porque pouco depois estava a apertar-lhe a mão, congratulando-o pelo merecidíssimo título e perguntando-lhe quanto tinha investido na Betandwin.com
Tudo isto para chegar onde, além do aeroporto da Portela?
Obviamente, não é preciso ser um iluminado para ver que este Pep Casals vale ouro. Arrisco mesmo dizer que é a grande figura deste defeso. O homem tem uma efectividade de 100%. É letal. Não falha. Na minha opinião, garante no mínimo uns 60 pontos por época, fora descontos por alegada corrupção. Se a SAD do meu Sporting não quiser “ficharlo”, contrato-o eu. Mas para isso preciso da vossa contribuição financeira. O homem deve ganhar uns 1500€/mês. Quanto a alojamento, não se preocupem que a minha marquise tem espaço de sobra. E alimentação trato de fazer um contrato com os estaminés do Alvaláxia.
Não tenham a menor dúvida, meus amigos: “Pep casals resolve!”.

terça-feira, 24 de junho de 2008

"Querido Pablo"

Caros leitores:
Deixemo-nos de discussões vazias e que não servem para mais do que aprofundar o fosso que nos separa. Coloquemos de parte as razões que nos dividem e unamo-nos num forte e sentido abraço. Releguemos de uma vez por todas os insultos que trocamos e cantemos hossanas de alegria. Apaguemos com um sopro de amor o fogo que incendeia autocarros de transporte de adeptos.
Não foi o calor do solistício de Verão que amaciou este coração empedernido. Não foram as andorinhas que trouxeram a esta árida alma uma gota de compaixão. Foi “A Bola”.
“A Bola” é a Bíblia do desporto, não é o que dizem? Então eu fui convertido. E como bom apóstolo, cabe-me agora a missão de vos evangelizar, simpáticos infiéis. Não pela lei da vergastada como os misericordiosos missionários lusitanos de séculos passados, mas antes pelo poder da palavra, como Luís Filipe Vieira numa Assembleia Geral no Pavilhão Borges Coutinho (antes da entrada do Corpo de Intervenção).
Na certeza de que também vocês serão tocados e iluminados como eu fui, transcrevo agora as linhas que podem ter mudado a minha vida para todo sempre.

“Aimar, a camisola 10 é tua”

Rui Costa escreveu uma carta ao médio argentino Pablo Aimar, que ficou muito sensibilizado com o gesto do director desportivo do Benfica. Já há acordo com o jogador. Dois milhões de euros separam o entendimento entre os clubes.

Rui Costa pode não ter muita experiência como director desportivo, pois só agora começa a dar os primeiros passos nessa função, mas parece determinado em marcar desde já a diferença, com gestos que visam colocar um pouco de humanismo, de sentimento, num negócio cada vez mais dominado pela tirania do dinheiro, em que os jogadores, muitas vezes, mais não parecem que simples mercadorias ou, noutra perspectiva, mercenários sem ponta de paixão pelas camisolas que vestem e despem ao sabor dos euros.
A história a que A Bola teve acesso, de fonte muito próxima do processo negocial que visa levar Pablo Aimar de Saragoça para a Luz, é simplesmente deliciosa. Na sequência do interesse encarnado no médio ofensivo argentino de 28 anos, Rui Costa resolveu escrever uma carta ao jogador, elogiando as suas qualidades, expressando a crença no projecto que está a construír no Benfica e apelando a Aimar para que se junte à causa. “A minha camisola 10 está guardada para ti, está à tua espera”, terá transmitido Rui Costa, mais ou menos por estas palavras.

Dou-vos agora um minutinho para enxugar as lágrimas…………………………….Já está? Retomemos então.
Honestamente não sei o que é mais delicioso (como escreve o jornalista) nestes parágrafos: se o texto de “A Bola”, se a carta de Rui. Maravilhosa a incapacidade do redactor em esconder a mágoa e a desilusão pela saída do seu querido “Cebola” Rodriguez para o FCP, contrapondo à manobra de Pinto da Costa o “humanismo e sentimento” de Rui. Uma lambidela de ferida que os apaniguados benfiquistas agradecem nestas horas difíceis e que os senhores da Travessa da Queimada fazem melhor que ninguém.
Quanto à carta em si, revela bem o desespero que grassa na SAD vermelha…não havendo muito para oferecer aos jogadores, escrevem-se cartinhas de amor, como as crianças do liceu. Enternecedor.
O Impróprio para Cardíacos chegou à “fonte muito próxima do processo negocial” de A Bola: o Sr. Tozé, carteiro na Estação de Correios de Benfica, que a troco de duas São Domingos e uma sande de torresmos acedeu em transcrever-nos a dita carta. A caligrafia corresponde a uma criança de 6 aninhos, pelo que o mais provável é que tenha sido Rui Costa a redigi-la pela sua própria mão.


Lisboa, 23 de Junho de 2008

Querido Pablo,

Eu sou o Rui e provavelmente não me conheces. Trabalho aqui no Benfica e o meu chefe encarregou-me de construír o melhor plantel dos últimos 12 anos e ganhar a Champions mesmo sem participar. Sendo que eu já pendurei as botas e o Cebola deu de frosques, isto quer dizer que tenho de contratar aí uns 16 novos jogadores. Vaí daí resolvi mandar uma carta à malta que gostava de trazer para fazer companhia ao Binya e ao Luís Filipe. Podia ter ido aí de avião particular mas estoirei o budget quando fui ter com o Eriksson. Também podia ter mandado um e-mail, mas não sei. A minha filha abriu-me uma conta no Hotmail, mas perdi a password (para a próxima escolho 5-3-5-3-5-3 para ter a certeza que não me esqueço).
Por esta altura queres saber o que é que eu tenho para te oferecer. Ora bem…arame tá complicado, participação na Champions é melhor falares com o Guimarães, e para jogares num campeonato decente o melhor é ficares onde estás. Mas para não dizeres que não te dou nada, mando-te um CD do Luís Pissarra com o “Ser Benfiquista”, um taxi-voucher para gastares com o Jorge Máximo, um postal autografado pelo Eusébio (desculpa a assinatura estar tremida) e um ticket refeição do Barbas. Proposta irrecusável, hã?
Anda pá, tenho a minha camisola guardada à tua espera. Se puderes avisar da chegada com uns dias de antecedência agradecia, para pedir à patroa para a lavar e engomar.

Um abraço,
Rui

ps: quanto ao facto da tua alcunha ser "Palhaço", podemos ter um problema. É que os sócios estão habituados a chamar isso a praticamente todos os jogadores. Se até lá arranjasses uma alternativa, agradecia.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Totobola Luso-germânico

Deixemo-nos de comparações idiotas entre o Lehmann e o Ricardo, entre o Schweinsteiger e o Ronaldo, entre o 4-4-2 e o 3-5-3, entre o 1,92m e o 1,70m. Que eu conheça só há uma forma clara e objectiva de calcular o vencedor do jogo de hoje: o totobola Luso-Germânico que acabo de preencher e cujos resultados desmontam qualquer teoria do Luís Freitas Lobo. Sigam o meu raciocínio e acompanhem-me até Viena.

Minis x Canecas de Munique = 1 (a mini tem mais álcool, nunca chega a aquecer e dá para levar no bolso)

Mulher portuguesa x Mulher alemã = X (empate técnico entre o bigode das primeiras e o sovaco peludo das segundas)

UMM x Volkswagen = 1 (o UMM já não se faz e toda a gente sabe que as coisas que “já não se fazem” são as melhores)

Alheira de Mirandela x salsichas Frankfurters = 1 (por uma questão de princípio)

Feira da Golegã x Oktoberfest = 2 (entre betas a cavalo e frauleins a abraçar canecas, vitória clara para as segundas)

Língua portuguesa x Língua alemã = 1 (Goleada para os ultras de Camões. Em alemão até um “amo-te muito minha querida” soa a “vamos invadir a Polónia!”)

José Cid x Nena (99 luftballons) = 1 (embate renhido com a vitória a sorrir ao português porque a pop star alemã nunca apareceu pelada com um disco a tapar apenas a genitália)

Cabelo à Futre x Cabelo à Rudi Voeller = 2 (apesar da cobertura capilar do montijense ser de topo, o factor “permanente” do alemão dá-lhe vantagem)

Escudo x Marco = 2 (o escudo nunca valeu pevide)

José Sócrates x Angela Merkel = 1 (Sócrates é muito mais porreiro, pá!)

Joelho de porco x Cabidela de galinha = X (calculo que seja tão repugnante para um teutónico beber o ORH+ de um galináceo, como para um lusitano chupar o menisco de um suídeo)


Resultado final: vantagem para Portugal com uma vitória suada (mas muito merecida) por 6-3. Os alemães ainda protestam com a arbitragem, a propósito do lance polémico entre José Cid e Nena, mas o árbitro é soberano e o resultado já estava feito.
Ninguém nos agarra. A seguir pode vir um totobola Luso-croata ou Luso-turco ou Luso-holandês que a malta goleia. Ainda por cima hoje acordei com uma estranhíssima fezada no Nuno Gomes, um fenómeno que - como os seus golos - se repete apenas a cada três glaciações.
Vamos a eles!

terça-feira, 17 de junho de 2008

O defeso do Entroncamento

É mais fácil acreditar em abóboras com oitocentos quilos, beterrabas com dois metros, ovelhas que ladram e Eusébios sóbrios do que em algumas notícias que vêm a lume (como os refogados) na imprensa desportiva nacional.
Hoje foi um daqueles dias em que Record e A Bola acordaram transvestidos de Correio do Entroncamento para nos darem conta de mais algumas fabulásticas transferências.
A primeira refere o alegado interesse de José Mourinho em levar Rui Patrício para o Inter de Milão. Não é de admirar, pois o Especial Um também surpreendeu tudo e todos quando foi buscar Hilário (que magnífico nome para um guarda-redes) ao Nacional da Madeira. Para além disso, é sabido que o centro de estágio milanista tem belíssimas e altas figueiras, e medindo o guardião quase dois metros, pode vir a ser muito útil ao signore Zapelli, responsável pelos ajardinamentos do local.
A segunda então é de bradar aos céus. Tudo leva a crer que o Benfica se prepara para contratar ao Recreativo de Huelva um pack de dois que inclui um tal de Sinama-Pongolle e Carlos Martins. Desiludam-se os benfiquistas que pensam ser esta uma daquelas promoções "leve 2 pague 1". Os mesmos jornais revelam que o uefeiro clube vai desembolsar 10 milhões de euros pelo embrulho!
Como é suposto o Sporting receber 40% da parte correspondente a Martins, por esta altura os sportinguistas estão duplamente satisfeitos. De uma assentada só vêm chegar um jogador para enfraquecer o plantel benfiquista e a SAD leonina ainda abicha uns euros. Mas se a primeira premissa está correctíssima, temo que o encaixe financeiro não dê nem para pagar o bilhete de volta de Purovic: pelas minhas contas vamos receber apenas 0,40€. Sim, quarenta cêntimos. Porque destes 10.000.000€, tenho a certeza que 9.999.999€ são para pagar Sinama-Pongolle e 1€ chega e sobra para o passe de Carlos Martins.

domingo, 15 de junho de 2008

A epopeia de Óscar Barbosa - Parte II

Caros Amigos,
Conforme combinado, aqui vai a 2ª parte da minha viagem


Genebra, cidade capital do cantão suiço com o mesmo nome, fica situada no extremo sudoeste do lago Lèman, à saída do rio Ródano que corta a cidade em duas partes. Tem uma situação magnífica com vista para os Alpes e o Jura. Há numerosas praças, parques e jardins, a maioria dos quais na parte velha da cidade, situada na margem esquerda do rio, sendo este atravessado por mais de uma dezena de formosas pontes. Logo ao lado da primeira ponte, avista-se a ilha de Rousseau.
Foi à entrada dessa ponte que eu e o Paulo Chaves nos reencontrámos com o pessoal da Hyundai, já passava da meia noite. Até aí a ordem de recolher obrigatório das autoridades suiças tinha sido ampla e saudavelmente desrespeitada pelos adeptos portugueses.

A desagradável situação descrita na primeira parte da minha crónica deixara-me marcas profundas. Tinha pelo Santos uma amizade quase fraternal. O seu comportamento durante a viagem, culminado com o lamentável "sorteio condicionado" dos bilhetes no qual me recusei a participar, ainda não tinha por mim sido digerido.
Só durante a viagem me apercebi que o genro do Santos não era sócio do Hermínio como aquele me sugerira. É patrão, e toda a família do Santos depende dele. Mas, com a breca, isto não justifica a sabujice demonstrada naquele triste episódio.
Lembrei-me com nostalgia do dia da inauguração do novo estádio da Luz, perante o Nacional de Montevideo, em que demos um forte e prolongado abraço enquanto o Santos, em lágrimas, dizia "eu não te disse que o homem conseguia?" Refia-se a outro Santos - o Mário - construtor civil seu conhecido por quem tem grande admiração.
Fui para Bellegarde, tal como na viagem que nos trouxera à Suiça, no banco de trás com o Paulinho que entretanto adormeceu. O Paulo e a Silvina estavam amuados. Os restantes aparentavam estar obliterados de tanta Super Bock bebida. "Ganda joga do Petit"; "Os lagartos podem despedir-se do Moutinho"; "Com sorte vais ver que ainda vendemos o Nuno Gomes ao Barcelona"; "e o Ronaldo ainda nem apareceu" foram algumas frases que ouvi mas não comentei.
À chegada a casa do José Almeida, a sua esposa, Josselinne, recebeu-nos com alegria, acenando uma bandeira de Portugal. Achei simpático vindo duma francesa.
Quando ajeitávamos as almofadas e mantas na sala de estar para passar a noite, o Santos perguntou-me com ar de gozo se eu ainda estava amuado. - Não te preocupes comigo -, respondi-lhe secamente.
8.6.2008 Domingo
11.00h tinhamos tudo pronto para iniciar a viagem de regresso a Portugal. Despedi-me no meu rústico francês da Josseline que tão amavelmente nos acolhera. O Hermínio mandou então a boca: - Mais bem dispostinho? - Nem respondi. Ao passarmos pelo centro de Bellegarde-sur-Valserine pedi-lhe para parar a carrinha. O Nuno Veloso lá saiu a custo (são 130kg) do seu lugar para que eu pudesse passar. Já cá fora, cumprimentei todos e entreguei 100 Euros ao Hermínio. - Toma, é para o Gasóleo e portagens. Vão com cautela e façam boa viagem. Eu fico bem.
Só o Paulo Chaves não manifestou muita surpresa perante a minha atitude. Ele vira-me entrar no Polo preto na noite anterior.
13.00h Estou já há uma hora junto ao Credit Agricole da praça principal da pequena cidade francesa.
Subitamente, um braço envolve-me o pescoço por detras e uma voz grave e ofegante sussurra ao meu ouvido: - El dinero, todo tu dinero.
Sinto um objecto duro encostado às minhas costas.
14.00h Sou transportado no banco de trás de um BMW prateado, firmemente preso ao assento pelo cinto de segurança.
- Então, já refeito do susto? - pergunta-me o pendura.
- Epá, não me voltes a fazer uma coisa destas; tenho 66 anos e já me basta o que passei nestes últimos dias - respondi-lhe.
É assim, o Mário - um inveterado brincalhão. Revi-o no interior daquele Polo na noite do jogo contra a Turquia. Veio com o filho Pedro buscar um carro à Alemanha, o BMW onde agora seguimos em direcção a Neuchatel. Conheci-o no Funchal há já 25 anos quando ele desempenhava importantes funções numa agência de viagens. Depois, regressou a Lisboa, sua terra Natal, e fui perdendo o contacto. Não o via há mais de 8 anos. Reformado que está, aceitou o desafio do filho, piloto de linha aérea, para acompanhar os dois primeiros jogos do Euro, enquanto um transformador de automóveis português, radicado perto de Genebra, introduzia algumas alterações no motor e suspensão do BMW.
Quando resumidamente lhes contei o que estava a acontecer na minha atribulada viagem até Genebra, o convite, em forma de ordem, veio logo: - Ficas connosco para o Portugal - Rep. Checa. Arranjamos-te um bilhete e pomos mais uma cama no quarto do Hotel que é espaçoso. Foi do HiFone do Pedro que mandei então um comentário aqui para o Impróprios a dizer que ficava para o próximo jogo.
Tinha as minhas bagagens em Bellegard e, assim, combinámos encontrar-nos no dia seguinte aí mesmo, na praceta pincipal.
Quando o João Moutinho fez o passe para o Deco a rasgar a defesa checa e este num golpe mágico tirou o aversário do caminho endossando a bola para o centro onde surgiu como um relâmpago o Cristiano Ronaldo a fulminar o enorme Cesc, com o 2º golo, disse para mim mesmo: "Seremos campeões da Europa". Estava eu, é certo, um pouco entusiasmado pelo ambiente eufórico do estádio, mas mantenho a convicção.
Só a Holanda, pelo que tenho visto, nos poderá fazer alguma frente.
Os dias que antecederam o jogo foram, diagamos, vividos em grande. Destaque para um divertidissimo jantar em Genebra, no Lipp (salvo erro é assim que se escreve) que é o único restaurante que serve até mais tarde nesta disciplinada cidade Suiça e ainda um magnífico almoço na terça-feira em Lion num restaurante muito original chamado Paul Bocuse. Disseram-me que tem 3 estrelas Michellin, facto que ainda não pude confirmar. Não resisto a reproduzir da ementa o que comi:
- Escargots de Bourgogne en coquilles au beurre persillé.
- Rouelles de rognon de veau à la dijonnaise.
- OEufs à la neige Grand-Mère Bocuse
É comida francesa mas muito boa!
Houve tempo ainda para visitar alguns museus de relógios suiços, assunto em que o Mário é especialista, com destaque para o da Patek Philipe onde há um relógio avaliado em 18 milhões de Euros!!!
Enfim, foram 4 dias em grande. À noite, pude constatar que o Pedro segue as passadas do pai no que se refere ao sucesso com o sexo fraco. E eram lindas e de diversas nacionalidades as que conhecemos na Suiça. Nota também muito positiva para o Hotel -Manotel - simples mas limpo e funcional e com um pequeno-almoço variado e rico.
Terça feira ao fim da manhã, quando íamos para o almoço em Lion, recebi no telemóvel um chamada de Portugal. Era a mulher do Santos: "És tu, Barbosa? Onde é que vocês estão?" Expliquei-lhe que não seguira com eles e que ainda estava na Suiça. Ela então disse-me que a última vez que conseguiu falar com o marido fora na madrugada de Domingo para Segunda, estavam eles com dificuldades em passar a fronteira para Espanha, por causa de um bloqueio de camionistas. Durante o Almoço, recebi uma tranquilizadora mensagem: tinham acabado de chegar, extenuados mas vivos.
O nosso regresso a Portugal decorreu sem grande história. Arrancámos logo a seguir ao jogo. O Pedro e o Mário revesaram-se na condução e viemos sempre por auto-estrada. Chegámos às 17.00h de Quinta-Feira.
Mais uma nota positiva: Não tivemos uma única discussão sobre futebol. O Mário (e o Pedro também) é lagarto doente, seu único defeito, como eu costumo dizer. Ficaram célebres as nossas discussões no Funchal onde amiúde quase (este quase é um bocado exagerado) chegávamos a vias de facto. Agora já não temos idade para isso e, sobretudo, estivemos juntos na Suiça para dar todo o apoio ao nosso Portugal!
PORTUGAL4EVER! A caminho da final !!!
Oscar Barbosa

Sim, não, yes.

Depois de uma semana de ausência, e face aos boatos que agitavam a blogosfera, O 7 Maldito colocou-se à disposição dos jornalistas para uma conferência de imprensa que agora transcrevemos.

- 7, uma semana inteira sem escrever um único post. Não considera uma falta de respeito pelos leitores do Impróprio?
- Sim.

- Preocupa-o que neste tempo possa ter perdido leitores para o blogue da Associação Columbófila de Portalegre?
- Não.

- Nestes dias chegaram mesmo a acusá-lo de preguiçoso. Concorda?
- Sim.

- Houve também quem o acusasse de ter aplaudido o Nuno Gomes no jogo com a Turquia. É verdade?
- Sim. Quer dizer, não.

- Se o blogue das Chiquititas lhe pagasse cinco vezes mais, deixava o Impróprio?
- Sim.

- E levaria o Homem da Luz consigo?
- Sim.

- E Óscar Barbosa, o comentador-mascote-fetiche deste blogue?
- Sim, sim, sim.

- Acreditava nesta Selecção Nacional?
- Não.

- E agora já acredita?
- Sim. Sou fácil...

- Eusébio disse que a selecção precisa de um ponta de lança a sério. O Pantera estava embriagado como é costume ou foi a sua primeira declaração acertada desde 1958?
- Sim.

- Is it true that Man of Light (ndr: Homem da Luz) was authorized to travel to London to negotiate his transfer for an english blogue?
- No.

- Do you speak english?
- Yes.

- Do you speak thai?
- ตัวอักษรไทย

- O seu bacalhau com natas é regado com leite coado antes de ir ao forno?
- Não.

- O gato comeu-lhe a língua?
- Oi?

- Podemos ir beber umas cervejolas e acabar com esta palhaçada?
- Sim.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

A epopeia de Oscar Barbosa

Tal como prometido, postamos agora a cronica que o nosso habitual comentador Oscar Barbosa nos fez chegar directamente de terras helveticas. Uma verdadeira epopeia que ilustra bem a paixao deste nosso amigo pelas cores nacionais.
Desde ja o nosso obrigado, caro Oscar.

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Conforme combinado, junto minha crónica
Espero que não esteja muito longa mas foi o que se arranjou. Infelizmente não a pude concluir por manifesta falta de tempo e também porque a viagem ainda não terminou.
Um Abraço
Portugal 4 EVER

Cá vai:


PRÓLOGO (reprodução de um anterior comentário)
Da última vez que estive cá em Lisboa, o Santos, velho Companheiro de muitas lides no Funchal, que agora está aqui a viver em Lisboa com a filha e o genro, fez-me o repto: "Barbosa, vamos a Genebra ver o Portugal-Turquia?". " Querido Amigo, não me sinto com ânimo nem com meio$ para tal empresa" - respondi-lhe.
Pois bem, nessa noite jantámos na Charneca da Caparica com o principal "organizador" da viagem, Hermínio Valente, um moço de Almada que tem uma empresa de construção civil. O facto é que, por alturas do café e do digestivo me convenceram: Vamos de automóvel (não de avião como eu -$$$- temia), e ficaremos hospedados em casa de um parente do Hermínio em Belengard - que fica na França mas a cerca de 30km de Genebra).
O gasóleo é a dividir por todos, eramos 6, agora 7 pois o Santos teve ordem para trazer o neto que, com o feriado, só perde 2 dias de escola. Pois bem, estivemos a ver o carro da empresa do Hermínio e aquilo é o ideal para viagens longas. Espaço, comodidade, segurança e - garante o dono - economia. Hyundai 2.5 CRHI ! Nove lugares, dos quais só utilizaremos 7 por causa das bagagens e mantimentos.
Bem, já me estou a alongar com os preparativos. O Paulo, neto do Santos, leva um portátil. Se der, escrevo as minhas impressões e envio-as logo que consiga aceder à net.
A VIAGEM
Dia 5-6-2008, Quinta Feira
16.15h - Conforme combinado, espero pela rapaziada em Sete Rios. Eles é suposto terem-se encontrado em Almada e apanharem-me aqui em frente ao Jardim Zoológico, seguindo depois pelo eixo Norte-Sul para apanharmos a A-1.
17.45h - Finalmente chegam com atraso considerável. Hermínio ao volante, Santos ao lado, o casal Paulo e Silvina Chaves no banco do meio, digamos, e o Paulinho, neto do Santos, no banco de trás. Rumamos a Tomar onde apanharemos o "último passageiro", Nuno Veloso, conhecido do Hermínio. A nossa Hyunday é um veículo espaçoso e confortável, com muita arrumação, mas a bagagem é bastante...
19.40 Saimos de Tomar já com o Nuno Veloso e mais bagagem. O espaço já não era muito e optamos por colocar o Nuno Veloso no banco do meio com o casal Chaves, enquanto eu fiquei no de trás com o miúdo.
De todos os excursionistas só conhecia bem o Santos, de há muitos anos, o Hermínio de há cerca de 3 semanas e os demais desde hoje. Sou o mais velho (66 anos), o Santos tem menos 2 anos que eu, o Hermínio 46, casal Chaves anda pelos 50, o Nuno Veloso, 55 (e mais do dobro em kg...) e o Paulinho vai fazer 12.
O Hermínio é um condutor experiente que já tem vários Lisboa-Paris-Lisboa no bucho, só parando para meter gasolina. É o que se chama um bom "volante" com um pé direito "pesadinho".
Pela A6 seguimos em direcção a Vilar Formoso (o que as estradas deste país melhoraram nas últimas décadas!). Serra da Gardunha, Estrela, imponentes, com o sol a esconder-se por detrás...
22.20 Espanha! (aliás 23.20h) Era suposto já estarmos em Valladolid. Temos mais de 2 horas de atraso que o Hermínio se esforça por queimar contra os protestos da Silvina Chaves. Já parámos 2 vezes desde Tomar para necessidades fisiologicas e o Paulinho que tem vindo a jogar simulador de vôo no portátil sente-se enjoado. Perto de Ciudad Rodrigo somos parados pela Guardia Civil. Tudo em ordem, excepto as duas malas que vão no lugar vago logo ao lado do condutor. Mas não há problema, chegou a advertência e as malas virem cá para trás... Fico mais apertado mas servir-me-ão de encosto para finalmente conseguir adormecer, deviam ser umas 02.00 da manhã
Dia 6-6-2008, Sexta-Feira
6.30 - Acordo, quando começa a amanhecer, algures perto de Victória. O Hermínio sente-se cansado (já são catorze horas praticamente sem paragens). A carrinha vai duas vezes à banda sonora esquerda da Auto-Estrada. Perigo! Peço-lhe que pare para descançar. O Santos acorda sobressaltado com o ruído da segunda banda sonora. O sol está baixo e apresenta-se de frente dificultando a visibilidade do condutor. Há muita humidade no pavimento. Estamos perto de França quando o Hermínio decide parar para ver se compra uns óculos escuros. Aproveitamos para fazer a primeira refeição fora da carrinha (até agora foi à base de rissóis e fruta). São 7.45. Estamos todos bastante amassados. O Hermínio leva o ar-condicionado quase no máximo causando muito frio na carrinha mas é o que ele costuma fazer para não ser traído pelo sono, explicou-nos.
Na cafetaria da bomba de gasolina somos saudados por 3 camionistas TIR da empresa Luis Simões. Trocamos impressões sobre o melhor trajecto e as últimas da Selecção. É sempre bom encontrar compatriotas no estrangeiro.
Decidimos evitar as auto-estradas francesas que são muito caras e seguimos por estadas não portajadas a partir de Bayone, onde cortamos em direcção a Agen por uma estrada algo sinuosa.
O Hugo rejeita o pequeno almoço tomado em Espanha vomitando-se para cima das malas que estão entre nós, no banco de trás (cujas janelas não abrem).
São, assim, 11.00h quando somos obrigados a parar numa estação de serviço perto de Nérac para limpar o interior do veículo. O Hermínio põe 2 litros de óleo pois a luz de aviso começara a acender há já algum tempo. Faltam cerca de 700Km para o destino.
A decisão de evitar as portagens da auto-estrada começa a ser questionada. As estradas secundárias do interior de França deixam algo a desejar. O Hermínio está cansado e alguns conflitos latentes que se vinham manifestando desde que saímos de Tomar começam a tomar proporções já não disfarçáveis. Há um certo mal-estar entre o casal Chaves e o seu companheiro de banco Nuno Veloso pois este ocupa cerca de metade do banco do meio. Tento contar algumas anedotas para desanuviar o ambiente, sem sucesso, diga-se.
12.30h - A Silvina Chaves pede para pararmos com vista a fotografar uma linda igreja antiga numa localidade cujo nome não apontei e, mais uma vez (já acontecera perto de Bayone), Hermínio nega-se. "Só paramos para o essencial", sentenciou. A nova máquina digital adquirida para a viagem continua, assim, dentro de estojo. Quem paga é o Paulo Chaves, acusado pela mulher de não se impor: "Isto é uma ditadura, parece que tens medo dele!"
14.00h - Perto de Cahors, o Santos, que leva o mapa, engana-se nas indicações e estala a discussão no banco da frente. Sugiro que paremos para descansar e refazer o trajecto. São já vinte e tal horas de estrada e é natural que haja alguma saturação. Comemos numa área de descanso mais umas doses de rissóis, croquetes, sandes de queijo e de panado que cada um trouxe consigo. O Nuno Veloso veio com um garrafão de vinho de Tomar que aproveitamos para abrir.
Estamos, assim, parados perto da berma da estrada, em mesas preparadas para acolher pic-nics, quando começa de repente a chover torrencialmente. Só há tempo para recolher mapas e mantimentos e, encharcados, pormo-nos dentro da carrinha. Até aqui tinha estado sempre bom tempo. O aparecimento súbito da chuva veio como que criar um inimigo comum e, assim, unir um pouco o grupo excursionista. Com discussões e conflitos não vamos a lado nenhum. Temos de nos unir para assim chegar com sucesso a Genebra e prestar o apoio à selecção - fim último da nossa viagem.
16.00h - Arrancamos em direcção ao Maciço Central, região montanhosa do centro-sul de França que, segundo o Santos é o caminho mais directo. Discordo da decisão, defendendo a Auto-Estrada mais a norte, mas os dois senhores da frente é que sabem. São também eles que fazem a selecção musical da viagem, indireferntes aos protestos dos restantes passageiros.
Pois bem , falta-me o ânimo para relatar a verdadeira epopeia que foi o atravessamento do Maciço Central. Apenas direi que prevíramos inicialmente chegar ao destino às 01.00h de Sábado. Demorámos mais 7.00h!!!
Foram cerca de 40 horas de viagem, sem paragens dignas desse nome, salvo para fazer necessidades, comer algo à pressa, mudar óleo ou pôr combustível... Só a uns 130km de passarmos Lion, já na noite de 6ª Feira, e depois duma razia a um camião TIR eu e o Santos conseguimos convencer o Hermínio a parar durante algumas horas para descansar a vista, uma vez que se tornava cada vez mais evidente que ele estava extremamente cansado e falho de reflexos. A estada é amiga quando a respeitamos, recordei.
07.06.2008, Sábado.
02.30h - Depois do descanso do Hermínio, deitado ao comprido no banco do meio, para o que tivemos por algumas horas de trocar de lugares dentro da carrinha, saímos da bomba de gasolina para a última etapa da viagem de ida: Genebra, ou melhor, casa do parente do Hermínio, ainda em França mas só a 30Km daquela cidade.
07.30h CHEGÁMOS!
A casa do parente do Hermínio é uma casa moderna e asseada com espaço suficiente para uma família de dimensão média. A chegada de 7 novos elementos obrigou a uma redistribuição das funcionalidade típicas das divisões da casa pois os anfitriões, José e Josselinne Almeida, seguindo instruções do Hermínio, nada haviam preparado. Entre almofadas, colchões, mantas, malas e sacos, "acampámos" na sala de estar, eu o Nuno Veloso, o Santos e o neto, e na salinha de jantar, o casal Chaves. O Hermínio ficou no quarto vago do filho mais velho do casal anfitreão que está a estudar em Lion.
09.00h - "Acampamento" montado, descansámos 3 escassas horas até ao Meio dia.
13.00h - Banho tomado, rumámos a Genebra, a escassa meia hora, agora também na companhia do José Almeida. Há que ir buscar os bilhetes adquiridos por um conhecido do Hermínio que vive em Basileia. Encontramo-nos à beira do lago Leman, junto a uma ponte ao pé da linda loja da Patek Philipe (conhecida marca de relógios). A presença portuguesa faz-se notar efusivamente. Dezenas de emigrantes e viajantes vindos de Portugal, enchem as ruas com os seus cânticos, festejos, petiscadas. Há pessoas pintadas dos pés à cabeça de verde e encarnado, as cores da bandeira. A nossa carrinha está igualmente enfeitada com panos nacionais. A ritmada música de Nely Furtado "Como uma Força" faz-se ouvir como há 4 anos. Os turcos também fazem sentir a sua presença mas talvez de forma mais discreta.
14.30h - Finalmente, chega o nosso homem dos bilhetes, Norberto Sesimbra, que só trás, porém, 6 bilhetes. Há que ir buscar os outros 2 em falta a um pavilhão nos arredores de Genebra onde está montada uma festa de portugueses. Lá chegados, o clima é de grande euforia, com muito vinho à pressão, Super Bock, febras, bacalhau assado, música a cargo de um organista, enfim um verdadeiro ambiente português onde deveriam estar umas 600 pessoas em festa. Aproveitámos para almoçar pagando, no entanto, 25 Euros por cabeça! (não tínhamos Francos).
17.00h A hora do jogo aproxima-se e dos 2 bilhetes em falta, nem cheiro. O contacto do Norberto não da sinais de vida. Tentamos, sem sucesso, outras vias. Fala-se em 200 Euros por um bilhete na candonga. Nem pensar!, sentencio.
Bem, se só há 6 bilhetes para 8 interessados, há que fazer um sorteio, digo eu. Hermínio e Santos concordam mas dizem que 4 dos bilhetes já estão atribuídos (a eles os dois, ao miúdo e ao nosso anfitrião). Nesta fase, há que dizer que já tínhamos todos bebido um bocado. Era a primeira refeição digna desse nome que fazíamos em mais de 48 horas.
"Isso não é justo" - exclamei. "Ou há um sorteio não condicionado, ou a viagem convosco acaba para mim neste preciso momento"- acrescentei.
OK, disse o Hermínio, com indiferença, e fez de imediato o sorteio com fósforos partidos. Os bilhetes saíram à Silvina e ao Nuno Veloso, situação que causou grande incómodo ao Paulo Chaves. Ficávamos eu e ele apeados.
A partir daqui, só me restou tomar uma posição coerente com aquilo que afirmara. Algo de radicalmente diferente em relação ao planeado iria inevitavelmente acontecer.
Perante a alternativa de tentar comprar bilhetes junto ao estádio ou ver o jogo no ecrã gigante do pavilhão, optámos por esta última, sem dúvida a mais segura.
20.45h - Depois do Hino, cantado com tanta emoção como desconhecimento da letra, começou o jogo. Portugal domina a belo prazer mas a bola teima em não entrar. O primeiro golo de Pepe quase faz vir o pavilão abaixo. Falso alarme, porém: Fora-de-jogo bem assinalado. Muitos protestos.
Os golos, primeiro do Pepe - com grande jogada deste e brilhante desmarcação do N. Gomes - e, depois, do Raul Meireles - com bom trabalho de Moutinho -, foram vividos com grande emoção e alívio.
O pessoal da comunidade portuguesa aqui na Suiça é gente simples mas afável e patriota. O ambiente no pavilhão estava indescritível de alegria. Porém, algumas situações de abuso de álcool seriam de evitar, sobretudo entre os mais novos.
Logo que terminou o jogo, eu e o Paulo Chaves seguimos com alguns elementos da comunidade para o centro de Geneve onde nos ficáramos de nos encontrar com os nossos companheiros. Entretanto, fui-me informando de meios alternativos de regresso a Portugal, decidido que estava a não voltar na Hyundai do Hermínio. Na prática, eu teria de replanear o meu regresso.
Estava eu pensativo no passeio junto à avenida que contorna o lago Leman acenando indiferentemente uma bandeirinha nacional aos carros que circulavam quando passou um WV Polo preto com uma bandeira de Portugal. Párou alguns metros à frente e do seu interior oiço gritar: - Oscar! Não percebi quem era até me aproximar com curiosidade.
Este encontro alteraria de forma radical o rumo da minha viagem.

(agora tenho de ir a Neuchatel, continuo depois se nisso tiverem interesse)

sábado, 7 de junho de 2008

Portugal: reabre dia 30

O preço dos combustíveis
A Euribor a bater máximos de 7 anos
As marchas lentas na VCI
As greves dos pescadores
O preço dos alimentos
A inflação galopante
Os gangues da noite portuense
O carjacking em Loures
O Verão que nunca mais chega
As contratações do Benfica

São a partir de hoje assuntos totalmente irrelevantes para Portugal e para os portugueses. Nas próximas três semanas por favor não nos venham maçar com estas minudências.
Senhores oligarcas dos grandes grupos da comunicação social: façam o favor de nos manter informados apenas e só com temas de superior interesse nacional, tais como qual filme pirata é que Petit vai ver esta noite, qual o amaciador de cabelo de Miguel Veloso, quantos SMS/dia troca Cristiano Ronaldo com Nereida, quantos SMS/dia troca Nereida com os sub-21 da Nigéria, qual o resultado do clássico de dominó que opôs Simão a Nani, se Deco tem um estiramento muscular ou se não será apenas uma mialgia de esforço, e por aí fora.
Não estou sozinho neste pedido. Até o Professor Marcelo Rebelo de Sousa já se rendeu às evidências, deixando as habituais insignificâncias políticas e económicas de lado e passando apenas a comentar futebol, enquanto olha para o Luís Freitas Lobo como o Rui Santos olha para o Código Civil.
Nas próximas três semanas atribuam um salvo-conduto a todos os autarcas corruptos deste país (ahhh...a redundância como arma de arremesso do escriba), transformem em lenha para o barbeque do Dr. Ricardo Salgado todos os sobreiros do litoral alentejano, alterem-se todos os PDM's em favor de torres de betão, ergam-se estátuas às Fátimas, aos Valentins e aos Avelinos e por favor amnistiem-se os pedófilos, porque muito honestamente a malta está-se nas tintas.
Posso até estar desempregado, com seis meses de prestação da casa em atraso, o meu filho a precisar de um rim, o cobrador do fraque à porta e a ver que o Tiuí não vai embora, mas o que realmente me preocupa é que o jogo começa daqui a umas horas e eu ainda não comprei cervejas e amendoins!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

"Lá fora"

Eu sei que é uma das más características dos portugueses estarem sempre a dizer que "lá fora" é que isto e "lá fora" é que aquilo. Por estarmos sempre a olhar lá para fora negligenciamos as coisas boas que temos "cá dentro", e que são muitas (Soraia 2 - Nereida 0). Mas o caso que agora vos exponho é gritante.
A verdade é que "lá fora" consegue-se fazer jornalismo desportivo de forma interessante e inteligente. Sem trocadilhos manhosos. Sem figuras de estilo barrocas e bacocas. "Lá fora" parte-se do pressuposto que o leitor é uma pessoa inteligente e que gosta de ser tratado como tal, com artigos que vão muito para além de fantasiosas transferências ou se o jogador almoçou frango ou massa.

Coloco aqui à vossa disposição o link para um artigo de antevisão do Euro 2008, publicado no circunspecto e "very british" The Times e escrito pelo senhor Martin Samuel, jornalista desportivo, que nos mostra que a riqueza de um país não se mede apenas nos valores do défice público ou do salário médio, mas também na qualidade do seu jornalismo e na responsabilidade que este tem na formação de um povo. E a este respeito, futebolisticamente falando, com os nossos Ruis Santos, Alexandres Pais e Luíses Freitas Lobo ainda estamos ao nível das Ilhas Faroe.

Cliquem aqui

domingo, 1 de junho de 2008

Strapaziert ja nicht meine Nerven!

Depois da peladinha de Sábado contra a rapaziada da Georgia (há que tirar o chapéu a uma nação que deu a si própria o nome de uma música do Ray Charles), a Selecção Nacional e os amigos que jogaram na segunda parte despediram-se de Viseu, foram dar um bacalhau ao Presidente da República e rumaram à cidade helvética de Neuchâtel onde, quais Joões Garcias da bola, assentarão acampamento-base para daí iniciarem a escalada rumo ao himalaico título europeu.
Com parágrafos tão foleiros como este ainda me acusam de plagiar o Luís Freitas Lobo, mas tudo bem...
Contrariamente ao sucedido nas duas últimas competições futebolísticas internacionais (Euro 2004 e Mundial 2006), desta vez não acompanharei ao vivo as partidas da equipa de todos nós. Em 2004, aproveitando o facto de jogarmos em casa e também no Porto, fui a todos os jogos. Em 2006 comecei em Nuremberga com os holandeses e por lá fiquei duas semanas, a comer frankfurters e nurembergers (as salsichas, meninos, as salsichas...), a beber minis de um litro, a cantar com ganeses, a roubar carteiras a franceses e a fugir de garrafas arremessadas por ingleses, até o Zidane fazer o favor de poupar o meu fígado e a minha carteira a mais punições e recambiar-me para casa com um penalty bem marcado.
Desta vez fico por cá. Áustria e Suiça não me parecem grandes destinos para se ver futebol. Os austríacos têm fama de serem grandes arquitectos de sub-caves, mas não lhes conheço qualquer paixão pelo futebol. Depois, ainda tenho uma espinha chamada Casino Salzburg entalada na garganta, e enquanto me lembrar disso nem um daqueles chocolatinhos do Mozart hei-de comer. Quanto aos suiços, têm bons canivetes (embora eu prefira os de Sesimbra, bem cozidos e com umas gotinhas de limão em cima) e são, como alguém disse, o povo mais corrupto do mundo. Afinal, não há suiço que não tenha uma conta na Suiça...
Não bastavam estes contras e venho a saber que o governo local está a impôr severas restrições aos adeptos: não permitem a exibição de cachecois e bandeiras, não se pode buzinar após os jogos, não se pode fazer barulho acima dos 79 decibeis, não pode haver ecrãs com mais de 3 metros de diagonal nas ruas, nos stands das zonas de concentração de adeptos não podem estar mais de 30 pessoas de cada vez e só se pode comemorar até meia hora depois do final do jogo. Assim sendo, não contem comigo. Não estou para passar os dias com agentes da autoridade a virem-me dizer:

- Não se bebe cerveja pelo gargalo
- Não se canta o hino à mesa
- Não se come tremoços com a boca aberta. Aliás, não se come tremoços.
- Não se pode invocar o nome de Nossa Senhora do Caravaggio em vão
- Não se pode chamar essas coisas à progenitora do Nuno Gomes
- Não se pode violar as adeptas turcas só porque se ganhou o jogo. As cruzadas já acabaram há setecentos anos, amigo...
- Não se pode confiar no Ricardo

Enfim, performance desportiva da Selecção à parte, acho que a coisa não ia correr muito bem para os meus lados. Está-me a parecer que poucas horas depois de aterrar na Suiça já estaria a gritar a plenos pulmões "Strapaziert ja nicht meine Nerven!", a única frase que um amigo meu casado com uma austríaca sabe dizer na língua local e que quer dizer mais ou menos:

"Não me dês cabo dos nervos!"