Um destes dias, e a propósito de um post acerca da Lei do Tabaco que descobri
num blogue que costumo frequentar, recebi um mail de uma amiga que dizia curto e grosso:
“só há esta polémica toda à volta da Lei do Tabaco porque a maioria dos jornalistas são fumadores inveterados”.
De facto, cliché ou não, quando imaginamos um jornalista, vemos imediatamente um tipo de óculos na ponta do nariz, curvo sobre a sua máquina de escrever Remington e – lá está – um cigarrinho fumegante no canto da boca. No caso da Leonor Pinhão ou Miguel Sousa Tavares, passa a três cigarrinhos.
Os tempos mudaram. As velhas Remington deram lugar aos i-Books, os óculos até se podem trocar por lentes de contacto, mas o cigarro continua lá.
São os jornalistas quem tem o poder (o 5º Poder, dizem alguns) de nos formar a opinião, por via da informação que publicam. Se "por acaso" há interesses à mistura, então corremos o risco de sermos manipulados. Mas já aqui voltamos.
Desde que esta nova lei entrou em vigor que tenho falado com os proprietários de cafés e restaurantes onde vou (e não são poucos, porque isto de pedir um Martini às 8h30 da manhã, todos os dias no mesmo sítio, parece mal). Todos, mas todos eles se mostram bastante satisfeitos com as mudanças. O ar mais limpo e a maior rotatividade nas mesas (o meio uísque acompanha de duas pedras de gelo, mas não de um cigarrinho) são apenas alguns dos benefícios apontados.
Mas não. Quem ler os jornais e vir os noticiários pode acreditar (o lusitano emprenha de ouvido com muita facilidade) que o país está prestes a assistir a um levantamento das massas nicotinómanas oprimidas. Na hora da montagem da reportagem, dos vinte depoimentos recolhidos, o jornalista escolhe aqueles dois indignados cidadãos que apontam o dedo a uma lei totalitária (do “antigamente”), opressora e desrespeitadora dos direitos e liberdades dos fumadores, sem perceberem que onde começam os direitos e liberdades tabágicas acabam os mesmos direitos e liberdades dos não fumadores. Mas nem quero ir por aí...
E assim se forma a opinião pública, que com o passar do tempo começa a ter força de lei. Ou, como querem, a força de mandar abaixo esta lei.
“Eh pá, ó 7 Maldito, mas isto é um blogue de bola, ou o blogue do Dr. Fernando Pádua!? O que é que o cú tem a ver com as calças!?”, perguntam-me os mais ultras de vós. Nada mais simples, leitor atento. Guarde lá esse very-light, que eu explico.
Vejamos: por uma questão de mera proporcionalidade demográfica aplicada à respectiva guilda profissional, deduzimos facilmente que se dos nove milhões de portugueses seis são do SLB (um censo feito no Barbas a um Domingo ao almoço e que não se reflecte em presenças nas bancadas da Luz), então 66,66% dos jornalistas desportivos nacionais são sofredores do Benfica (sim, sofre-se do Benfica como se sofre do joanete ou do bico-de-papagaio). E só este facto explica as verdadeiras aleivosias que diariamente são impressas nos três embrulhos de castanhas que versam sobre futebol. E nos outros também. E nas TV’s. E nas rádios.
Estes doentes têm uma missão: fazer-nos acreditar que o “Glorioso”, apesar de moribundo desde que o Eusébio foi jogar para o União de Tomar (falem-me do Iordanov...), continua Glorioso. Que o “Maior Clube do Mundo”, apesar de ter menos 40 ou 50 milhões de adeptos que os egípcios do Al-Ahly, é o Maior Clube do Mundo. Que o Nuno Gomes, apesar de nem a mulher dar nada por ele, é um ponta-de-lança inegociável, essencial para o Benfica. Que o Cárdozo (sim, dizem sempre com acento no “a”), vale muito mais que os absurdos nove milhões que custou e que todos os clubes ingleses o querem comprar. Que o Luís Filipe Vieira, apesar de não ganhar mais que umas taças no deserto é o melhor presidente da história do clube. E que “O Rui”, para além de ser o melhor jogador português desde Cristiano Ronaldo, será o único digno sucessor de Vieira no trono presidencial desse castelo de cartas chamado Sport Lisboa e Benfica. E que as acções da SAD, com mais ou menos manobras orquestradas com o Comendador Berardo, valem mais que petróleo. Eles fazem-nos acreditar que quando o Benfica perde, foram os adversários que fizeram uma exibição transcendental. Porque o Benfica (como temos visto) nunca joga mal. E eles rebolam de prazer quando, durante a transmissão do Portugal – Itália, repetem cinco vezes o comentário
“Cassetti, que marcou um grande golo em Alvalade a contar para a Champions”.
O pior é que, tal como vos disse, o povo emprenha facilmente de ouvido. Só assim se explica o fenómeno entroncamental de haver tanta gente a acreditar nestas patranhas. Gente que a cada jornada começa a suspeitar que algo não bate certo. Mas que na manhã seguinte compra o desportivo, folheia e constata que afinal está tudo bem, rapidamente voltando ao seu transe induzido.
Permitam-me a pergunta: o que é que esta malta anda a fumar?