sábado, 29 de dezembro de 2007

Boas Entradas

Nesta altura do ano, não importa se saio de um táxi, do talho, do sapateiro, da mercearia, da tasca com Sport TV do meu bairro ou do apartamento da minha amante no Cacém, que todos me dizem a mesma frase: “Umas Boas Entradas!”. Ora, já que o meu estilo de jogo aqui no Impróprio é semelhante ao de Binya nos relvados, esta frase inspirou-me para terminar o ano de nascimento deste blog com uma belíssima Ode à falta de fair-play (dom supremo de todos os fregueses deste antro!). É em nossa homenagem que adapto a frase que acompanha a mudança de ano, para uma selecção das melhores entradas do futebol português. Vou votar naqueles que considero terem sido os três melhores “cacetadões” do futebol português:

Entrada de Bronze:

É tão boa, tão boa, tão boa que nem se pode considerar uma entrada. Foi em 1982 no Estádio Zé de Alvalade que um dos heróis da minha vida, Manuel Galrinho Bento, saiu corajosamente aos pés de Manuel de Fernandes, agarrou a bola com as duas mãos enquanto o avançado leonino espetava os pitons na sua carapinha. Quem o viu jogar lembra-se que o Bento era uma força da natureza. Era comum lançar a bola à mão na sua grande área e ela só bater no chão já no meio-campo adversário. O Manuel Fernandes conhecia bem o Bento e sabia que ele o ia castigar por aquela maldade que acabara de cometer. A seguir a ser agredido o Bento levantou-se rapidamente e o Manuel Fernandes começou a recuar aterrorizado. O Bento era um grande profissional e por isso não agrediu de imediato o Manel. Teve o sangue frio e o amor ao Benfica para, primeiro, enviar a bola para fora. Era como se dissesse “ Amigos Benfiquistas, agora que a bola não está em jogo vou sou ali resolver um assuntozinho e volto já”. Mas já não voltou. Assim que viu a bola sair pela linha de fundo, deu três passos em direcção ao atacante e brindou-o com o melhor e o mais belo directo de direita que a minha infância teve o privilégio de ver. O Manuel Fernandes caiu redondo em K.O., o árbitro aproximou-se e, em vez de erguer o braço do Bento em sinal de vitória,ergueu um cartão vermelho em sinal de quem ia tomar banho mais cedo. Eu era criança e lembro-me de fazer o meu avô rir em frente da TV quando lhe perguntei: “Mas que mal tem o que o Bento fez????”.

Lembro-me também que no dia seguinte o Bento convidou o Manel Fernandes para almoçar, este aceitou gentilmente o convite, convidaram jornalistas e fotógrafos para a ocasião e como dois campeões fizeram as pazes publicamente. Lembro-me particularmente de uma fotografia onde os dois apertavam a mão e sorriam, o Manel Fernandes com um dentinho a menos. Também sorri.


Entrada de Prata:

Quartos de final da Taça Uefa em 1993 na Velha Catedral da Luz, um Benfica – Juventus que o Glorioso ganhou com uma brilhante exibição e dois golos do fabuloso Vítor Paneira. Lembro-me bem daquela equipa maravilhosa que o Benfica tinha porque no ano seguinte veio o Artur “Bigode Laden” Jorge e tirou-nos 10 anos de vida.
Mas falemos de coisas boas, o jogo em questão. Decorria a 1ª parte, a Juventus tinha acabado de empatar o jogo com um penalti duvidoso, o Benfica pressionava, a Juventus defendia e eu sofria no famoso “Tribunal do 3º Anel”. Contra a corrente do jogo, Roberto Baggio faz um passe mágico a lançar Vialli na linha. Mozer parte com desvantagem do italiano e com os olhos na bola. Vialli está a poucos passos de chegar ao esférico, Mozer apercebe-se que a correr não chegará a tempo e lança-se de perna esticada num belíssimo vôo rasteiro. Ao recordar estas imagens, as únicas diferenças que encontro este vôo de Mozer e os da Águia Vitória é que o de Mozer foi mais rápido e parecia mais um F-16 do que uma Águia. E foi a voar que, no preciso momento em que Vialli toca na bola, Mozer chega à outra extremidade do esférico, faz um corte limpíssimo para fora e embate com tal força no italiano, que este faz um mortal no ar antes de se estatelar no relvado. Perante a intensidade do lance e por ter sido claramente “limpo”, o 3º anel explodiu de imediato em eufóricos e ruidosos festejos. Mozer levanta-se com a sua classe, agradece para o Tribunal e nem olha para Vialli que, após o susto, ficou de joelhos na relva, mãos na cara e olhos no céu, como que a perguntar a Deus o que tinha acontecido.

Foi a melhor entrada à bola que vi na minha carreira futebolística e a única vez na vida que vi uma entrada a ser festejada como se tivesse sido um golo, e logo por cerca de 100.000 pessoas!


Entrada de Ouro:

Mais importante do que quem dá, nesta matéria das entradas gosto mais de privilegiar quem leva. É por isso que vou destacar esta como a melhor entrada do futebol português.
Final da Taça de Portugal entre SCP e FCP, um jogo desinteressante, mal jogado e sem glória, não fosse um momento de inspiração de um dos seus intervenientes. Canto marcado na esquerda do ataque leonino, os jogadores movimentam-se na grande-área, o canto é marcado, a defesa afasta a bola, os jogadores afastam-se em bloco excepto um que fica estendido no campo a espernear com dores. O árbitro pára o jogo e vejo a repetição do lance na TV. No meio da motim habitual que precedem os cantos, vê-se Beto Acosta a correr em direcção ao Paulinho Santos e dar-lhe uma cotovelada nos queixos, e que mais parecia uma tacada de baseball. Ao ver aquelas imagens, ouvi como banda sonora um belíssimo coro de anjos a cantar Aleluia!
A medalha de ouro é merecida porque atirou o Mauzinho Santos de maca para fora de jogo, mas principalmente para o fim de uma carreira que acabava por ter o final merecido. Após este lance, o Paulinho Santos foi para as praias de Leixões cozer redes de pesca, enquanto só se conseguia alimentar a “abafar palhinhas”.
Foi a partir deste dia que eu juntei-me aos sportinguistas e também passei a tratar o Beto Acosta por “Matador”.

Sendo o futebol português tão fértil nestas situações (até já deu um campeonato ao Boavista baseado nesta filosofia de jogo), convido-vos a usarem a caixa dos comentários para votarem noutras entradas que gostassem de ver premiadas.

Resta-me desejar-lhe um Bom Ano Novo e sugerir-lhe que, a partir de agora que já temos um blog como o Impróprio, em vez de entrar em 2008 com o pé direito, entre antes a pés juntos!

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Ano Novo, inquérito novo

Retomando uma prática antiga, o Impróprio para Cardíacos volta a lançar um inquérito: desta vez queremos saber junto dos nossos leitores com quantos dias de atraso chegará Liedson a Alcochete. Segundo vários especialistas em Estatística que contactámos, é mais fácil adivinhar a chave do Euromilhões, o bilhete vencedor da Lotaria do Natal, a idade da Lili Caneças e o número de pelos do bigode do Artur Jorge na final de Viena, do que a data em que o ponta-de-lança leonino "resolve" regressar da sua Bahia natal.
Está lançado o repto. Votem aqui à direita.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Carlas e Constanças

Agora que chegamos ao fim da época natalícia e nos sentimos todos como verdadeiras alheiras humanas, é tempo de voltar aquilo que realmente interessa: o futebol e seus derivados.
Finda esta quadra, as atenções viram-se para a reabertura do mercado, aqueles trinta dias em que directores desportivos e presidentes de SAD’s tentam desesperadamente remediar as asneiras que fizeram no Verão ao contratarem craques de classe mundial como Bergessio, Fábio Coentrão, Cardozo, Purovic, Marian Had ou Stojkovic. E é sobre esse sempre delicado tema – a política de contratações – que aqui o vosso amigo O 7 Maldito agora se debruça. No entanto, ao contrário do que possam estar para aí a pensar, não vou perder um segundinho que seja a falar de jogadores de futebol. Já disse e não me importo de repetir que para isso anda para aí uma malta com carteira profissional a ganhar um salário ao fim do mês para encher páginas e páginas com fantasias de dirigentes, sonhos de adeptos e recados de empresários. Basta relerem “O Defeso”, escrito nos primórdios deste ciber-pasquim.
Caros leitores: coloco uma peruca tipo carapinha, unto-a com um litro de óleo Fula e visto a gravata do Batatoon para a partir deste momento encarnar Rui Santos e aqui analisar a política de contratações de Cheerleaders por parte de Sporting e Benfica.
As cheerleaders nos intervalos dos jogos em Portugal são um fenómeno relativamente recente e que vem colmatar aquele vazio de quinze minutos entre uma parte e outra (sim, aquela altura em que a malta aproveita para ir urinar). Vêm substituír um grande clássico do entretenimento intervalar que se chamava “Penalty Fidelidade”, onde meia dúzia de populares tentavam converter uma grande penalidade numa baliza com quatro orifícios, e onde se provava que há bisavós com mais jeito para a coisa que o João Moutinho.
Se há diferenças entre os dois rivais, então as suas cheerleaders são um espelho fiel dessa realidade. Ora vejamos:

  • As meninas do Benfica chamam-se Carlas, Miriams, Jessicas e Célias enquanto que as do Sporting se chamam Constanças, Matildes, Assunções e Franciscas (Kikis).
  • No clube de Alvalade, o critério de contratação, à semelhança de toda a estrutura directiva, baseia-se no facto de se ser sobrinha, prima, prima de primo ou prima de primo de amigo que conhece alguém na direcção. Na Luz, não há critério (o melhor critério quando se trata de "dançarinas").
  • No que diz respeito à formação, as dançarinas verde-e-brancas são recutadas após atentas observações às suas performances na barra de ballet clássico, ao passo que as encarnadas são contratadas depois de desembolsar 50€ para as ver exercitar os seus dotes num varão de aço inox.
  • Na indumentária as diferenças são gritantes: no Benfica acredita-se que “menos é mais”, pelo que a farda consiste de uma mini-saia que esvoaça despudoradamente deixando vislumbrar roliças e tatuadas coxas, enquanto que no Sporting a conservadora educação católica obriga as meninas a usarem uma saia dois tamanhos acima com uns calções por baixo, não vá estar nortada.
  • A mesma educação força as bailarinas sportinguistas a espartilharem o peito ao melhor estilo vitoriano, não vá dar uma coisinha aos tios que estão a ver na central. Já para os lados da Luz, a direcção concede crédito a fundo perdido a todas aquelas que, à semelhança da Floribella, quiserem investir em implantes de silicone.
  • Por fim, os patrocínios. As “leoas” são patrocinadas pela desinteressante TMN (poderia dar azo a uma famosa graçola que envolve traseiros e o Mimo, mas isto é um blogue e não um andaime), ao passo que as “águias” são patrocinadas pelo sugestivo Trifene 200, numa clara alusão aquela altura do mês em que o Benfica joga em casa (e eu a dizer que isto não é um andaime…).

A conclusão desta exaustiva análise é óbvia. Por muito que me custe a escrevê-lo, é o rival da Luz que está no bom caminho. No que concerne à manipulação da testoesterona de sócios e simpatizantes, estão muito à frente. Quanto ao Sporting, há que admiti-lo, tem um longo caminho a percorrer.
Há que fazer algo. Enquanto sócio, assumo as minhas responsabilidades e ofereço-me a ajudar naquilo que puder. Por amor ao clube, porque me custa vê-lo ficar para trás, e porque é uma matéria na qual me sinto relativamente à vontade, apresento deste já à SAD leonina a minha candidatura a um cargo a criar: “olheiro” de cheerleaders. Uma espécie de Carlos Freitas do table dance. Um Aurélio Pereira do putedo. Disponibilizo-me a partir de hoje, “com sacrifício pessoal”, para percorrer todo e qualquer bar de alterne de Bragança a Sagres, onde possa estar um talento que interesse ao meu clube. Eu sei que é um trabalho sujo. Mas alguém tem de o fazer.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Um Natal Impróprio


O Impróprio para Cardíacos deseja a todos os seus leitores, comentadores, planteis de todas as ligas nacionais, funcionárias do alterne, árbitros, seguranças da noite portuense, Rui Santos, Maya, Soraia Chaves, Noddy, Ursa Teresa, Tino de Rãs, Sónia Araújo, Manuel Subtil e respectivas famílias um Santo Natal, cheio de coisas boas na chuteirinha. Como gesto de boa vontade, deixamos aqui este belíssimo cartão de Natal que poderão copiar para o desktop e enviar à vontade, ajudando assim na promoção deste miserável blog. A ver se em 2008 chegamos aos 9 visitantes por semana...

Não se preocupem. Passados estes 15 segundos de espírito natalício, o Impróprio voltará à (a)normalidade, até porque a jornada começa já daqui a bocadinho.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Carta ao Pai Natal

Querido Pai Natal,

O meu nome é Homem da Luz, tenho 33 Natais e este ano portei-me muito, muito bem. É verdade que não como tanta frutinha como os meninos do Norte do país, mas com as noites brancas que eles lá têm, também precisam de mais vitaminas. Por outro lado, não faço birrinhas como o meu vizinho da 2ª circular e também já não o desrespeito tanto, felizmente eles têm uma claque que trata disso por mim.
Sei perfeitamente que paz e amor estão fora de stock há milhares de anos e que o fair-play é uma treta maior do que o Purovic, e só por isso não os vou colocar na lista de presentes deste ano:

• Gostava de ter um defesa direito que soubesse jogar à bola, tivesse mais do que os dois neurónios encontrados nos cérebros de Luís Filipe e Nelson e, se não for pedir muito, que também soubesse centrar. (Será que não é o Super-Maxi e só o Camacho é que ainda não viu???)
• Gostava que o Paulo Bento não perdesse o seu actual emprego, seria uma pena ver um cómico tão bom e que faz rir tanta gente, sem trabalho.
• Gostava de receber um médio direito que soubesse jogar como extremo, rápido, forte no um-para-um, que marcasse golos e que jogasse com garra.
• Gostava que o Rui Franguício e o Stojkovic continuassem a mostrar a mão que têm para confeccionarem receitas de frango e perú, muito apreciadas pelo bico da águia vitória.
• Também gostava que quando o Glorioso joga com o Belenenses, acabasse com aquela piadinha de pôr a fava do bolo rei no pastel de Belém.
• Gostava que o Miguel Vaidoso ficasse muitos, muitos anos no Sporting, parece-me cada vez mais que o menino é tal e qual o Cardozo: (já) não engana. Se o Custódio poder voltar, também agradeço.
• Gostava de ter um avançado no sapatinho que fosse forte fisicamente, rematasse com os dois pés, jogasse de cabeça e marcasse tantos golos como os que o Nuno Gomes falha.
• Gostava que o Soares Franco ficasse mais duas décadas como presidente leonino, os produtores nacionais de vinho iam agradecer e quando os sportinguistas acordassem a ressaca ia ser muito, muito grande.
• Bem sei que há 10 anos pedi um presidente que desse ouvidos aos sócios e claro que quando vi pela 1ª vez o LFV, percebi logo que era ele. Porém, apesar de ter umas orelhas muito grandes, às vezes parece que não sabe ouvir conselhos e que tem uma boca maior do que os abanicos. Estou-lhe muito e eternamente grato pelo que ele fez pelo Glorioso mas já começo a ficar farto de ter um Presidente/Director de Futebol/ Departamento de Futebol/ Relações Públicas/ Director de Comunicação/Director de Prospecção de Talentos/ Porta-voz/ Emissário do Clube para contratação de jogadores/ Olheiro/ Inspector da PJ/ etc, etc.
• Gostava que o Djaló melhorasse rapidamente da lesão e voltasse a vestir o pijama às listas o mais depressa possível. Se calhar é pedir demais, mas se der para o ver a fazer dupla com o Purovic, ficava muito grato.
• Por último, o grande presente. Estou inclusivamente disposto a abdicar de todos os anteriores pedidos, caso me possa satisfazer este. Sim, é uma prenda absolutamente especial. Para fazer jus à frase “O Natal é quando um Homem quer”, gostava que colocasse a braçadeira de treinador do Benfica no braço do Mourinho. Com ele ia ser Natal o ano inteiro, especialmente quando encontrássemos o Sporting pelo caminho (lembram-se dos festejos dele no derby na Luz em que ganhamos 3-0? Oh Oh Oh!).

Prometo continuar a portar-me bem e, caso receba os seus presentes, fazer muitas e boas festas.
Obrigado e Feliz Natal
Homem da Luz

domingo, 16 de dezembro de 2007

O sapo que queria ser boi

Esopo nasceu na Grécia algures no século VI a.C, e como bom grego que era, tinha um gostinho especial por jovenzinhos de tenra idade (ou pensam que é por acaso que o Katsouranis costuma aparecer nos treinos dos infantis?). Vai daí, para atraír os gaiatos à sua domus geminada nos arrabaldes de Atenas, entretinha-se a inventar fábulas com que depois adormecia os petizes. E era com as criancinhas a dormir, que se passavam cenas de fazer corar de vergonha o Calado e o Melão.
Uma destas fábulas resistiu até aos nossos dias e está hoje mais actual do que nunca. Tão actual que até poderia ter sido escrita pelo Sr. Leonor Pinhão, caso este soubesse escrever. Refiro-me à fabulosa fábula intitulada “O sapo que queria ser boi”, que agora vos relato sem no entanto pretender levar-vos para o meu colchão de latex, a menos que sejam jovens estudantes universitárias com mais de 1,75m e vistam soutien no mínimo do tamanho 34, copa B.

Era uma vez um sapo como tantos outros sapos. Na hierarquia dos sapos até era um sapo conceituado, grandito e com um passado glorioso. Mas o sapo não se contentava com o que era. Tinha a mania das grandezas. Queria à viva força fazer-se passar por um enorme boi. Aliás, já estava plenamente convencido que era um boi, e acreditando nas suas próprias mentiras, debitava diariamente fanfarronices aos outros animais do charco, dizendo-lhes que era o maior boi do mundo, temido por todo o reino animal. Coachava ele que toda a bicharada queria um dia vir a ser igual a si, e que tinha a maior legião de admiradores que a sapolândia alguma vez tinha visto. Até os jornais e televisões do charco já vendiam a sua pomada, sabendo que os sapos – muitos, mas pouco dados a pensar pela sua própria cabeça – esgotariam edições cada vez que se publicassem estas patranhas.
Entretanto, para ficar do tamanho de um boi, o sapo começou a engolir ar. Galvanizado por algumas pequenas e fugazes conquistas e acreditando piamente nas suas próprias invenções, inchava, inchava e inchava, enchendo-se cada vez com mais ar, perante o riso indisfarçado dos restantes animais. Só o pobre sapo não percebia quão ridículo era. E continuava a inchar, a inchar, a inchar…

Até que na noite de Sábado, depois de tanto inchar, o sapo explodiu ruidosamente ali para os lados de Belém.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

O Clube dos Capitães Mortos

Os estudos e opiniões sobre qual a profissão mais perigosa do mundo divergem. Uns dizem que é ser polícia em Bagdad, outros que é ser bombeiro na Grécia, outros que é ser jornalista na Rússia, mas a grande maioria sabe que é ser treinador em Alvalade. Entregue que está a profissão mais perigosa, vamos à profissão mais ingrata. Aqui as opiniões também divergem. Uns dizem que é trabalhar na recolha do lixo, outros que é ser coveiro e a grande maioria diz que é a uma junção das duas: ser capitão do Sporting. Garanto-vos que ao contrário do caso de Calado isto não são só rumores, mas sim a mais fria e arrepiante das realidades. Senão vejamos, o anterior capitão do Sportén - o Ricardo Voz de Leão - rumou para uma equipa que luta por não descer de divisão em Espanha e, segundo se diz na blogosfera, as suas exibições já terão inspirado uma nova ópera baseada no Barbeiro de Sevilha, denominada "O Frangueiro de Sevilha"! Que triste, não é?

Antes dele o capitão tinha um tal de Custódio, que tinha tanto de jogador de futebol como José Carlos Malato tem de inteligente e humorista. Coincidência ou não, no ano a seguir a ser capitão"o miúdo" foi deportado para a Sibéria e ninguém (incluindo a sua família) sabe dele desde então. Há gente muito cruel com os jovens, não há?

Antes deste desgraçado, o capitão tinha sido o Ricardo Sá Pinto, um jogador que admiro muito. Guardarei para sempre no meu coração aquela gloriosa manhã em que o Ricardo despertou benfiquista, e fez o que mais de 6 milhões de tugas sonhavam fazer: dar uma valente tareia no Artur Jorge. Pois bem, mas nem esta gloriosa manhã deu algum encanto ao final de carreira do Sá Pinto. Foi expulso no último jogo que fez com a braçadeira de capitão, viu recusado o seu desejo de continuar de leão ao peito, nunca fez o desejado jogo de despedida e acabou a carreira num tal de Standard de Liége. Com amigos assim, quem precisa de inimigos não é?

Um ano antes já Pedro Barbosa tinha tido um final de carreira à leão! No penúltimo jogo, parece que impôs a sua titularidade no jogo da final da Taça Uefa e o resultado já todos conhecemos. A seguir, ainda foi titular no último jogo da época e da sua carreira, também no WC XXI, desta vez contra o Nacional que ganhou por 4 batatas a 0. Neste jogo, o Pedro Barbosa ajudou a sua equipa a construir o resultado dilatado e, não satisfeito pela bonita homenagem, ainda conseguiu ser expulso. Lamentável, não é?

Antes deste, o grande Beto. Lembram-se daquele jogador muito talentoso que esteve vários anos consecutivos quase, quase, quase a assinar pelo Real Madrid? Sim, aquele que conseguiu igualar a proeza de um outro célebre defesa central do Famalicão, o Celestino, e marcar dois golinhos na própria a favor do Glorioso. Pois para premiar o rapaz pelo seu excelente desempenho nesse jogo, anos depois foi lhe dada a braçadeira de capitão. Resultado: em vez de ir para o Real Madrid, foi parar ao Huelva (uma pequena colectividade dramática que, ao que parece, também tem uma pequeníssima equipa de futebol). Absolutamente desolador, não é?

E antes deste? Lembram-se? Ui, até dói só de lembrar quem foi o capitão, coitado. Um bom homem, bom jogador, um lutador e um dos poucos exemplos humanos que alguma vez passou por Alvalade, para além do Prof. Moniz Pereira. Lembram-se quem era o desgraçado do capitão? Pois é, o pobre Yordanov, jogador com uma técnica muito semelhante à de Djaló, mas com uma alma tão voluntariosa quanto a de Petit, o que aliás lhe valeu a carreira. Ora bem, o Yordanov no final da sua carreira lutou contra uma doença grave, venceu-a mas, mais uma vez, foi traído pela insensibilidade e maldade dos dirigentes do seu clube. O Yordanov, apesar de ser búlgaro, sempre disse que o seu clube do coração era o Sportén, mas nem isto sensibilizou aqueles pândegos da “Academia de dirigentes Dias Ferreira” (por onde passaram Lenine, Ceaucescu, Mogabe, Mobutu, Paulo Portas e a grande maioria dos actuais políticos portugueses). Nem sequer o facto de ter sido o Yordanov o jogador que pôs o cachecol ao pescoço do leão do Marquês de Pombal, quando ao fim de 18 anos lá ganharam um campeonato. Tenho impressão que se fosse agora, o búlgaro tinha dado um nó com bastante mais força, e até alguma raiva. Acreditem que nem um benfiquista seria capaz de tratar tão mal e humilhar tanto a dignidade de um antigo capitão rival. Apesar do Yordanov ter assinado um contrato com o clube para a realização de um jogo de despedida, os criminosos de colarinho branco e charuto nos beiços recusam-se a cumprir. Gente honesta e bem formada, não é?

Para me despedir, só vos peço um favor. Se por acaso virem ou falarem com o João Moutinho, digam-lhe que para ir já ao centro de emprego. É que apesar de tudo, as carreiras de coveiro, homem do lixo, lenhador, GNR em Bagdad, revisor da Emel em Chelas e funcionário público, têm um futuro muito mais risonho do que os desgraçados que vão para capitão do Sporting. Não acha?

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Viva Portugal!

Somos pequenos mas não somos parvos nenhuns.
Esta frase lapidar podia ter sido proferida pelo saudoso Moretto, mas não foi. Foi inventada por mim há mais ou menos oito segundos e refere-se a este jardim à beira-mar plantado a que chamamos Portugal. De facto, esta pequena grande nação sempre se pautou por um sem número de invenções que de uma forma ou outra revolucionaram o mundo em que vivemos. Sem ir à Wikipédia e sem perguntar à professora de História sem colocação que faz as limpezas aqui da firma, vêm-me à cabeça os seguintes feitos lusitanos com relevância mundial:

- a circum-navegação (não confundir com circuncisão)
- a Via Verde
- o astrolábio (foram os árabes, mas paciência, porque nós é que temos a fama)
- a Casal Boss
- a Soraia Chaves
- o bacalhau à Zé do Pipo
- a fuga ao fisco
- a "mini"
- a Soraia Chaves

Sempre na vanguarda e impulsionado pelo choque tecnológico, este nosso país também tem marcado pontos aquém e além-mar com eventos de grande projecção internacional como a recente Cimeira Europa/África, ou grandes imbecilidades como o maior pão com chouriço do mundo, o maior golfinho insuflável do mundo, a maior feijoada do mundo, o maior lançamento de aviões de papel do mundo, o maior clube do mundo, etc, etc, etc.
Mas não nos ficamos por aqui. Ontem soubemos de mais um feito que ajuda a cimentar o nosso 2º lugar no ranking dos criadores, logo a seguir a Deus (que segue isolado na liderança). De Portugal para o Mundo nasceu… o Leilão de Futebolistas!
Na 4ª Repartição de Finanças do Porto (a mesma onde Carolina Salgado está colectada como dançarina exótica) foram leiloados os passes de seis jogadores do plantel do Boavista, na tentativa de saldar umas dívidas ao fisco. Talvez porque todos juntos não fazem um, não houve qualquer licitação, ficando um dirigente da SAD axadrezada como fiel depositário dos “bens penhorados”. O pobre desgraçado lá terá agora que arranjar espaço na cave, entre o borrego congelado e os plasmas roubados, para guardar os seis caceteiros.
Acredito, como Nélson acredita que é um bom futebolista, que este fabuloso conceito trará grandes benefícios à economia nacional. Com a possibilidade de comprar jogadores de futebol em hasta pública abre-se toda uma nova forma de recrutamento de pessoal. Apenas alguns exemplos: quando a Companhia Nacional de Bailado quiser recrutar uma nova prima ballerina, bastar-lhe-á licitar o passe de Nuno Gomes. Se a Alves&Filhos Construção Civil Lda precisar de trolhas para uma empreitada mais dura, só tem que apresentar uma proposta pelo lote constituído pelo David Luiz, Zoro e Petit. E as casas nocturnas portuenses podem fazer face à cada vez maior escassez de seguranças assassinos, apresentando aquilo a que se chama o “lance de martelo” pelo Binya.
De facto, nós os portugueses não paramos de surpreender. Inventamos as coisas mais mirabolantes. Só faltava mesmo um dia destes inventarmos uma águia que desce do topo de um estádio para agarrar um naco de carne, ao som dos urros extasiados e aplausos descoordenados de 70.000 criaturas. Mas não, bolas. Isso era demais…ainda nos chamavam selvagens ou bárbaros terceiro-mundistas, e nós não queremos isso.

Mais de 18 anos e o 9º ano de escolaridade

Caro leitor,

Venho em 1ª mão informar que os sportinguistas voltam a ter uma razão para festejarem: a minha disponibilidade para escrever neste blog vai reduzir drasticamente a curto prazo. A razão é que o alter-ego do Homem da Luz tem um trabalho novo (não, não sou eu que vou substituir o Paulo Bento, acho que vai ser o Luís Campos...) e faço questão de ter um comportamento oposto ao que Liedson&Companhia têm nos treinos e jogos. Como tal, vou aplicar-me e esforçar-me ao máximo para ser muito mais do que um campeão da 1ª jornada, título que vai enriquecer a loja de antiguidades que é a Sala de Troféus do SCP. Graças a deus e à antiga carreira 33 (ainda nem se sonhava que haveria uma estação dos Altos dos Moinhos) já tenho mais de 25 anos de 3º anel, o que me permitiu aprender muita coisa e crescer como Homem. Por exemplo, aprendi a dar o meu melhor todos os dias (e não só quando vêm olheiros do Manchester), aprendi a saber que quando as coisas correm mal não devo pôr a culpa nos outros (mesmo que sejam árbitros), aprendi a nunca insultar os meus superiores à porta do seu gabinete (isso é para os selvagens do “clube eclético” fazerem à porta 10A), aprendi a ser humilde na hora do sucesso (evitar sempre transformar-me no menino de oiro da Fátima Lopes), aprendi a ter maturidade na hora de acatar as decisões dos meus superiores (fazer birrinha por ter de treinar penaltys, não é coisa de gente digna), aprendi a respeitar as pessoas pelas suas atitudes e não pelas suas vestes e aparência (em vez de longas barbas, um tipo pode usar fato com símbolo do Colégio Militar à lapela e ser um taberneiro na mesma), e aprendi que só os grandes homens conseguem dar a volta a uma situação adversa (por isso é que o Cardozo e o Adu estão tão bem no nosso clube).
Para qualquer benfiquista estas lições de vida são óbvias, mas lá está, o que é fácil para uns, é difícil para outros. Ou seja, a vida é um pouco como marcar penaltys, mas o que tem graça é que esta, já não aprendi com o meu clube...

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Os Quinitos, os Mourinhos e os abutres


Se este blog fosse um bicho, então seria um abutre. Na melhor das hipóteses, uma hiena. Isto porque se alimenta do infortúnio alheio, com os seus autores permanentemente empoleirados no galho do embondeiro à espera da escorregadela do rival. E foi com base nesta rivalidade que conseguimos fidelizar para cima de nove leitores. Um sucesso, portanto.
Ora, como sabemos, nas paragens do campeonato como a deste fim-de-semana a rivalidade esmorece. Pior mesmo só quando joga a Selecção. Aí temos que fingir que somos todos amiguinhos, que o Nuno Gomes é o melhor atacante do mundo e que o Ricardo é um paradigma de segurança entre os postes.
É nestas alturas que aqui a malta tem que puxar pela cabecinha para manter as hostes entretidas. Assim sendo, é altura de fazermos um balanço da Liga Record - Impróprio para Cardíacos, uma competição que define quem são os Quinitos e os Mourinhos deste blog.
Como poderão reparar, a primeira nota de relevo vai para a extrema coerência dos autores deste pasquim online: se um ocupa a 2ª posição, o outro ocupa igual posição...a contar do fim. Outras notas de destaque vão para o líder Fredos, para a lamentável prestação do nosso conhecido Reximperator (que apesar de verde segura a lanterna vermelha) e para a recuperação classificativa do saudoso Dr. Oscar Barbosa (onde anda, amigo?).
Sabemos bem que no final é que se fazem as contas, mas nada nos impede de até lá irmos dando umas bicadinhas no vizinho. Como os abutres, é bom de ver.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Aos soluços

Não caro leitor, não vou continuar a fazer piadas sobre as noites loucas de Soares Franco, que por acaso até sucedem às tardes loucas de Dias da Cunha. Sei muito bem que bêbados são os adeptos benfiquistas, no Sporting os bêbados vão para presidente e é essa a única razão que eu vejo para se dizer que é um clube elitista. Hick!

Depois da figadeira de vinho do porto aciganado no Sábado, o Benfica foi à Ucrânia vencer uma equipa de brazucas tão habituados a temperaturas negativas, como nós a ver o Sporting ganhar jogos fora. Uma pessoa olhava para campo e parecia que estava a olhar para um copo de caipirinha.
Obviamente que o Benfica ganhou, o que não serviu para seguirmos em frente na liga milionária, mas serviu para mostrar duas coisas:
  • O Cardozo só consegue marcar golos de cabeça com um gorro vestido, o que me faz pensar que para o próximo ano o equipamento alternativo do Benfica será inspirado em Kumba Yalá;

  • Não dá para usar o Luís Filipe como extremo, mas a contar com aquilo que toda a gente lhe chama deve dar perfeitamente para usar como estrume.

Estar a 7 pontos do líder e passar para a Uefa é algo que não satisfaz um benfiquista, é como pedir um vinho tinto e darem-nos um vinho verde. Não fosse o Sporting (que se arrisca a tornar no meu 2º clube, tal é a quantidade de alegrias que me tem dado esta época) e eu acho que andava para aí tão mal, tão mal, tão mal, que ainda me arriscava a ser o próximo presidente leonino.

PS- Gostaria de enviar um abraço ao jogador Vukcevic, que no último jogo do Sporting passou por um mau bocado. Segundo os jornais desportivos, parece que poucos minutos depois de ter entrado em campo, o atleta sofreu um ataque de pânico e teve de ser substituído. É caso para dizer que, ao contrário da maioria dos reforços leoninos desta época, o montenegrino já está totalmente identificado com o clube. Hick!

Obrigado, Presidente.

Confesso que não sou grande admirador do Presidente Vieira (Luís Filipe, porque do Manuel João gosto muito). Apesar de me divertir cada vez que o ouço (hum? hum?), considero o "Charlot dos pneus" um grande enganador e faz-me confusão como é que os tão propalados milhões e milhões de benfiquistas são vigarizados há anos por esta criatura, mesmo quando confrontados com as evidências em cada final de época.
Mas ontem à noite tudo mudou. No meu coração, que foge de sentimentos pro-benfiquistas como o Superman da kryptonite, nasceu uma pequena centelha de carinho pelo bigodudo e aburgessado dirigente. Desde ontem que guardo LFV no mesmo cantinho do meu coração onde já moram o Badaró, a Alexandra Solnado e o coyote do Bip-Bip.
Para os menos atentos, recordo que Luís Filipe Vieira dedicou a vitória em Donetsk «a todos aqueles que vivem à custa de dizer mal do Benfica». Foi um bonito gesto que me tocou fundo. Não precisava. Foi um gesto ainda mais bonito, porque foi espontâneo. E vocês sabem melhor que ninguém que eu nunca pedi nada em troca dos meus posts. Nem um pelinho do buço da Vanessa Fernandes!

Por isso Presidente Luís Filipe, vai daqui um forte abraço de agradecimento d'O 7 Maldito (mas não se encoste muito que eu não quero ficar a cheirar a fritos).

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Petúnias

No ínicio do Verão passado, depois de aturadas negociações com a minha mulher, decidimos plantar umas petúnias nos vasos que temos na marquise. “Se tu podes ter o canal Venus, eu posso ter petúnias”, afirmou decidida, batendo com a mão na mesa. Pareceu-me justo.
Juntámos água, terra e sementes nas proporções certas e umas semanas depois já as petúnias floresciam (ou será fluoresciam?) radiosas.
Enquanto houve sol e calor desenvolveram-se espectacularmente, multiplicando-se numa miríade de cores que encantava todos os que visitavam a nossa casa. Atingiram uma dimensão considerável, chegando mesmo a sufocar o pobre cacto do vaso do lado.
Com a chegada do Inverno, estas flores da família das solanáceas começaram a definhar. Pouco a pouco, foram-se fechando, as folhas secando e os caules amarelando. Chegámos a pensar que era uma manobra de retaliação do oprimido cacto, mas a vizinha de baixo – que é boa jardineira – rapidamente nos disse que não. Que é mesmo assim. Que as petúnias, em chegando o Inverno, vão-se abaixo das canetas. “E o que é que nos fazemos?”, perguntámos. “Cortem tudo pela raíz e no próximo Verão elas voltam a crescer”, sentenciou.
Dito e feito. Com três tesouradas bem aplicadas lá foram as petúnias, para gáudio do velhaco cacto e tristeza da patroa.

Depois do que vi ontem em Alvalade, e na sequência dos trágicos acontecimentos das últimas semanas, não me restam quaisquer dúvidas: este Sporting só vai lá como as petúnias. É preciso uma valente tesourada que corte rapidamente pela raíz a direcção, o treinador e a equipa. Depois, é só ficar à espera do próximo Verão.

PS (com 4 horas de atraso): se este blogue fosse o Record, este post teria o título "Grande Poda", mas não é amigos, não é...