domingo, 4 de novembro de 2007

Crónicas do Sahara – Parte II (e última porque senão no Natal ainda estamos nisto)

Como sabem, a Líbia é um estado totalitário governado com mão de ferro há 38 anos pelo Coronel Muhamar Kadhaffi. Durante décadas, o seu país funcionou como uma espécie de Harvard ou Sorbonne do terrorismo internacional: operacionais da OLP, da ETA, da Al-Qaeda ou do IRA acorriam à Grande Jamayria Popular Islâmica (como o Coronel rebaptizou o país) para tirar magníficas pós-graduações em “Rebentamento de carros-bomba”, “Despedaçamento de Governantes Imperialistas”, “Auto-explosão em Transportes Públicos” e por aí fora. Uns dos seus alunos receberam um Doutoramento Honoris Causa ao mandarem pelos ares (literalmente) um 747 da British Airways sobre a localidade escocesa de Lockerbie e consta que Olegário Benquerença terá aí aprendido como rebentar com as aspirações do Sporting.
Dentro de portas, o senhor também não brinca em serviço. A malta fia bem fininho, de tal maneira que não há vestígios de qualquer oposição política, e a palavra crime não consta dos dicionários locais. Drogas e alcool são proibidas, sob pena de quem prevaricar passar a usar a aliança de casamento no pulso, se é que me faço entender...
Foragido da capital Tripoli, refugiei-me no deserto do Sahara, onde fui piamente acolhido por uma simpática família touareg. E foi aí que pude ver com os meus próprios olhos as horríveis torturas e provações a que o ditador sujeita os seus cidadãos. Creio mesmo ter sido a primeira vez que um ocidental terá presenciado tamanhas atrocidades, por isso, mais do que um post, este texto é um grito desesperado de alerta e pedido de ajuda ao Mundo em nome de toda a população líbia.
Era Domingo e o sol já tinha desaparecido no horizonte, cobrindo aqueles mares de areia com um fino manto alaranjado. A família Mouftah (nome fictício) reunia-se para jantar, sentando-se nas almofadas dispostas em torno de um velho tapete em tons de castanho. No centro, tâmaras, couscous e um estufado de borrego e legumes, com chá verde a acompanhar. Aparentemente, tudo decorria com normalidade. Mas subitamente, os acontecimentos precipitaram-se. O chefe de família ligou a TV de fabrico chinês que se encontrava no canto da sala. Depois de um rápido zapping, sintonizou num canal local, e o horror abateu-se sobre aquela casa: em directo desde a ilha da Madeira transmitia-se o Nacional x Sporting.
Obrigar os pobre líbios a assistir a um jogo como este é uma barbárie. Nem os piores tiranos e os mais sanguinários genocidas merecem tamanho castigo. O sofrimento daquelas gentes era evidente: cada nova jogada do Yannick provocava-lhes traumas irreparáveis. Cada grito da claque do Nacional causava-lhes esgares da mais insuportável dor. Cada entrada do Ávalos levava-os ao desespero. Foram 90 minutos de fazer inveja aos carcereiros de Guantanamo.
Por menos do que isto já a ONU enviou batalhões de capacetes azuis. Por menos do que isto já os Estados Unidos arrasaram civilizações. Por menos que isto já a Oprah Winfrey nos obrigou a ver programas de beneficiência com a Celine Dion e o Michael Bublé.
A quem me estiver a ouvir: há um povo em sofrimento, a sentir na pele as mais atrozes torturas. Ajudemo-los antes que seja tarde, pois temo que na noite de Sábado tenham sido forçados a ver o Paços de Ferreira x Benfica, em mais uma brutal forma de tortura psicológica que pode mesmo ter terminado em hediondos suicídios colectivos.

PS: já que estamos em maré de solidariedade, quero deixar nestas horas difíceis uma palavra de apoio às alternadeiras portuenses. Com tanto favorecimento nas últimas jornadas ali para os lados do Dragão, temo que as senhoras estejam a fazer horas extraordinárias para dar despacho às filas de árbitros e fiscais-de-linha que entretanto se formaram.

10 comentários:

Anônimo disse...

Impressionante relato. Dramático, diria mesmo.
E os árabes não contaram a história do Ali Bábá e dos 38 ladrões? Parece que 2 deles estão a monte e foram vistos no fim-de-semana. Vestidos de preto, um no dragão e o outro na Mata Real.

Anônimo disse...

Mais um triste fim de semana futebolístico com os suspeitos do costume a serem carregadinhos ao colo...haja Paixão!

Anônimo disse...

27 a fazer lembrar Yannick...completamente fora de forma. Longe do fulgor a q nos habituou... uma sombra de si próprio.

Gonçalo disse...

"No Sporting, com crise ou sem crise, há aspectos bons e menos bons que devem ser destacados e, neste jogo, os aspectos menos bons já começaram a ser rectificados, existindo mais jogo lateral e uma dissipação do losango que exige muito dos seus interiores centrocampistas, podendo-se verificar uma maior fixação de Izmailov na ala direita, de Vukcevic na esquerda, e de Romagnoli a deambular por ambas as alas criando as envolventes triangulações que deliciaram os adeptos no final da época passada, tendo ainda a ajuda de um jogador como Abel que está numa forma impressionante tanto a atacar como defender."

A restante análise da jornada em http://osabordapalavra.blogspot.com

Anônimo disse...

Análise da jornada? Mas...o qé q isso interessa?

Anônimo disse...

O 747 era da Pan Am

O 7 Maldito disse...

Obrigado pela correcção camarada anónimo. Era da Pan Am sim senhor. Tal como o Abel, assumo as minhas responsabilidades. Como castigo, estagiarei uma semana na redacção de A Bola.

Anônimo disse...

e temos um aprendiz de Rui Santos entre nos?

Anônimo disse...

fala de bola consul, fala de bola pá! e a entrada do Bynia, que categoria hum?

Anônimo disse...

mas alguém nega?? o vosso problema é esse.. até vos custa que nós admitamos.. de certeza que não encontras nenhum benfiquista a defender a entrada dele ontem, nem a entrada do luis filipe na equipa, nem muita outra coisa. vemos as coisas como elas são..com toda a dranquilidade..
Vivó Benfica lagarto aziado!!