Isto de estar de férias tem as suas vantagens. Para além das óbvias, uma delas é a maior disponibilidade para nos inteirarmos do que se passa à nossa volta. É que trabalhar, parecendo que não, ainda nos rouba bastante tempo, impossibilitando-nos de jogar sueca, dormir até ao meio-dia, embriagarmo-nos a meio da tarde, ler convenientemente a imprensa diária e seguir os noticiários televisivos. Por isso, aproveitei estes primeiros dias para me actualizar. E para me embriagar a meio da tarde, obviamente.
Junto-me agora à maioria da população portuguesa no sentimento de insegurança generalizada, consequência desta recente vaga de criminalidade violenta. Sucedem-se os assaltos a dependencias bancárias, os roubos de caixas Multibanco, os casos de carjacking, os tiroteios em bairos problemáticos, a violência doméstica (a que não são alheios os resultados do Benfica...), emboscadas a viaturas de transporte de valores, penalties contra o Sporting e roubos de pastilhas Gorila nos supermercados. Esta vaga tem pertubado de tal forma a população que motivou uma intervenção do Presidente da República, que motivou uma intervenção do Procurador Geral da República, que motivou uma intervenção do Ministro da Administração Interna, que no seu conjunto motivaram grandes gargalhadas por parte dos bandidos a operar em território nacional.
Quando pensávamos que se descessemos mais baixo Lisboa se passaria a chamar Nova São Paulo, eis que a televisão volta a desempenhar um papel decisivo, levando em directo às casas de milhões de portugueses imagens de extrema violência. Depois de há semanas termos visto em directo a actuação da dupla de cantores sertanejos assaltantes de bancos Wellington e Nilson, ontem o país ficou chocado com a brutal actuação daquele a que já chamam “O estrangulador de Benfica”, perigoso assassino cujo modus operandi consiste em abordar as suas vítimas por trás e apertar-lhes o pescoço até à consumação da morte por estrangulamento. Por mero acaso desta vez a vítima escapou incólume. E digo mero acaso porque mais uma vez ficou provada a total incapacidade das autoridades para lidar com este novo tipo de meliantes, armados com a mais recente tecnologia e muito bem organizados. Este homem é um perigo público e continua a monte. Quando foi visto pela última vez apresentava farta pilosidade facial, vestes andrajosas e um barrete com chifres diabólicos. O seu ar tresloucado e o facto de gritar constantemente “O Benfica vai ser campeão!” deixa antever graves problemas do foro psiquiátrico. Está armado com o jornal “A Bola” e seis crónicas do Rui Cartaxana. Aparentemente, não actua sozinho: a polícia tem informações que indicam ter seis milhões de cúmplices. Se o vir, refugie-se em lugar seguro e informe com urgência as autoridades.
Um Panegírico da Argentina
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