O telefone toca. Toca…toca…toca. Quatro da tarde. Será que não trabalham da “parte da tarde”? Finalmente, uma qualquer D. Edna faz o favor de pousar a Nova Gente e atende. Digo ao que vou. Que quero saber se já repararam o meu forno de encastrar, que isto de comer pizzas todos os dias sai caro e não ajuda à dieta que jurei que era desta. “Hum…”, rosna enquanto descasca uma laranja (8 em 10 recepções deste país cheiram a laranja. Para além da laranja Baía e da laranja Valência, deviam criar a laranja Recepcionista), “vou passar ao técnico”.
Mais uns segundos de molho, desta vez a ouvir as Quatro Estações de Vivaldi em versão polifónica. A música traz-me à cabeça memórias de infância, o Boletim Metereológico em horário nobre, o meu pai a mandar-nos calar para ouvir “o tempo”. Quando já estou a meio caminho entre o Nirvana e o anti-ciclone dos Açores, a sonhar com o engenheiro Anthímio de Azevedo e as neblinas matinais a norte do Cabo Carvoeiro, oiço uma voz. Será São Pedro? Não, é o técnico.
“Ai já passaram cinco dias? Pois…ora bem…portantos…isto normalmente são cinco diazinhos, mas o amigo já sabe como é…mete-se a Páscoa…e aqui os funcionários vão à terra…e estamos cheios de serviço…por isso aqui o seu forninho só está pronto daqui a duas semaninhas, tá bem?”
Claro que tá bem, o forninho daqui a umas semaninhas. O que é que um tipo há-de dizer mais? “O técnico”, uma figura mítica tipicamente lusitana que justifica quase tudo (“estamos à espera do técnico”, “o técnico só pode ir aí para o mês que vem”, “o técnico é que sabe”, etc…), tem a faca, o queijo e o forno de encastrar na mão, e ao consumidor não resta senão sujeitar-se aos seus humores. Neste caso, “o técnico” socorreu-se do “mete-se”, uma figura não-jurídica e não-institucionalizada mas comumente aceite quando queremos desculpar incompetências de vária sorte que culminam invariavelmente em atrasos. Também é muito utilizada quando a preguiça fala mais alto. Ou quando apetece.
Levante o dedo (tu não, Shéu) quem nunca na vida ouviu um “mete-se”. Ou, caso trabalhe no sector terciário (………………pausa para consultarem a Wikipédia……………….), quem nunca proferiu um “mete-se” em vão.
Para melhor entendermos a dimensão e aplicação do “mete-se”, debrucemo-nos sobre um exemplo prático. Imagine que quer trocar os alumínios da marquise, derivado das borrachas já não vedarem e a chuva entrar. Ora isso é impossível porque:
“Mete-se o Verão”
“Mete-se o Inverno”
“Mete-se o batizado do meu afilhado”
“Mete-se a operação às varizes da minha sogra e o amigo já sabe como andam os hospitais isto é uma vergonha tá bom é para os ricos.”
“Mete-se o Benfica”
“Mete-se o Natal”
O caso específico do “mete-se o Natal”, é de todos aquele que se reveste de maior complexidade (sem com isto querer insinuar que as varizes das sogras são problema de menor relevância). Ao contrário do que o leitor sagaz estará neste momento a considerar, o Natal é muito mais do que a noite de 24 e o dia 25 de Dezembro. Por Natal, o electricista, o mecânico, a call-girl, o funcionário do 12º Bairro Fiscal e a TV Cabo entendem aquele período de tempo compreendido entre as vésperas de Natal – demasiado vago, chega a começar em Novembro – e o Carnaval inclusive, mais dois ou três dias para recuperar da folia no corso em Torres Vedras ou Ovar.
A União Europeia, o Banco Mundial, o GRCS, a OCDE, o FMI e outras instituições espantam-se como é que os trabalhadores portugueses, que quando estão “lá fora” são tão bons, produzem tão pouco dentro de portas. Ora aqui O 7 Maldito, sem querer dar uma de sociólogo, economista ou Nuno Rogeiro (um mix de sociólogo, economista, General Colin Powell, Belle Dominique e Rui Santos), garante que é culpa do “mete-se”. As imperiais e os percebes também não ficam isentos de culpas, é claro. Com tanto “mete-se”, Portugal está funcionalmente parado uns 146 dias/ano. Nesses dias, não há agricultura, pesca, construção civil, mecânica ou blogues. Sim, blogues, porque esta semana mete-se o 1º de Maio mais a ponte e não me estou a ver vir aqui falar de futebol. Tá bem?
Eh, eh, eh...Meti-vos no meio do texto a sigla de um organismo que não existe (o GRCS) e vocês nem toparam. Desculpem lá, mas eu divirto-me com estas pequenas coisas.
Um Panegírico da Argentina
Há um ano
10 comentários:
Que disparate de post!|!!! Mas que raio é quer isto tema ver com o deporto-rei e com os menos favorecidos (lagartos)??
Vá lá 7, afia lá a unha e escreve alguma coisa que faça sentido...
vai ler a bola ó lampião!
7, andas a "meter" qualquer coisinha, andas....
ROFLH
* * * * *
Abraço Leonino
Mete-se um cigarro aqui, mete-se outro café ali, ai tá stress ora mete-se outro cigarro, e depois mete-se o mail do amigo a combinar a noite de copos para esquecer as desgraças "que isto não está fácil" e mete-se mais uma mensagem do outro amigo que tb não está nada bem, entre outras metidas de cafés e cigarros como se não houvesse amanhã.
E depois não se mete nada neste País e, consequentemente, não se mete nada ao bolso que no fundo é o que interessa.
(Como eu te percebo, e eu não fumo, não bebo café, não gosto de falar ao telemóvel e não gosto de "navegar" na net).
PS: Curti o post, o único que consigo comentar sem constrangimentos de uma mulher que, definitely, não calça chuteiras :)
Pior que o mete-se, foi teres metido a porra da sigla.
Pior que o mete-se, foi teres mentido, pois essa sigla tem um significado.
Guia de Recolhimento de Contribuição Sindical
Mete-se uma ponte e pronto, já não se investiga.
Boa ponte.
Xinfrim pidesco.
Então e o teu négóciu dé curtiçá??
E se arranjares uma bisnaga de Vasily, ainda "metes" mais qualquer coisa.
Só espero que este fim-de-semana não te lembres de ir para Londres ou para outro qualquer destino, é que nesta jornada vamos à capital do móvel e é para ganhar!!
deves
Postar um comentário