E finalmente,
o Benfica conseguiu contratar um treinador. Não foi fácil, mas lá convenceram um tal de Quique Flores a sentar-se na verdadeira “cadeira-eléctrica” que se tornou o banco Recaro destinado aos “misters” encarnados.
Este processo de selecção do novo treinador obedeceu exactamente ao mesmo critério com que um jovem adolescente tenta “sacar” uma miúda num Sábado à noite: nenhum.
Rui Costa encarnou (o mais benfiquista de todos os verbos) o tal adolescente em busca de companhia. Despiu o fato de treino e abotoou-se no seu melhor fatinho italiano. Fez a barba, perfumou-se e aí foi ele para a discoteca. Encostou-se ao balcão, pediu uma tacinha de Magos e começou a perscutar a pista de dança, qual águia em busca da presa (põe os olhos nestas benfiquistas figuras de estilo, Vítor Serpa).
Não teve que olhar muito até encontrar a primeira potencial candidata, uma morena lusitana emigrada há alguns anos em Manchester depois de ter brilhado em Portugal em concursos de misses teenagers. O jovem Rui deu o seu melhor. Interpretou as melhores canções do bandido. Mas a música soava desafinada e antiga aos ouvidos da portuguesa, que rapidamente se pôs a andar.
Rui sofreu o seu primeiro desgosto de amor. Afinal, não pensava que houvesse alguém capaz de lhe resistir. Mas como qualquer jovem na sua primeira saída nocturna, Rui é persistente. Voltou ao bar, pediu mais uma tacinha de Magos e olhou à sua volta à procura da candidata seguinte. E foi na zona VIP que a encontrou: uma veterana sueca, verdadeira bomba sexual dos anos 80, já muito caída mas ainda bem capaz de despertar a líbido do sequioso Rui. O adolescente deu o seu melhor: falou-lhe de aviões particulares e hoteis luxuosos. Chamou as televisões para aparecerem de “surpresa” e mostrarem ao mundo a sua mais recente conquista. Mas o ego deste jovem garanhão sofreu mais um rude golpe: a veterana não estava para aí virada. Já viu o mundo, dormiu nos melhores hoteis e comeu nos melhores restaurantes, por isso não se deixou impressionar pelas vãs promessas daquele jovem impetuoso.
“Portugal, darling, só para jogar golfe”. E lá teve Rui que meter a viola no saco.
De volta ao balcão e às tacinhas de espumante, Rui prepara nova investida. Tinha prometido aos seus amigos que não voltaria para casa de mãos a abanar, por isso não havia tempo a perder. Olha, olha, olha, e o seu olhar cruza-se com o de uma sexy dinamarquesa com quem já tinha travado conhecimento há escassos meses. Mais uma vez o nosso Rui desfia todo um rol de promessas megalómanas. A escandinava ouve atentamente, mas sem nunca alimentar grandes esperanças ao damaiense. Afinal, pretendentes é o que não lhe falta, e por muito que puxe pela loira cabeça, não consegue encontrar uma boa razão para se amancebar com aquele rapazola. Diz para Rui esperar enquanto vai à casa de banho e pira-se no primeiro táxi que lhe aparece. Rui espera, espera, espera e muito tempo depois lá percebe que acaba de levar mais uma tampa. Afinal as coisas são mais difíceis do que lhe prometido o seu amigo negociante de pneus...
É aqui que o miúdo dá uma espreitadela ao seu Franck Muller Cintrée Curvex e percebe que daí a minutos a discoteca fecha. Por esta altura já são poucas as serigaitas que dançam na pista. Poucas e feias, porque as que valiam verdadeiramente a pena foram-se “orientando” e desaparecendo. Desesperado, Rui pede mais uma taça de espumante. Os efeitos do álcool já se fazem sentir, toldando-lhe os sentidos. É nestes perigosos momentos que a explosiva mistura de testosterona e etanol fazem com que a Leonor Pinhão se pareça com a Giselle Bundchen. Desesperado, Rui lança-se sobre a última moça que resta na pista, dançando sozinha de olhos fechados ao som de um velho tema de Tony de Matos. É uma jovem espanhola. Feiosa, ninguém lhe pega há oito meses. Mas disfarça como a maioria das espanholas, à custa de 10 centímetros de saltos e outros tantos de maquilhagem. Rui ensaia um pezinho de dança e com a voz entremelada segreda-lhe ao ouvido promessas maravilhosas, de um futuro recheado de conquistas, de multidões a glorificarem o fruto da sua união e de uma águia a sobrevoá-los para depois aterrar num montinho de carne picada. A espanhola, jovem e inocente, acredita em tudo menos naquele absurdo da águia. E diz a Rui que sim, que vai com ele. Afinal já é tarde, há quase um ano que não vê o padeiro, e olha, bem vistas as coisas mais vale uma águia na mão do que duas a voar.
O que a jovem espanhola não sabe, é que amanhã quando acordar vai estar com uma valente dor de cabeça.