terça-feira, 2 de outubro de 2007

A gravata

Regra geral passo os fins-de-semana fora de Lisboa. “Aposto que tens uma herdade para onde vais caçar raposas a cavalo enquanto os trabalhadores agrícolas morrem à fome, tal como fazem todos os lagartos betinhos e milionários”, já devem estar os benfiquistas a bramar. Não, por acaso não. Costumo ir algures para a zona Oeste que, contrariamente ao que reza a lenda, cada vez tem mais benfiquistas. Exactamente por causa desta inflação vermelha, decidi não acompanhar o clássico do fim-de-semana no café onde sempre vou, apesar do proprietário ser sportinguista dos quatro costados. Até porque das últimas vezes que lá vi jogos do Sporting a coisa não correu bem. E como se sabe, nestas coisas é muito mais fácil pôr as culpas em cima do azar que o café dá do que na táctica do Peseiro ou nos pés-tijolos do Pinilla.
Decidi então ligar para um local por onde já tinha passado dezenas de vezes, mas onde nunca tinha parado: o Sporting Clube da Estrada, filial nº 173 do de Portugal, sito no Lugar da Estrada, algures ali para os lados da Consolação, Peniche. Quis saber se dava para ir lá ver o jogo com um ou dois amigos, se tinham bar, etc, etc…
Atenderam-me o telefone com total desconfiança. “Olha, olha, o número até é de Lisboa…você está mazé a querer pregar-nos uma partida!”. Que não, repliquei. Que só queria ver o jogo em verde e sã companhia, longe da família benfiquista e seus agoiros e mezinhas. A resposta, chocante, não tardou: “Oh amigo, olhe que nós aqui não temos nada a ver com o Sporting”. Faço um parêntesis para esclarecer que a fachada da sede do Sporting Clube da Estrada é às listas verdes e brancas e o enorme símbolo lá pintado é igual ao do SCP apenas mudando a última letra. “Aliás, o Presidente e muitos membros da direcção são do Benfica”, concluiu. “Infiéis! Hereges! Por menos do que isso já muitos foram obrigados a ver filmes do João Botelho!”, não disse eu, mas devia ter dito.
Tive que buscar nova alternativa.
Em pouco tempo descobri o Núcleo Sportinguista de Peniche. Desta vez apareci sem ligar. À minha espera, um local de culto. Uma espécie de Santuário de Fátima para os fiéis sportinguistas penicheiros. Mais feliz fiquei quando me disseram que aquele era o Núcleo nº 7 - 1 (o 7 é o de Coimbra e o de Peniche uma filial). Que número auspicioso! Três salas (uma para não fumadores), um bar, várias televisões com ecrãs de dimensão apropriada às cataratas da maior parte dos presentes, posters autografados, manchetes emolduradas, troféus e um magnífico e enorme leão de loiça assente sobre relva artificial, segurando com pose de Estado uma bola verde e branca debaixo da pata. Várias minis depois (os restantes convidados bebiam preferencialmente taças de tinto de penalty, no que veio a revelar-se uma premonição para o jogo que se seguiria) percebi que bebes sim, mas comes não, à excepção de batatas fritas de pacote. Nem estava a pedir uma raia de sequinho, iguaria típica da zona. Para a ocasião bastava-me um pires de tremoço, marisco imortalizado pelo Pantera Rosa. Em cidade de pescadores percebi rapidamente que ali, no que diz respeito a petiscos, quem vai ao mar avia-se em terra.
Uma vez sentados todos os 140 tele-espectadores (138 homens e duas mulheres, uma delas bem gira e muito assustada) começou a transmissão da partida. De repente, filmam o banco do Sporting. Silêncio na sala. Tensão no ar. Grande plano de Paulo Bento. Subitamente, o grito vindo lá de trás: “A GRAVATA!!!”. Como fogo na palha, a frase espalhou-se pela sala. Só eu e um inglês atrás de mim não percebíamos. “O gajo voltou a pôr aquela gravata!”, disse um. “É pá, tá outra vez com aquela gravata…” desesperavam outros. “A gravata isto, a gravata aquilo” e o ambiente passou de total confiança para o mais puro desânimo. Creio mesmo que houve quem se tivesse levantado e regressado a casa. A princípio coloquei em causa a sanidade mental daquelas boas gentes. O que é que eles sabiam e eu não!?
O jogo veio a dar-lhes razão. Tenho hoje a certeza que a culpa do vergonhoso empate não foi do árbitro, nem do Quim, nem do losango. A culpa foi claramente daquela gravata.
Por isso Paulo Bento, hoje quando subires ao nevado do Estádio NSC Olympiyskiy de bola cor de laranja debaixo do braço, peço-te encarecidamente que envergues o teu melhor fato de treino.

18 comentários:

Anônimo disse...

Caro Dr Oscar Barbosa, permita-me que o corrija quando diz que "fomos campeões com o Trappatonni". Será que alguém se pode esquecer do Sr Cunha Leal? Nesse ano LFV disse que preferia ter "alguém na liga" que investir em reforços. O jogo estoril-benfica, no estadio do algarve foi a roubalheira mais escandalosa que a filha do néné mudar de sexo. O onze campeão desse ano foi, pedro henriques, pedro proença, olegario bencarença, bruno paixão, paulo paraty....
este ano a roubalheira vai pelo mesmo caminho, só que a bimby já não faz bolinhos de tutti fruti.

Anônimo disse...

AH!AH!AH!AH!AH!
Um aplauso para este Dragão. Tem razões de sobra para andar bem-humorado, não é?

Anônimo disse...

Caro Dragão de Lisboa.
Com Cunha Leal ou sem Cunha Leal o facto é que fomos campeões. E outro facto é que o FCP teve 3 treinadores não tendo acertado com nenhum deles.
Aliás, nesse ano, a ser alguém campeão que não o Benfica, esse alguém seria o Sporting que esteve bem mais perto de o conseguir que o FCP.

Sobre a entrada do Maldito 7, fez-me lembrar tempos idos.
Há coisa de 20 anos visitei amiúde o meu pai em Caracas e visionei muitos jogos do nosso campeonato na sede do Sporting Clube Pró-Venezuela. Raramente os jogos eram transmitidos em directo. Umas vezes viamo-los em diferido, outras, vinham numa cassete trazida pelo Tristar da TAP... Foi assim que, ao lado do meu então doente pai vi os 7-1 do Sporting sobre o meu Benfica... Alguns benfiquistas iam assintir aos jogos nesta filial do Sporting e aí nunca presenciei qualquer discriminação por essa razão. Havia umas bocas, umas picardias, mas o facto de sermos portugueses ou descendentes de portugueses era o que mais importava. O Sr. Américo Nunes era o presidente da filial e muito amigo do meu pai. Caso lhe chegue ao conhecimento este Blog, fica um forte abraço e a promessa duma visita por alturas do Natal.

O. Barbosa

Anônimo disse...

Mais uma teoria do cliente habitual.
Porque raio as pessoas que não são superticiosas (falo por mim), quando toca ao futebol ficam com todas atrofiadas.
Isto sim é um assunto para aprofundar (quais os mais doentes? Benfiquistas, portistas, sportinguistas?), e que pode levantar tanta ou mais polémica como um derby lisboeta.

Anônimo disse...

so para finalizar...e realmente engracado ver um dragao a falar de favores na liga e de campeonatos decididos na liga, nao e? :)
o que vale e que este blog e para rir, senao ate me preocupava o facto de ele poder estar a falar a serio... :) :)

Anônimo disse...

em vez da segunda liga, ler secretaria sff :)
(o tom jocoso, contudo, mantem-se)

Anônimo disse...

Foi com alegria que hoje vi que no campeonato ucraniano ha um frangueiro maior que o Stoj. Bem haja!!

Visigordo disse...

Blasfémia, 7 maldito, blasfémia!!!
O que é que queres dizer com isso, hein?
Que a gravata não resolve e que não tem super-poderes?
Que o Paulo B...e...Zoooiiiiinnnggg....não......bzzzzzzzz......Camach.......zzzzzzzzn......Alô.......escuto........Terra.

Virgílio disse...

Da gravata não é!

Já podes avisar os "amigos" de Peniche para descansarem!

SL!

O 7 Maldito disse...

Volto a quebrar a regra "não comentamos comentários" para fazer o seguinte esclarecimento: Bento apresentou-se de gravata, mas o que é facto é que era outra gravata. Não era "aquela gravata" lisa que usou no fim-de-semana e alegadamente noutras ocasiões.
A razão continua do lado dos amigos de Peniche, portanto.

Anônimo disse...

Grande Sporting!!!
Com ou sem gravata temos é de jogar com atitude que penso foi o que faltou na luz para trazermos os 3 pontos.
Felizmente ontem tivemos vontade de ganhar e com alguma sorte e muita luta conseguimos. Grande exibição do Stojkovic e parabéns ao Polga!!

Força hoje para o benfas e o FCP.

Anônimo disse...

Belíssima crónica 7!

Anônimo disse...

7 Maldito,

lindoo, fui às lágrimas!!!
Tens que me dizer onde é esse santuário, quando tiver por esses lados, não perco um joguinho do Sporting em tão auspiciosa companhia, com um saco de tremoços debaixo do braço!!!

Nands SCP

Anônimo disse...

"Não tenho amigos com quem jantar e sair"
josé antónio camacho (o jogo 03/01/07)
podiamos organizar um jantar de solidariedade ao camacho. proponho o "pinóquio", nos restauradores em lisboa

Anônimo disse...

Digam ao tipo para levar uma corda e um pente em vez da gravata. O primeiro para se enforcar quando perder o jogo (um clássico) e o pente para que caso após o enforcamento o risco fique ao lado. Muahhhh

PS - Para a proxima vai à casa do Banfas de Peniche pq ai sim, as iguarias são um luxo de criar água na boca.

Bardo "O Procriador"

Anônimo disse...

Bardo, não me digas que lá "há miúdos"?
Ahahahahahah!

Anônimo disse...

Estes gajos são cómicos. A culpa é sempre de alguém ou de alguma coisa, árbitros, fiscais de linha, adeptos adversários, penteado do Paulo Bento e agora a gravata.
Tudo menos a cambada de meninos que fazem o plantel do Sporting.
A verdadeira culpa é do Nuno Gomes que falhou um golo feito, esse sim é o verdadeiro culpado.

Anônimo disse...

Maldito 7,

Cadê tremoço, cadê raia de sequinho, mas no que toca ao roçar da minha perna na tua lá no Núcleo de Peniche, não obtive resposta. O Futebol é da facto castrador.

Não deveria eu de estar assustada com este meu vão arrojo...