terça-feira, 30 de outubro de 2007

Crónicas do Sahara - Parte I

Inicio agora as crónicas que relatam a minha viagem à Líbia para vender este blogue, e todas as peripécias que a envolveram. Das negociações propriamente ditas às práticas ditatoriais do Coronel Kadhaffi, passando pela presença do futebol português além-fronteiras, teremos de tudo. Com a chancela de rigor, isenção e qualidade duvidosa a que o Impróprio para Cardíacos já habituou os seus 16 leitores, claro.



Cheguei a Tripoli e à minha espera no aeroporto estava um mar de populares e dezenas de jornalistas. Tanta euforia e tanta gente de bigode junta a urrar de alegria fez-me lembrar a chegada à Portela do ponta-de-lança norueguês Karadas. Procurei em vão pelo Barbas e Jorge Máximo.
Pela recepção, acreditei que a venda do Impróprio aos magnatas líbios do petróleo estava no bom caminho e não deixei de ficar surpreendido com o facto de um simples blogue sobre o futebol lusitano ter-se tornado num assunto de dimensão nacional naquela ex-colónia italiana.
Com a protecção dos agentes da autoridade entrei para o banco traseiro de uma vetusta limusine soviética, contemporânea de Nikita Krutschev (não, não era central do Lokomotiv de Moscovo…) que arrancou a fundo até um dos poucos hoteis de cinco estrelas da cidade. Escassos minutos depois estava sentado numa enorme sala de reuniões com mais de quinze pares de olhos ameaçadoramente apontados para mim. O gorduroso empresário arménio que intermediava o negócio ia traduzindo o que se dizia, segredando-me ao ouvido que tudo estava bem encaminhado e só faltava pôr o preto no branco. Daí a minutos estaria arabescamente rico, garantia-me.
Assinei onde me mandaram.
Depois, os acontecimentos precipitaram-se. Forçaram-me a vestir uma camisola de um clube que nunca tinha visto, com o número 7 nas costas. Logo a seguir abriram-se as portas da sala e irromperam os fotógrafos que durante largos minutos me fuzilaram com os seus flashes. O empresário escapuliu-se no meio da confusão. Voltaram a sentar-me na limusine e conduziram-me em alta velocidade até um enorme estádio, cinzento e de aspecto inacabado como um que existe na freguesia de São Domingos de Benfica. Corri por túneis e escadas até que cheguei a um balneário onde um treinador bigodudo me apresentou a um plantel igualmente bigodudo. Os Chalanas, Álvaros, Velosos e Pietras do magrebe receberam-me com desconfiança. Cada vez mais baralhado e assustado, subi com a equipa as escadas de acesso ao relvado. Uma multidão de 80.000 pessoas explodiu de alegria, gritando a plenos pulmões “Maldito! Maldito!”.
Já não havia margem para dúvidas. Confirmavam-se os meus piores receios. Fora vítima de um empresário trapaceiro, tal como os gestores da SAD benfiquista costumam ser. O bloguista lusitano tinha sido vendido como futebolista a um clube de futebol líbio, como são vendidas engenheiras electrotécnicas ucranianas a casas de passe portuenses.
O treinador bigodudo apontou lá para a frente, indicando-me a posição de ponta de lança. Não tive outro remédio senão acatar as ordens e posicionar-me onde me mandou. O resto, para quem já me viu a jogar futebol, não é novidade. Em apenas 15 minutos consegui bater o record até então na posse de Kikin Fonseca (e perseguido estoicamente por Djaló) de remates em rosca, falhanços de baliza aberta, cabeçadas ao lado e tropeções na bola.
Ao contrário do público lusitano, os líbios fervem em pouca água. Por isso, rapidamente teve início um ensurdecedor coro de assobios, que num ápice resvalou para um concurso de arremesso de toda a sorte de imundícies: cuspo, excrementos, aves mortas, cromos do Luís Filipe e títulos da Operação Coração. Mas o pior ainda estava para vir. Enquanto me encaminhava para a linha lateral agradecendo a Alá, Deus, Buda e ao Mago Alexandrino a substituição, 80.000 gargantas começaram a urrar em coro o pior insulto conhecido na língua árabe:

“Nuno Gomes! Nuno Gomes! Nuno Gomes!”

Que gozem com as minhas qualidades futebolísticas ainda vai, que me atinjam com lixo tudo bem, agora pôr em causa a minha masculinidade é que já me parece demais. Enganado, sem um dinar no bolso e perseguido pelo público enfurecido, escapei-me para o deserto.

(continua)

10 comentários:

Anônimo disse...

O que é que te deram no deserto? Foi peyote? Alguma coisa foi...

Anônimo disse...

Caro Maldito,

Estou ansioso pelo próximo capitulo, estou certo que vais relatar a recepção por parte dos teus colegas no balneário! Acho que deves ter tido uma praxe como mandam A regras (do vosso amigo arquitecto).
Sim, porque o N Gomes não ficou assim porque queria, ali à coisa e da grossa.

Anônimo disse...

Bolas, não via um episódio tão empolgante desde a chegada daquele defesa ucraniano ao Benfica há uns anos atrás! Luzhny ou lá como se chamava o rapaz. Chegou, treinou, desapareceu e de repente jogava no Arsenal...

Anônimo disse...

é tipo o Rijkaard no Sportén...

Anônimo disse...

Afinal perderam de proposito, como o Porto com o Fatima... Mas foi dificil, nao e que o fdp do arbitro teimava em tornar esta derrota mais dificil...

Anônimo disse...

Na foto da capa do jornal "O Jogo", de hoje, dia 1 de Novembro de 2007, fica a questão:
Onde é que o jogador do Vit. Setúbal tem a mão? Só faltava o jogador do Benfica estar com o equipamento cor-de-rosa...

um abraço

Anônimo disse...

desagradável isto de ter que trabalhar nos feriados. esperava ver aqui os comentários dos nossos amigos benfiquistas a propósito daquela espectacular assistência do Zorro ou do golo após mais uma grande execução do homem do apito..
saudações leoninas

Anônimo disse...

Afinal, Milagre ontem só mesmo o penalty contra o setúbal. De resto, tudo normal. Aos benfiquistas que durante uma semana pensaram que valiam alguma coisa, e em especial ao Homem da Luz, fica a velha máxima popular: "Pela boca morre o peixe".
Haverá fraldas para a incontinência verbal?

Anônimo disse...

Grandemestre disse...
HELLO..... HELLLLLLLLLLOOOOOOOOOOO
Está aí alguém????????? HELLO.....
Não oiço nada! Que bem soam o silêncio.

P.S 7 MALDITO, volta isto não é a mesma coisa sem ti!

Anônimo disse...

Para q é que queres o 7 Maldito, Grandemestre? Para vir aqui avacalhar ainda mais com o teu Benfica? O gajo não bate em mortos, pá. Ahahahah!